Da camisola poveira à loiça Bordallo Pinheiro. O que anda Tory Burch a copiar?

O Governo português anunciou hoje que pretende agir judicialmente de forma a defender as tradições portuguesas de utilização indevida. A decisão chega depois de ter sido tornado público que a designer norte-americana Tory Burch foi buscar inspiração à camisola poveira – de Póvoa de Varzim – para lançar um produto em nome próprio sem dar os devidos créditos ou sequer mencionar a origem da ideia.

Tory Burch já pediu desculpa nas redes sociais e garante que está a trabalhar com a autarquia de Póvoa de Varzim para reconhecer a tradição e para que todos os seus clientes saibam aquilo que estão a comprar.

We sincerely apologize to the people of Portugal — it was brought to our attention that we mis-attributed a Spring 2021…

Publicado por Tory Burch em Quinta-feira, 25 de março de 2021

«Após ter tomado conhecimento das suspeitas de uma eventual apropriação abusiva de um importante património imaterial português – a camisola poveira – o Governo está determinado em agir em conformidade na protecção deste Saber Fazer português», indica o Ministério da Cultura em comunicado.

Inicialmente, a camisola era apresentada como sento de inspiração mexicana, mas depressa surgiram partilhas e comentários por parte de internautas que reconheceram o trabalho tipicamente poveiro. No entanto, a camisola poveira parece não ser a única arte portuguesa a inspirar a designer.

Também a Bordallo Pinheiro reconhece nas colecções de louça de Tory Burch os traços que tornaram a marca portuguesa conhecida – nomeadamente as folhas de couve transformadas em travessas ou tigelas. Em ambos os casos, os preços cobrados pela estilista norte-americana são significativamente superiores ao que seria necessário pagar pelo original: a camisola está à venda por 695 euros, ao passo que o serviço “Lettuce” começa nos 150 euros.

“Cá para nós há coisas que valem bem mais que o preço. O apreço pela criatividade, a tradição, a originalidade, a história. Traços que definem quem nós somos enquanto marca e enquanto comunidade. Por isso a nossa recompensa maior é a vossa preferência, lealdade e reconhecimento do que é autêntico. E o mesmo vale para tudo o que é nosso. Podem tirar a tradição do poveiro, mas nunca tirarão o poveiro da tradição!”, escreve a Bordallo Pinheiro no seu Instagram.

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