Empresas “digital first”: o que são e como se devem encarar
Por Sandra Alvarez, Managing director da PHD
O que significa ser uma empresa “digital first”? Com a pandemia, a transformação digital começou a ser uma realidade na maioria das organizações. No entanto, este conceito é algo relativamente novo, pelo que é importante entendê-lo na sua plenitude.
Uma empresa “digital first” é aquela que explora todas as oportunidades oferecidas pelo ambiente online, quer seja na automatização dos processos de trabalho, quer seja na capacitação dos colaboradores com ferramentas digitais ou até mesmo através de novos serviços que facilitam a vida dos consumidores. Há quem chame a esta nova forma de agir um “renascer digital”.
E a verdade é que, actualmente, e enaltecido pela Covid-19, as empresas, que não estiverem dispostas a entregar serviços digitais e experiências que não possam ser acedidas online ou remotamente, terão a vida muito dificultada e, com certeza, muito menos clientes do que aqueles que poderiam ter.
À medida que o digital foi ganhando espaço, começaram a surgir questões mais profundas, ligadas ao trabalho, ou melhor, ao trabalho remoto. Uma empresa considerada “digital first” é aquela que deverá estar totalmente habilitada para ter os seus colaboradores em teletrabalho, porque esse é o futuro de qualquer organização, mesmo daquelas que tiveram que se adaptar à digitalização apressada.
Mas quando se fala em adaptação ao trabalho remoto não é apenas a implementação de processos facilitadores, como criar uma conta profissional no Zoom ou abrir uma plataforma Teams para realizar reuniões. A adaptação ao trabalho remoto em ambiente digital, sobretudo se de uma empresa que é “digital first” se tratar, é muito mais complexa.
O conceito “digital first” é recente para muitas empresas, que é natural que empresas com princípios “não-digitais” possam ter dificuldade em perceber os meandros deste mundo. Em primeiro lugar, é importante entender que é totalmente possível para empresas que funcionam, à partida, em ambiente offline e no terreno, fazerem a transição para o digital. 2020 está, aliás, repleto desses exemplos. Empresas que nunca tinham sentido necessidade de estar online viram-se obrigadas a criar lojas virtuais, aplicações para encomendas ou até páginas de redes sociais, para promover os produtos.
Há quem pense que tornar-se numa organização “digital-first” é fazer um site intuitivo ou ter uma aplicação muito cool e cheia de criatividade. Mas não, fazer o shift para o digital implica mais do que uma mudança de software, é mais uma mudança de mentalidade. No fundo, trata-se de uma total introspecção sobre o que deve ser o core business da empresa e neste momento devem ser reconsideradas e pensadas todas as ferramentas usadas e processos adoptados até então, bem como a formação das pessoas, para se, fizer sentido, haver a tal mudança.
O conceito “digital first” só se aplica quando, de facto, as empresas têm uma visão totalmente digital a todos os níveis e aplicada aos vários targets de uma organização. E não se trata de ter todas as ferramentas digitais, mas sim de ter as certas. Costuma dizer-se que pequenos gestos podem fazer a diferença e, neste caso, é exactamente essa a premissa. Pequenas melhorias, com os recursos certos, podem ter um grande impacto no retorno de uma empresa e na percepção dos clientes.
Em suma, uma empresa que não é “digital first” pode tornar-se numa, através de uma mudança de mentalidade e de, realmente, observar à sua volta o que pode ser feito para melhorar a experiência de utilização dos consumidores, ou seja, ser digital first para dentro e para fora.
Artigo publicado na Revista Marketeer n.º 299 de Junho de 2021