Do fundo da minha caverna na pré-história

juditemotaUm destes dias dia alguém me disse (maldosamente) “quando tu começaste  a fazer anúncios não havia internet” e por muito que me custe admitir é a mais pura das verdades. Não havia internet nas agências, nem na casa de cada um de nós, e seguramente não nos nossos bolsos. Havia algures nos Estados Unidos e no CERN mas de facto ainda se estava a inventar a World Wide Web.

O difícil não é tanto admiti-lo é tentar lembrar-me de como era. De onde saíam as referências necessárias para ilustrar um conceito? As informações e a pesquisa na hora? Recortávamos revistas? Consultávamos enciclopédias?  Que atraso de vida… E só passaram uns anos. Mas o mundo roda cada vez mais depressa e eu, que até me achava muito actualizada com a tecnologia na palma da mão em forma de iphone ou MacBook, internet móvel, páginas nas redes sociais, nos microbloggings, conhecedora de plataformas digitais e da forma de usá-las para comunicar, tive há pouco tempo um reality check.

Fui assistir ao Offf, um congresso que reúne designers, músicos e criativos e que se define como um Festival de Cultura Pós Digital. O nome já é uma pista. De repente senti-me mesmo a viver no passado. Não só em termos pessoais mas profissionais. Ali não faz sentido que um designer não faça a sua própria programação, ou seja, crie o software necessário para desenvolver os seus conceitos. “Oh os programas que existem demoram muito tempo ou não têm resultados à altura do que procuramos.. não faz mal, escrevemos um código novo!” São engenheiros informáticos criativos ou criativos engenheiros? E como se isso não chegasse fazem também música, e falam tão à vontade de algoritmos como de compassos ou de arte. São arquitectos de luz ou publicitários? São analistas de dados ou artistas? São realizadores ou designers? E a resposta certa é: São tudo. É como se o Renascimento renascesse de uma forma tecnológica, futurista, sci-fi mas na maioria dos casos muito humanista. Os novos criativos dominam a tecnologia, criam-na até em alguns casos, mas esse domínio total serve apenas para desenvolverem diferentes formas de comunicação que nos aproximam mais uns dos outros, que aproximam áreas diferentes umas das outras, que nos permitem experiências sensoriais e cognitivas novas e muito compensadoras. Os novos criativos terão muito a agradecer à internet e à www porque lhes permitiu não ficarem fechados em caixinhas. Nem na caixinha da sua cultura, nem de uma única paixão, nem da técnica, nem da arte, nem da matemática, nem da estatística. E se a criatividade é estabelecer novas ligações entre conceitos conhecidos, aqui na minha caverna da pré-história descanso: a criatividade está salva!

Vejam à lupa:

www.jasonbruges.com

www.uva.co.uk

www.presstube.com

pentagram.com/en/partners/paula-scher.php

www.joshuadavis.com

www.d-kitchen.com

Ou se quiserem um caminho mais curto e completo consultem o site do Offf 09 com links para todos os oradores.

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