Equilíbrios ou desequilíbrios?

M.ª João Vieira Pinto

Directora de Redacção Marketeer

Quando percebemos que estamos numa época a duas velocidades. Em que corremos o dia inteiro, mas procuramos respirar devagar. Em que trabalhamos como se não houvesse amanhã, mas sonhamos com refúgios para desacelerar. Em que vivemos ligados, mas tiramos todas as notificações para momentos só nossos.

Em que nos descabelamos por um Black Friday, por todas as compras da estação, o que queremos, o que julgamos querer, o que nem sabíamos que queríamos. Mas desejamos espaços com espaço, lugares sustentáveis, acabar com o plástico e com tudo o resto que está a mais!

Ou em que sonhamos com estrelas Michelin, mas depois regressamos às tascas.

Vivemos como nunca a dois ritmos e duas velocidades. Duas vontades e quereres. Com vontade de estar, ter, fazer e partilhar, e por vezes sem noção de sentir.

Aplaudimos robots, falamos com chats e bots e não pensamos que na equação do mercado de trabalho já são um de nós. E que vão ser mais ainda. É claro que agradecemos que a tecnologia nos facilite a vida e o trabalho, nos traga e nos leve ao Mundo. Só que não percebemos o efeito real dessa tecnologia e do que está para vir.

É nestas duas distâncias que também as marcas se organizam (ou tentam organizar). Elas, e as companhias que as criam.

Nunca como hoje houve tantas propostas de wellbeeing, produtos sustentáveis, serviços e tendências eco, restaurantes green, hotéis anti-aging e com programas de detox. Que os consumidores – ou todos nós – aplaudem e agarram. Mesmo que quando lá cheguem, a esses hotéis, restaurantes ou spas, comecem por pedir… a senha de Wi-Fi. Porque nunca houve, também, tanta ânsia de estar on. De não ficar de fora.

No meio destas exigências e dualismos, claro que há empresas mais perdidas que outras. Larry Fink, CEO da Blackrock (fundo que detém participações em empresas-chave), assinou recentemente um manifesto – que me fizeram chegar – onde questiona o (des)equilíbrio entre o “Purpose & profit”. E onde apela a centenas de companhias, entre uma Apple, Pepsi ou Walmart, que olhem para as mudanças se querem manter-se, a prazo.

E quanto a nós? Continuaremos nesse (des)equilíbrio, à procura do equilíbrio?

Esta é, também, a última edição de 2019 da revista Marketeer. À capa chamámos alguns casos de inovação social, de empresas e projectos que querem fazer diferente e marcar a diferença. A própria capa tem, de resto, assinatura de artista de um desses mesmos projectos, o Manicómio.

Boas leituras, Bom Natal e que em 2020 continuemos a fazer e a estar ainda melhor.

Editorial publicado na revista Marketeer n.º 281 de Dezembro de 2019.

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