Doclisboa não cede a pressões para retirar filmes

Duas embaixadas terão pressionado o Doclisboa para retirar filmes do seu programa ou rever textos nos seus materiais. A informação é avançada pela organização do festival português, que garante não ceder, mantendo inalterada a agenda prevista para a edição deste ano, que arranca já no próximo dia 18.

“Navegar o Eufrates – Viajar no Tempo do Mundo” é o filme que estará a causar desconforto, segundo indica a Apordoc, que organiza o evento, não revelando quais as embaixadas que pediram a eliminação da película. Em comunicado enviado às redacções, a Apordoc sublinha não ter memória de algo do género já ter acontecido e afirma que vê a situação como um sinal preocupante.

“Vemos com extrema preocupação estas pressões, vindas (oficial e oficiosamente) de representantes internacionais aqui em Portugal. Isto revela, no nosso entender, que existe já a convicção de que um festival de cinema (ou, depreendemos nós, qualquer outro projecto cultural e artístico) está aberto a reposicionar o seu discurso ou a reconsiderar o seu programa devido a interesses políticos e geo-políticos externos”, indica a Apordoc, acrescentando que o Doclisboa é “inteiramente livre, autónomo na sua programação”.

No mesmo comunicado, a organização aproveita para convidar todas as embaixadas em Portugal, a par de instituições governamentais ou não, a comparecer nos debates públicos associados aos filmes exibidos pelo Doclisboa. Desta forma, poderão apresentar as suas críticas ou questões da forma mais correcta.

“Vivemos num país onde ainda é possível programar um festival de cinema que, com apoios públicos e privados, exerce a sua liberdade artística de forma plena. Sabemos bem quanto esta situação é ameaçada noutros países, cada vez mais. Lutaremos sempre para que em Portugal a criação artística seja sempre livre. Os realizadores, produtores, colegas e espectadores são os nossos companheiros e merecem o nosso respeito e integridade. O Doclisboa é um território de discussão e não de censura”, conclui a Apordoc.

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