CVR Dão: Promover o enoturismo no Dão

Em 1908, tornou-se a primeira região de vinhos não licorosos a ser demarcada e regulamentada em Portugal. Nos anos mais recentes, em especial a partir de meados dos anos 90, a Região Demarcada do Dão entrou numa fase de notável desenvolvimento, impulsionada por investimentos de pequenos vitivinicultores, que adoptaram técnicas mais modernas e sustentáveis.

O enoturismo tem sido um dos motores do crescimento da região, situada no centro de Portugal. Um segmento que foi dinamizado, em grande parte, pela criação da Rota dos Vinhos do Dão, que tem contribuído para dar a conhecer o que de melhor a região tem para oferecer.

Hoje, a Rota dos Vinhos do Dão é constituída por mais de 40 aderentes e está organizada em cinco roteiros: Terras de Viseu, Silgueiros e Senhorim (Roteiro 1); Terras de Azurara e Castendo (Roteiro 2); Terras de Besteiros (Roteiro 3); Terras de Alva (Roteiro 4); Terras de Serra da Estrela (Roteiro 5). Estes roteiros abrangem uma diversidade de paisagens, casas senhoriais, adegas ancestrais e modernas, vilas históricas e rios de águas límpidas. As vinhas da região estão frequentemente escondidas por pinheiros, giestas, silvados e muros de pedra, criando um cenário pitoresco e único.

Em entrevista à Marketeer, Arlindo Cunha, presidente da Comissão Vitivinícola Regional (CVR) do Dão – a entidade actualmente responsável pela rota –, aborda a importância deste projecto para a região, não só em termos financeiros, mas também sociais e na preservação e valorização do património do Dão, bem como na promoção dos vinhos da região.

A Rota dos Vinhos do Dão surgiu a 20 de Setembro de 1995. Em que contexto foi criada e com que objectivos?

Na verdade, existiu à época uma iniciativa nesse sentido, mas que não teve continuidade. A Rota dos Vinhos do Dão só veio a ser implementada a partir de 2015 e surgiu devido ao crescente interesse pelo enoturismo em Portugal, através de um protocolo celebrado entre várias entidades, incluindo a Secretaria de Estado do Turismo, a Comissão Vitivinícola Regional do Dão, as regiões de turismo Dão Lafões e da Serra da Estrela, e a Associação dos Produtores de Vinho do Dão.

Entre os objectivos iniciais, destacamos o estreitar a ligação entre o sector turístico e a cultura vitivinícola da região, promover o enoturismo como factor de inovação no negócio dos vinhos do Dão, aproveitar o potencial turístico da região, valorizar o património cultural e paisagístico do Dão, além de fomentar o desenvolvimento económico local através do turismo vitivinícola.

Que momentos-chave destacaria na promoção da região como destino enoturístico?

São vários os momentos, mas gostaria de destacar que, após a criação da Rota dos Vinhos do Dão, foi muito importante contar com novos aderentes ao longo do tempo, pois só com uma maior oferta de experiências de enoturismo conseguimos alcançar os merecidos resultados para a nossa região.

Destaco também outros dois pontos essenciais: o primeiro foi a inauguração do Welcome Center no Solar do Vinho do Dão, que serve como ponto de partida para a rota e que constitui um elo de ligação entre os turistas e os agentes económicos. Um outro ponto essencial foi a criação da app Rota dos Vinhos do Dão, disponível para iOS e Android, tratando-se de uma ferramenta essencial na promoção do nosso enoturismo.

A que target se destina a Rota dos Vinhos do Dão?

A rota destina-se a diversos perfis de visitantes, desde enoturistas experientes e apreciadores de vinho, turistas interessados em cultura e gastronomia, visitantes nacionais e internacionais em busca de experiências autênticas, grupos de amigos e casais, famílias interessadas em turismo rural e actividades ao ar livre, até profissionais do sector vitivinícola em visitas técnicas. Pretendemos que a rota seja um elemento de comunicação dos Vinhos do Dão e do seu território.

Actualmente, são cinco os roteiros promovidos pela CVR do Dão. Em que consistem e como se distinguem?

Devido a factores geográficos, culturais, históricos, entre outros, são roteiros que oferecem diferentes experiências a cada visitante. Além da já garantida prova de vinhos, os nossos aderentes têm vindo a desenvolver novas actividades ligadas à gastronomia, actividades desportivas, activações culturais, workshops, entre outras. Felizmente, continua a haver interesse de vários agentes económicos em integrarem a Rota do Vinhos do Dão, pelo que iremos contar com mais opções, novas experiências e oportunidades de dar a conhecer o nosso território e as nossas marcas.

Os cinco circuitos reflectem a diversidade da nossa região, abrangendo diferentes paisagens, casas senhoriais, adegas ancestrais e modernas, vilas históricas e rios, sendo transversal a todas elas o bem-receber tão característico do nosso território.

Que novidades serão lançadas em 2025?

Pretendemos lançar uma campanha de comunicação que promova a Rota dos Vinhos do Dão e conseguirmos assim contar com mais visitantes nacionais e internacionais. Queremos reforçar as campanhas digitais que canalizem a escolha do turista em visitar a nossa região e, por consequência, o nosso País, bem como continuar a trabalhar com qualidade para a promoção da nossa rota.

Qual o perfil de visitantes da Rota dos Vinhos do Dão? E qual o top de nacionalidades?

O perfil dos visitantes da Rota dos Vinhos do Dão é diversificado, onde temos pessoas com um conhecimento mais básico sobre vinhos, que demonstram curiosidade em aprofundar o tema, além de interesse em explorar a cultura e a história da região do Dão, como também temos pessoas com conhecimentos mais avançados nesta área e que procuram experiências mais específicas. O tipo de público que temos no nosso Welcome Center costuma ser formado por casais, abrangendo uma faixa etária que vai dos 25 aos 65 anos, sendo geralmente apreciadores de experiências enoturísticas e culturais.

No que diz respeito às nacionalidades mais frequentes, os visitantes portugueses lideram as visitas, seguidos por americanos, australianos e franceses, indicando uma forte atracção, tanto do público local quanto de mercados internacionais interessados na autenticidade e qualidade dos vinhos do Dão.

Como é que a CVR do Dão encara o desenvolvimento do enoturismo da região? E existe alguma relação entre o desenvolvimento deste segmento e a venda de vinhos?

O bom enoturismo, ao promover a marca e os produtos, leva naturalmente ao reforço da venda de vinho. No entanto, o enoturismo não deve ser visto como um canal de venda de vinhos per se. É essa sensibilidade que verificamos que existe cada vez mais nos nossos agentes económicos, pois estão atentos a novas tendências e que ofertas de qualidade podem garantir para quem os visita, onde naturalmente o vinho está presente, mas não pode ser visto como o foco exclusivo da experiência. Caso contrário, ao pensarmos exclusivamente assim, poderemos estar a excluir, por exemplo, um membro de um casal ou de uma família que não aprecia vinho. Daí termos de ter esse cuidado, o de proporcionar experiências cada vez mais diversificadas dentro do enoturismo, e onde, nalgumas delas, o vinho aparece como complemento.

Quais os principais objectivos da CVR do Dão para 2025 em termos de promoção turística?

Além do trabalho contínuo na promoção do nosso território enquanto destino de excelência para o enoturismo, iremos continuar a marcar presença em eventos internacionais como a FITUR (Madrid), a FINE #WineTourism (Valladolid) e a nível nacional, como é o caso da Wine & Travel Week (Porto) e da BTL – Better Tourism Lisbon Travel Market.

Depois, é importante também referir que, já este ano, realizámos pela primeira vez uma formação em enoturismo, juntamente com a Maria João Almeida, que foi um verdadeiro sucesso, pois o número de interessados superou as 50 vagas disponíveis e isto também leva-nos a considerar realizar nova formação, talvez ainda este ano ou no próximo.

Por fim, teremos em Novembro as Jornadas de Enoturismo da Região Centro, que este ano se realizam no Dão, e é realmente um momento a destacar para 2025 nesta área.

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Turismo”, publicado na edição de Fevereiro (n.º 343) da Marketeer.

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