Crise automóvel na Europa abala fabricante de símbolo da Mercedes e ameaça postos de trabalho

A crise no setor automóvel europeu atingiu um novo alvo com a recuperação judicial da Gerhardi Kunststofftechnik, fabricante alemã de plásticos com mais de 200 anos de história, responsável pela icónica estrela da marca Mercedes-Benz. Especializada em peças para fabricantes de automóveis de luxo, a empresa não resistiu ao impacto da queda na procura e ao aumento dos custos, deixando 1.500 funcionários numa situação de incerteza em plena véspera de Natal.

Fundada em 1796, a Gerhardi começou por fabricar produtos de metal antes de aproveitar o boom automotivo do pós-guerra na Alemanha. O seu domínio da moldagem por injeção e estampagem a quente tornou-a uma fornecedora confiável de grades, maçanetas e acabamentos cromados para a Mercedes-Benz.

No último mês, após um longo período de custos crescentes e demanda em declínio, a empresa entrou com o pedido de recuperação judicial.

A Gerhardi é apenas um exemplo do cenário desafiador enfrentado por centenas de fornecedores da indústria automóvel europeia, que lidam com cortes na produção, transição tecnológica para veículos elétricos e retirada de apoios governamentais. De acordo com a entidade CLEPA, este ano já foram anunciados 53.300 cortes de empregos no setor, ultrapassando os números registados durante a pandemia.

Empresas como a Forvia, ligada à Stellantis e à Volkswagen, e a sueca Northvolt, fabricante de baterias, também enfrentam dificuldades significativas, incluindo atrasos nas fábricas e reestruturações bilionárias. Ao mesmo tempo, grandes empregadores como a ZF Friedrichshafen planeiam cortes massivos, ameaçando economias locais e cadeias de serviços em comunidades dependentes destas indústrias.

Com vendas fracas e margens de lucro em queda, o setor depara-se com o que especialistas denominam uma “tempestade perfeita”. A desaceleração do mercado de veículos elétricos, em particular, tem sido um dos principais desafios, frustrando as expectativas de crescimento e pressionando empresas que investiram fortemente em novas tecnologias.

Enquanto a Europa enfrenta preços de energia elevados e um ambiente regulatório cada vez mais complexo, o futuro da indústria automóvel permanece incerto, com impactos que vão muito além dos construtores de automóveis e chegam ao coração de comunidades inteiras.

Artigos relacionados