Em vez do meio, defenda-se a qualidade!
M.ª João Vieira Pinto
Directora de Redacção Marketeer
Editorial publicado na edição de Maio de 2014 da revista Marketeer
Pedro J. Ramírez fundou o “El Mundo” em 1989. Em Janeiro foi afastado da direcção do jornal, por denunciar escândalos no PP espanhol, mas não deixou de estar presente e de o acompanhar. Há umas semanas esteve em Lisboa e trouxe consigo números que, não sendo novos, merecem atenção: em 2010 o investimento em jornais nos EUA recuou para níveis de 1950; em Espanha, o investimento em 2007 foi de 2.100 milhões de euros, tendo descido para 650 mil euros o ano passado.
O fundador do “El Mundo” não é um pessimista e, por isso, acredita ser possível construir um novo modelo de negócio nos tablets e smartphones, com conteúdos relevantes, de qualidade e pagos. Ou não tivesse Pedro J. Ramírez sido o responsável pelo lançamento, em Outubro de 2013, do vespertino digital “El Mundo de la Tarde” para «preencher um vazio na imprensa espanhola», como anunciou.
Em Portugal, o cenário acompanha de perto a tendência. Nos últimos resultados dos Grupos Cofina e Impresa é visível o contributo de produtos de marketing alternativo e de outros proveitos para os resultados, a compensar o decréscimo nas receitas convencionais.
Será então por caminhos alternativos, ou paralelos, que se fará o futuro da imprensa? Em Maio, chegaram ao mercado português não um, mas dois projectos editoriais digitais. O primeiro, o “Expresso Diário”, inserido no Grupo Impresa, com uma redacção de há anos (mas reforçada, nomeadamente, na direcção) e disponível por subscrição paga. O segundo, o “Observador”, por iniciativa de um novo grupo, com uma redacção desenhada e formatada para o efeito e conteúdos gratuitos.
Pedro J. Ramírez é peremptório: «Em vez de nos preocuparmos com a quebra dos jornais e a defesa de edições impressas, devemos é preocuparmo-nos em manter um jornalismo de qualidade», que aguente e conquiste leitores.
O suporte, esse será só o meio! Será esta a tormenta perfeita, conforme a rotula Pedro J. Ramírez? O tsunami dentro do terramoto?
Estarão os grupos de media em Portugal a saber escolher a sua tábua para galgar a onda do tsunami e chegarem salvos à próxima praia? Porque a equação ruinosa de transferência de conteúdos para o online tende a ser cada vez mais ténue!