Da saúde ao bem-estar

Por Jaime Martín, CEO da Lantern

Na indústria alimentar, existe uma abundância de estudos e rótulos que destacam tudo aquilo que nela é abordado: conveniência, saúde, nutrição, prazer, tecnologia ou sustentabilidade. Vemos muitos dos mesmos temas repetidos em todo o sector e discussões sobre as mesmas tendências na última década. A saúde é um foco especialmente comum, tanto que quase se tornou uma necessidade para as empresas que lançam novos produtos. No entanto, visto que temos falado sobre a mesma tendência que é o termo “saúde” na última década, chegou a altura de questionar: o conceito “saúde”, aplicado nos alimentos produzidos em massa, está a esgotar-se?

Nós, da Lantern, acreditamos que sim e que está na altura de mudar essa narrativa, acreditando que o conceito “bem-estar” veio para substituir a “saúde”. Quando falamos em “bem-estar”, falamos de uma ideia dinâmica que abrange muitos aspectos da vida de um consumidor, enquanto que a “saúde” é um conceito estático e binário: é-se saudável ou não. O criador do conceito “bem-
estar”, Halbert Dunn, define-o como o “processo activo de estar ciente e fazer escolhas que levam a resultados ideais em diferentes dimensões humanas: física, mental e espiritual”. Por estar relacionado com tantos aspectos da vida, o “bem-estar” é uma ideia transversal que se pode reflectir nos diferentes planos e acreditamos que esta será uma das maiores tendências do sector alimentar nos próximos anos.

O “bem-estar” já está a ganhar atenção dos consumidores. De acordo com uma pesquisa de mercado da Think with Google, o interesse do consumidor com o seu bem-estar deixou de ser uma preocupação sazonal. Em vez disso, os consumidores têm mostrado uma preocupação “activa” sobre este factor. Além disso, a pandemia pode ter ajudado a acelerar essa tendência global, à medida que as pessoas deram um passo atrás no seu dia-a-dia e se perguntaram o que realmente querem para as suas vidas e o que precisam de fazer para a tornar melhor.

O “bem-estar” oferece uma oportunidade distinta para a indústria dos alimentos e bebidas, dado que permite às marcas a criação de uma ligação bem mais profunda com o consumidor. Ao olhar para alimentos e bebidas sob a óptica do conceito de “bem-estar”, podemos expandir o conjunto de benefícios associados a um produto e considerar não apenas as necessidades físicas ou nutricionais do consumidor, mas também os seus estados de espírito, como o humor. Essa conexão mais profunda dá às marcas novas oportunidades fora das suas categorias actuais: empresas de alimentos e bebidas podem fazer parcerias com empresas de serviços relacionados e criar um ecossistema de bem-estar que lhes permite uma maior aproximação ao consumidor de uma forma mais significativa. Vejamos, por exemplo, a empresa de cosméticos Rituals, que posiciona os seus produtos não apenas como de alta qualidade e acessíveis, mas também como soluções capazes de mudar o humor através do
uso de fragrâncias exclusivas; procurando assim responder às necessidades específicas de cada um dos seus compradores.

Já existem alguns indícios dessa tendência de crescimento no mercado actual. Os consumidores estão cada vez mais atentos aos valores exibidos pelos produtos e marcas que compram e querem ter a certeza de que aquilo que compram está em sincronia com o seu estilo de vida e ideologia. Como resultado, algumas empresas estão a declarar os seus valores de forma muito mais clara, na tentativa de se conectarem com o consumidor.

A tendência crescente do bem-estar é especialmente evidente na categoria de Nutracêuticos, também ela em ascensão no mercado. Esta categoria oferece produtos elaborados para proporcionar benefícios psicológicos, como melhorias do humor, por meio do uso de suplementos e adaptógenos. Por exemplo, a PepsiCo lançou a bebida Driftwell, que contém suplementos projectados para ajudar os seus consumidores a dormir mais facilmente. Além disso, o tamanho e a força crescentes do mercado dos CBD (canabinoides) são outra indicação clara de que os consumidores estão a procurar produtos que possam ajudá-los a melhorar seu estado mental. Um exemplo mais inovador da tendência de melhoria do humor é a cervejaria Lagunitas, com sua linha Hi-Fi Hops, que oferece três cervejas com infusão de cannabis diferentes com níveis variados de CBD e THC.

A tendência do bem-estar veio para ficar e, à medida que os consumidores prestam mais atenção aos valores representados pelos produtos que compram, exigem cada vez mais produtos que melhoram não apenas a sua saúde, mas também outros aspectos das suas vidas. Acreditamos que essa tendência continuará a crescer e, como resultado, os produtos que melhoram o humor e os que se relacionam com o bem-estar geral vão tornar-se mais prevalentes num futuro bastante próximo. A sua empresa está preparada para enfrentar este desafio? Vamos enfrentá-lo juntos.

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