Dores de crescimento
Por Jorge Farromba, IT Project manager na TAP Air Portugal
Cresci a ouvir dizer o quão importante era ter um automóvel sólido e com boa chapa pela protecção extra que permitia!
Cresci a ouvir dizer que devemos ler e interpretar os sinais de trânsito e adaptar a nossa condução à estrada para depois actuar.
Cresci a fazer marcha atrás, colocando o braço direito no banco do condutor e a verificar por mim o melhor momento para recuar com a viatura.
Cresci, a comandar por mim, toda uma panóplia de interruptores dispersos sem nexo no automóvel – luzes, rádio, aquecimento ou arrefecimento.
Cresci a ter no volante e na minha capacidade de condução e experiência (o que na gíria se denomina por “kit de unhas”) a solução para soluções inusitadas ao volante, onde a minha perícia seria o bastante para controlar a viatura.
Aos dias de hoje, e com 53 anos, o mundo automóvel mudou. E mudou para melhor! Temos mais AE, mas continuamos a ter as mesmas estradas nacionais – um pouco melhores e ligeiramente mais largas, mas a industria automóvel trouxe-nos viaturas mais pesadas e mais largas incorporadas de tecnologia e de inovação.
Sabemos hoje que, mais importante que ter chapa indeformável, é vital que a energia se dissipe ao longo de todo o veículo e, por isso mesmo, absorva grande parte do impacto – mantendo uma célula de sobrevivência para os ocupantes.
Sabemos hoje que a tecnologia actual oferece sistemas autónomos de segurança activa que efectuam a leitura dos sinais de trânsito (e nos avisam), sistemas redundantes em caso de sinistro para prevenir acidentes, ou, em caso dos mesmos, para actuarem, tecnologia nos bancos e nos cintos de segurança que minimizam as consequências de um acidente, sistemas de apoio à condução (como o controlo de estabilidade, o sistema de anti-bloqueio das rodas – em andamento e em curva -; o aviso de ângulo morto, o sistema de deteção de possível embate na dianteira, com travagem autónoma do veículo pelo sistema informático; os sensores de estacionamento, câmaras, utilização de novas técnicas ao nível do User Experience e da Ergonomia, o aviso de colisão frontal, sistema de detecção de pedestres, aviso de saída da faixa de rodagem e posterior manutenção na mesma, sistema de detecção de veículos na traseira, cruise-control adaptativo ou activo.
Estamos hoje sem dúvida alguma melhor preparados para enfrentar o trânsito diário e, supostamente com menor número de acidentes, mesmo considerando um maior número de automóveis na estrada e condutores melhor preparados para circular na estrada.
Mas continuamos a ter demasiados acidentes. Entre muitas medidas, precisamos de começar por reduzir a idade média do automóvel português que circula na estrada – por força de um apoio ao abate dos mesmos e ao incentivo de novas viaturas com estas novas tecnologias, dissipadoras do acidente – tendo a consciência que tal medida tem um impacto fulcral na produtividade do cidadão (ausência de baixa pelo acidente, hospital, fisioterapia….) e nos custos para o Estado no sistema nacional de saúde e nos apoios que deixa de ser necessário dar ao cidadão em caso de baixa ou lesão.
Hoje, quando me sento na minha viatura – que até é recente e do que se denomina segmento premium – a mesma ainda não contém alguns destes sistemas preditivos de principalmente estas últimas inovações na segurança activa e, garanto-vos, quando a volto a conduzir após a maioria dos ensaio de viaturas onde já surgem incorporadas, sinto-me indubitavelmente mais seguro nestas últimas, mesmo que seja um utilitário, tal a percepção de segurança criada.