E se hoje o trabalho fosse um jogo?
Por Luísa Carvalho, Strategic team leader da Boost Your Digital
Já pensaram há quanto tempo estão os jogos presentes na nossa vida? Desde muito pequenos que nos acompanham, seja para nos desenvolvermos, por puro divertimento ou mesmo para competirmos. Entretanto, vamos crescendo e os nossos interesses vão-se transformando, mas existe algo intrínseco ao ser humano que se mantém ao longo do tempo: a fantástica sensação de participarmos num jogo e sermos vencedores.
A nível organizacional, rapidamente se percebeu que este compromisso com o entretenimento e os jogos poderia ser desenvolvido numa perspectiva estratégica. Surge assim o conceito de gamificação (ou gamification para os users de videogames como o Minecraft), que introduz os jogos enquanto uma técnica de marketing para aumentar a interacção e a lealdade dos utilizadores com a organização e com a marca. Esta estratégia traz inúmeros benefícios, como o aumento da produtividade, motivação e foco, incentivando a criatividade e a interacção, enquanto desenvolve competências e ainda contribuiu para uma relação positiva com os colaboradores e consumidores.
Olhando para números, a indústria de jogos online tem um grande peso. Em 2020, o newzoo game report previu que em 2021 existiriam 2.8 mil milhões de jogadores só no telemóvel em todo o mundo. Isto representa 73,7% do total de telemóveis existentes no mundo e a previsão para os próximos anos é de continuar a crescer.
Existem várias formas de materializar este conceito. Seja através de um sistema de conquista e recompensa, de pontos, de tabelas de classificação ou na construção de uma jornada, podemos adaptar esta estratégia a vários targets e sectores. Vejamos três exemplos.
No sector da educação, o Duolingo é um excelente exemplo. Em boa verdade, a aquisição de conhecimentos já não tem de estar associada a longas formações presenciais. Se aliarmos o conhecimento a uma estratégia de premiação e níveis podemos conseguir resultados de aprendizagem fora do comum. Nesta aplicação, programada para ensinar línguas, vamos ganhando três tipos de pontos diferentes à medida que vamos completando as diferentes lições, testes e actividades diárias. Com o acumular dos pontos, ganhamos a possibilidade de desbloquear novas secções, comprar diferentes visuais para o nosso avatar, entre outros.
Relacionado com a produtividade, a aplicação Forest tem sido um sucesso. Neste sector, a estratégia geralmente está assente na utilização da gamificação para nos ajudar a criar uma rotina que torne a nossa vida mais eficiente. No caso da Forest, o principal objectivo é mantermo-nos concentrados e impedir que o telemóvel seja uma distracção. A dinâmica é simples: sempre que estivermos preparados para iniciar um período de concentração, basta iniciarmos o cronómetro da aplicação e começamos a fazer crescer uma árvore. Se sairmos da aplicação antes de tempo para usar o telemovel, a árvore começará a morrer. Se formos bem-sucedidos, ficamos com uma árvore crescida e ganhamos pontos para podermos comprar novas espécies e construir uma floresta.
No mundo do desporto, temos a aplicação da Fitbit. A famosa marca de smartwatches desportivos tem também uma estratégia de gamificação na sua aplicação cujo principal objectivo é de monitorizar e motivar as pessoas a serem mais saudáveis, ao transformar o fitness num jogo. Para além de podermos competir com os nossos amigos, à medida que vamos fazendo exercício e cumprindo metas vamos ganhando diferentes distintivos que nos motivam a fazer mais exercício e a superarmos as nossas metas.
Todos estes casos têm sido um sucesso e referência nos respectivos mercados. No entanto, no final do dia, não basta ter apenas uma estratégia de jogo/recompensa bem delineada. O sucesso da gamificação está também aliado a uma experiência simples, fluída, clara e intuitiva do utilizador. Para isto, é importante considerar vários factores como o desenho e programação da aplicação, a comunicação, o posicionamento e, claro, a análise periódica dos resultados da estratégia, de forma a evoluirmos e irmos ao encontro daquilo que o utilizador procura. Para além disso, caminhamos para um mundo onde as soluções desenhadas à medida de cada um são cada vez mais valorizadas e a personalização tem um grande impacto na relação do utilizador com o negócio.
Acredito que pensar e delinear uma estratégia de gamificação é vantajoso e benéfico, mas, acima de tudo, quando bem executada, trará um retorno emocional com o utilizador, difícil de alcançar de outra forma. Por isso, não hesitem em definir a vossa estratégia de gamificação! Está na hora de darem asas à vossa veia mais divertida, enquanto elevam os vossos produtos e serviços de uma forma interactiva. Vamos a jogo?