E a si sabe-lhe a Natal?
M.ª João Vieira Pinto
Directora de Redacção Marketeer
Foi esquizofrénico este ano de 2021. Numa vida a duas ou mais velocidades, a gestão aconteceu ao ritmo dos dias. A nossa, a das empresas, a das marcas. Talvez por isso não seja de estranhar que nunca, como agora, me partilhem tanto a falta de espírito natalício. Não foi um nem dois ou três amigos que me confessaram estar alheados da quadra. Como se os dias, lá está, fossem para levar ao colo mas sem rumo certo.
Talvez por isso, também, não seja de estranhar a ausência, este ano, de grandes campanhas de Natal. Daquelas de puxar à lágrima, sabe? Das que nos levam a parar para querer ver ou ouvir. Que nos fazem interromper tarefas ou partilhar comentários no sofá. Todos os anos, aqui na Marketeer, esperávamos por esta altura para eleger a melhor, a mais surpreendente, a que tinha o argumento ou imagem intocáveis, a de realização perfeita e a que nos envolvia a todos. Este ano não. Nem a Lotaria de Natal espanhola (El Gordo) nem o mítico John Lewis – que costumava merecer quase honras de grande filme ou temporada anual. Pois, nada!!
O que é que tudo isto nos traz, não sei bem… Mas sei que não será bom. O Natal sempre foi o melhor dos dois mundos. De reunir família à mesa, mas de compras desenfreadas e consumismo sem limites. Sempre foi de partilha, mas de enorme esquecimento dos mais frágeis. Sempre foi música, enfeites e luzes e um palco trágico – ou já se esqueceram quando aconteceu o último Tsunami? A 26 de Dezembro de 2004, precisamente…
Mas olhando para o lado meio cheio, a verdade é que esta altura é de mimo e colo, casa cheia e troca, cheiro a açúcar e doces, e uma imensidão de abraços. Se no estado em que estamos pouco disto nos apetece, então algo vai verdadeiramente mal e leva nome de outra pandemia. Que há cura, tem que haver. O remédio, esse não sei. Mas que chegue depressa, antes que o humanismo que ainda há em nós mais se afunde.
Editorial publicado na revista Marketeer n.º 305 de Dezembro de 2021