«Desconhecimento leva a fake news.» É preciso ensinar a avaliar as notícias
Maldade é uma das origens possíveis para as notícias falsas, também conhecidas como fake news, mas não é a única. Um dos grandes problemas será mesmo a falta de informação de qualidade, tal como notou Pedro Simas, investigador do IMM – Instituto de Medicina Molecular, na 15.ª Conferência Marketeer.
«Desconhecimento leva às fake news, as duas coisas estão relacionadas», afirmou o cientista no palco do Museu do Oriente, onde a conferência se realizou sem público mas com transmissão em directo através do portal SAPO. É por isso que Pedro Simas considera que ensinar as pessoas a diferenciar as notícias e a verificarem a veracidade das mesmas é da maior importância.
Numa conversa sob o mote “Fake, No Fake, Un Fake – A Saúde no centro do Fake”, com moderação de Ricardo Florêncio, CEO do Multipublicações Media Group, Pedro Simas deu o exemplo da imunidade de grupo. Em tempo de pandemia, esta tem sido uma expressão amplamente repetida e as informações divulgadas são, por vezes, contraditórias. De acordo com o cientistas, «a imunidade de grupo é um facto, é uma verdade», mas tem sido usada com conotações políticas que nada têm a ver com ciência.
O investigador do IMM sublinha ainda que a geração actual procura as respostas às suas perguntas no Google, o que acarreta alguns riscos. O controlo de qualidade da informação disponível já não é o mesmo: «Hoje, todos publicam. A informação é instantânea», conta Pedro Simas, pelo que urge ensinar as pessoas a procurar informação fidedigna e a filtrarem.
Nuno España, director de Marketing & Customer Management da Lusíadas Saúde, é da mesma opinião. Presente no mesmo debate, o responsável comenta que cerca de 40% das notícias sobre a COVID-19 correspondem a fake news. «Todos temos uma opinião, mas ter uma opinião sobre isto que não seja a certa pode ser perigoso», alerta, reiterando que acrescentar conteúdo só porque sim não faz sentido.
Como se combatem, então, as notícias falsas e a desinformação? No caso da Lusíadas Saúde, com transparência e coerência, de modo a garantir que o consumo de saúde não se altera e que as outras doenças também são tratadas. «Vamos entrar numa realidade em que, pelo medo, vamos assistir a pessoas a morrer que em circunstâncias normais não morreriam», vaticina.
Rui Minhós, director External Affairs da Tabaqueira, é outro adepto convicto da necessidade de procurar as fontes certas. Também no mundo do tabaco, a desinformação é um desafio e a solução passa pelo consumo de conteúdos credíveis.
«Todos vão ao Google para obter informação mas a informação científica deve ser comunicada através de fontes primárias», como revistas científicas onde os artigos publicados são submetidos à revisão por pares. É isso que a Tabaqueira faz: todos os resultados dos estudos clínicos e não clínicos são revistos e escrutinados pelas autoridades competentes.
Rui Minhós trabalha num sector que não pode fazer publicidade, pelo que se coloca a questão de como fazer passar a mensagem e garantir que a informação correcta chega aos consumidores. Segundo o profissional, apenas 7% dos fumadores consegue deixar de fumar, pelo que dar a conhecer propostas que não fazem tanto mal à saúde poderia ser benéfico para todos. Rui Minhós defende que devia ser possível informar os fumadores de novas opções menos arriscadas.
Ciente de que comercializa um produto na origem de mortes evitáveis, a Philip Morris International tem investido em investigação para encontrar alternativas menos nocivas. Ao longo deste processo de desenvolvimento científico, foram descobrindo novas técnicas que poderiam ser usadas em diferentes áreas da saúde: «É cada vez mais uma tecnológica que por enquanto vende cigarros», aponta o responsável da Tabaqueira.
No caso da Lusíadas Saúde, Nuno España explica que não podem estimular o consumo mas que podem comunicar. E são três os pilares da comunicação do grupo: literacia através de informação de qualidade, transparente e verdadeira; preocupação com a segurança; e disponibilidade, mostrando que os profissionais de saúde continuam disponíveis para ajudar a tratar outras doenças.
Vacinas são fake news?
A par de imunidade de grupo, também as vacinas têm estado na ordem do dia. São muitas as notícias, mas também as incertezas, dúvidas e incoerências. Pedro Simas garante que não são fake news e representam mesmo a solução rápida para a pandemia.
«Vem aí, é inequívoco», garante o cientista. Porém, houve muita pressão dos media, políticos e da sociedade, fazendo com que seja um tópico muito abordado, o que, por vezes, pode resultar em conteúdos menos rigorosos.
«Nós sabemos que a vacina vem aí porque já está fase 3 dos ensaios clínicos. Há seis meses não sabíamos isto, mas agora sim», explica o investigador do IMM, justificando a cautela das autoridades quando abordam o tema. Os timings podem ser muito difíceis de indicar numa fase inicial, dando origem a informações aparentemente contraditórias: «Os próprios cientistas têm dúvidas e é preciso esperar e confiar nas instituições.»
Segundo Pedro Simas, «a maneira de controlar as fake news é haver identificadas no Mundo instituições que sabemos que são o garante da confiança e qualidade».
3 conselhos em tempo de pandemia e desinformação
Pedro Simas
Como virologista, Pedro Simas não tem dúvidas dos conselhos a deixar: «Usem máscara para conseguirmos controlar esta segunda vaga. Confiem nas instituições e tenham tolerância para com as medidas que estão a ser tomadas. As vacinas vêm e há solução à vista.»
Rui Minhós
Sobre a indústria que representa, Rui Minhós frisa que a única forma de minimizar o risco do tabagismo é nunca fumar ou deixar de o fazer. Para quem continua, há alternativas e os consumidores devem procurar informação fidedigna.
Nuno España
Actuação assente em serenidade e rigor é o conselho de Nuno España. «Isto ainda vai demorar muito tempo», alerta o responsável e começam já a notar-se as consequências de ter o foco exclusivamente na COVID-19. Ir ao médico é crucial.
Texto de FIlipa Almeida