«É necessária maior representatividade e igualdade de oportunidades para mulheres na realização»

A croata Renata Lučić juntou-se à lista de realizadores disponíveis na Krypton. A profissional formou-se em direcção de cinema e TV na Academia de Artes Dramáticas de Zagreb, realizou várias curtas-metragens, documentários e videoclipes. Actualmente está a trabalhar na sua curta-metragem “2000” e no documentário “A Year Of Endless Days”. Renata Lučić é também realizadora de filmes publicitários.

João Vilela, sócio e director-geral da Krypton, garante que a contratação de Renata é uma mais-valia no menu de realizadores disponíveis. «Vem acrescentar novas visões e experiências, tendo no seu portefólio trabalhos que nos fazem acreditar que as suas ideias e a forma como faz storytelling vão ser muito bem aceites no mercado português.» O profissional sublinha que Renata é «uma realizadora extraordinária que tem ainda muito para mostrar».

A produtora está, de momento, a fazer chegar o seu portefólio aos clientes e a promover o seu trabalho. Quer colocá-la em acção o mais brevemente possível e o director-geral acredita que isso vai acontecer com alguma rapidez.

Ainda que deixe claro que, neste caso, a visão que importa é a da Renata, não somente por ser mulher, João Vilela considera ser importante desbravar-se um caminho no sentido de uma maior representatividade e igualdade de oportunidades para mulheres no sector da realização, seja publicidade ou cinema. «Orgulho-me de poder dizer que a Krypton é uma empresa feita de muitas mulheres. Aliás, temos mais mulheres que homens na equipa, nomeadamente em cargos de direcção. A diversidade, seja de género, raça, estilo, idade, ou qualquer outro aspecto, é sempre algo importantíssimo numa área como a da criatividade», sublinha. Até porque acredita que uma visão feminina pode aportar elementos diferentes em determinados projectos.

Apesar de considerar ainda não ser o ideal, João Vilela salienta que já começa a haver mais realização no feminino, até pelos trabalhos premiados que vão surgindo e que fazem acreditar que esta não é de todo uma profissão de homens. «São necessárias mais oportunidades por parte das produtoras e mais aceitação por parte dos clientes. É fundamental todos darmos passos largos nesse sentido e fazer crescer o sector com mais igualdade e diversidade.» No final quem ganha é a criatividade e isso é que é o importante.

Acompanhe a conversa com a realizadora Renata Lučić:

O que a faz acreditar que Portugal é mais aberto a realizadoras mulheres do que a Croácia?

O facto de eu ter sido convidada pela Krypton para ser realizadora da produtora mostra que há espaço e desejo de mulheres realizadoras em Portugal. Portugal é um dos países desenvolvidos e ocidentais onde muitas fronteiras foram já cruzadas e é muito mais aberto do que os países de leste. Acredito que essa abertura e aceitação estão a chegar como uma onda à minha terra natal. Acredito que este não é apenas um desejo meu, mas que, em breve, essa será uma mudança perceptível.

Estamos neste ponto porque as pessoas tendem a recrutar à sua imagem e semelhança – a maioria dos realizadores são homens e contratam homens. A realização não foi um papel onde as mulheres viram outras mulheres que lhes possam servir de modelo. Por outras palavras, como a realização tem sido quase exclusivamente um domínio masculino, muitas mulheres só estão agora a despertar para a realidade de que realizar é uma possibilidade para elas. Quanto mais mulheres realizadoras virmos chegar, maior será o incentivo para outras mulheres acreditarem que também podem desempenhar essas funções.

Que diferenças pode uma mulher trazer para um trabalho de comunicação comercial?

As mulheres são muito mais gentis e eu diria até que as suas habilidades de comunicação são melhores. Não quero fazer qualquer tipo de generalização sobre homens e mulheres porque difere de pessoa para pessoa. Mas, em geral, nunca foi dada uma verdadeira oportunidade às mulheres no mundo da publicidade e da indústria cinematográfica. E estou certa de que, lado a lado com os homens, podem ter a mesma prestação que eles quando se trata de comunicação, criatividade e habilidade.

A nível global, sente que já existe uma valorização das mulheres como realizadoras?

O número de realizadoras a trabalhar na indústria global de cinema e publicidade ainda é absurdamente baixo. Acho que os números dizem muito. São apenas 12% dos realizadores em todo o mundo. E quando olhamos para os festivais, são principalmente homens os premiados. Apenas duas realizadoras já ganharam a Palma de Ouro. Apenas duas mulheres ganharam o Oscar de melhor realizador. Infelizmente, estes são os factos e não é por falta de mulheres talentosas na indústria. É necessária uma mudança cultural em todos os níveis. Precisamos que grandes eventos de prémios como Cannes, Berlim, entre outros, reconheçam mais realizadoras que poderão encorajar mulheres jovens a entrar nesta indústria. Mas também precisamos que a cultura seja mais acolhedora para as que já existem.

Quais as vantagens, como realizadora, de fazer publicidade e formatos mais longos, como cinema?

Cada anúncio é como uma pequena história ou um pequeno filme. E é sempre um desafio dizer algo interessante, bonito e significativo em poucos segundos. Não é fácil dizer algo em algumas imagens/frames, mas essa experiência ensina-nos como transmitir uma mensagem em geral e de certa forma prepara-nos para formatos maiores como filmes. Além disso, os anúncios são feitos com muito mais frequência do que os filmes e, na verdade, além da constante absorção e conhecimento, os anúncios mantêm os realizadores em forma. Desenvolvi muitas competências de comunicação a fazer anúncios: aprendi a lidar com um grande número de pessoas e a trabalhar em equipa, aprendi sobre os canais de comunicação entre clientes, agências, produtoras e como conseguir ter a autoridade que mantém todos envolvidos no projecto.

Alguns filmes da realizadora:

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