Um olhar sobre o futuro desafiante do sector segurador
Depois de vários anos de adaptação às necessidades de um mundo que, por intermédio da tecnologia, se tem modernizado a um ritmo cada vez mais acelerado, o sector segurador tem atravessado um período de franco crescimento. À medida que nos aproximamos do final do ano, perguntamo-nos qual ou quais são as perspectivas e grandes tendências para 2020?
O sector segurador está à beira de uma mudança profunda, e não é apenas ditada pela transformação digital. Os clientes são cada vez mais exigentes, estamos a assistir ao aparecimento de novos concorrentes, mais ágeis, e o futuro traduz-se num conjunto de desafios para o sector – sejam eles regulamentares, operacionais ou do próprio modelo de negócio.
As expectativas dos consumidores são cada vez mais influenciadas pela sua experiência noutros sectores, mais interactivas e personalizadas, como acontece, por exemplo, no retalho. A entrada de novos players no mercado, sejam eles insurtechs ou grandes tecnológicas, aumenta a pressão sobre as seguradoras existentes. Simultaneamente, avançar para um modelo de negócio mais orientado a serviços pode ser um desafio para as empresas tradicionais.
À medida que o mundo evolui, evoluem também as pessoas, os clientes. Nos tempos que correm, não é a tecnologia que é disruptiva, mas sim os consumidores. Cada consumidor é confrontado diariamente com uma quantidade imensurável de informação, soluções diferenciadoras nas mais diversas plataformas e sectores, tornando-o mais exigente. Surgem, portanto, novos perfis de clientes, que procuram serviços adaptados ao seu estilo de vida e ao seu negócio, ou que pretendem simplesmente comunicar com a sua seguradora exclusivamente online, de forma instantânea.
De acordo com um inquérito feito pela Deloitte e pelo Financial Times Remark a 200 CEO, CFO, CRO e CTO de grandes seguradoras na região da EMEA, 45% acredita que, depois de três anos em que o maior desafio do sector foi a regulação (ex. Solvência II), são as necessidades e as cada vez maiores expectativas dos clientes a assumir agora esse papel de destaque.
Esta alteração de paradigma coloca, ainda, entre as preocupações das seguradoras, a diversificação da sua oferta, passando o seu foco a estar mais em produtos de natureza preventiva, como possa ser um seguro contra um ciberataque, ao invés das tradicionais soluções que protegiam os seus clientes contra perdas ou danos causados por determinado tipo de acidentes e/ou incidentes.
A importância do aparecimento de novas soluções e ofertas adquire, assim, uma relevância tal que, segundo o mesmo inquérito, daqui a cinco anos, 33% do volume de negócio terá origem em produtos que não existem hoje em dia no mercado. Isto decorre, igualmente, do valor que hoje se atribui à informação e aos dados versus outros bens mais materiais e tangíveis.
A necessidade de diversificação da oferta obriga as seguradoras a actuar rapidamente e, nesse sentido, as alianças, seja com insurtechs, seja com startups mais ágeis ou especializadas, poderão ser um acelerador e impulsionador importante para angariar novos clientes e mercados.
Deste modo, nos próximos três anos, 52% dos C-Levels entrevistados pela Deloitte e pelo Financial Times Remark espera completar dois ou mais negócios de fusão e/ou aquisição, o que é indicativo de uma modificação sintomática do comportamento do mercado, passando de uma perspectiva de crescimento orgânico para uma de crescimento por via do estabelecimento de parcerias, criação de ecossistemas e adopção de modelos de crescimento mais cooperativos e menos tradicionais.
Esta mudança de mentalidade é particularmente importante se pensarmos que este sector, apesar dos esforços que tem vindo a fazer nos últimos quatro ou cinco anos, ainda se encontra atrás de muitos outros, o que significa que terá de se movimentar muito
mais rapidamente para que possa recuperar o tempo perdido.
A possibilidade de entrada das grandes empresas tecnológicas, como a Amazon, a Google ou a Apple, poderá ser o “combustível” suficiente para efectivar esta aceleração no sector segurador. No entanto, é preciso ter em atenção que uma transformação digital é muito mais complexa do que aparenta, uma vez que exige a mudança cultural da organização e uma estratégia holística para que possa decorrer com o menor risco possível. A tudo isto há que juntar a questão da regulação que, de acordo com a maioria dos inquiridos (51%) no estudo acima mencionado, é o principal desafio no momento de promover a disrupção digital deste mercado. Este é um campo que tem sofrido algumas alterações nos tempos recentes, mas que promete continuar a sofrer importantes desenvolvimentos num futuro próximo.
2020 poderá, em suma, ser um ano de novidades para o sector. Novas ofertas, novos clientes, novos modelos de negócio e novas abordagens ao mercado. Um ano com um potencial de crescimento muito relevante e que poderá abrir um horizonte de oportunidades sem precedentes e que há muito não assistíamos no sector.