Criem escadas mais largas, não mais altas
Por Teresa Verde Pinho, Associate Creative director na TBWA\Chiat\Day New York
Devíamos parar de fingir que todos os criativos querem, um dia, segurar um crachá reluzente de director criativo (DC) como se fosse a versão corporativa do Santo Graal. Não é para todos, e o que é ainda mais inquietante, nem todos deveriam querê-lo.
Todos temos aquele colega genial, o mago das ideias, que em meia hora sai-se com uma campanha enquanto ainda estamos à procura do ficheiro do brief. Mas, mal é promovido e o colocam à frente de uma equipa, de um orçamento e de uma panóplia de reuniões com palavras como “sinergia” e “alinhamento estratégico”, ele fica deslocado.
Porque, spoiler: ser DC não é passar o dia sentado num trono a aprovar ideias geniais e a dizer “meh” às más com um ar de superioridade. Não, ser DC é estar atado a um sistema, a uma máquina que, muitas vezes, limita mais do que liberta. Não há glamour na repetição incessante de alterações ao gosto do cliente, nem nas reuniões intermináveis sobre tópicos que, no fundo, pouco ou nada têm a ver com o processo criativo. E é precisamente aí que está o problema. Em muitos casos, a ascensão a DC é a sentença de morte da genialidade. É uma camisa de forças.
E se, em vez de seguirmos todos a escadaria de carreira pré-programada – estagiário, júnior, midlevel, sénior, e, inevitavelmente, director criativo – criássemos uma alternativa mais sensata e humana?
E se, em vez de forçarmos todos os criativos a subir esta escada vertical, lhes déssemos a opção de crescerem horizontalmente? Em vez de os empurrarmos para o pináculo da torre, deixemo-los caminhar numa ponte longa, estável e fértil – sem se tornarem chefes.
Assim, os seniores podem ser seniores de níveis múltiplos, seniores nível Jedi, acrescentando camadas ao seu craft, com aumento de salário e respeito, sem serem forçados a assumir responsabilidades que lhes apagam a centelha. Um sistema onde o talento criativo não seja medido pela capacidade de gerir pessoas ou projectos, mas pela capacidade de continuar a criar, sem serem obrigados a enfiar-se numa função de chefia para a qual não têm paciência, interesse ou, sejamos sinceros, talento.
O que estamos a fazer agora, ao empurrar os criativos para cargos de gestão, é afastá-los do que fazem melhor. Por isso, aqui fica a minha proposta: deixem os criativos ser criativos. Criem escadas mais largas, não mais altas.
Artigo publicado na edição n.º 339 de Outubro de 2024