Crianças são o principal alvo do Instagram da McDonald’s nos países mais pobres
Um estudo norte-americano publicado na BMJ Nutrition Prevention & Health revela que as publicações nas páginas de Instagram da McDonald’s diferem largamente entre países mais ricos e países mais pobres: nas nações em desenvovlimento, a gigante de fast-food parece partilhar mais conteúdos direccionados a crianças, menos focados em hábitos alimentares saudáveis.
No Canadá, por exemplo, a percentagem de conteúdo destinado aos mais novos totaliza apenas 4,8% e em Inglaterra e Portugal 6,3%. Contudo, no Panamá registam-se percentagens de 21,3%, no Brasil de 26,8%, no Egipto de 17%, na Índia de 16,7% e na Indonésia de 27,6%.
Partindo da análise desta rede social em 15 países de diversas partes do mundo, ao longo de quatro meses (entre Setembro e Dezembro de 2019), os autores do estudo afirmam que nos países considerados mais ricos, por outro lado, as publicações da McDonald’s no Instagram contam frequentemente com o apoio de celebridades e divulgam temas relacionados com hábitos alimentares saudáveis.
Quanto ao número de publicações, verifica-se um volume superior nos países mais pobres: ao longos dos quatro meses em análise, as 15 contas observadas registaram um total de 849 publicações, sendo que 324 dessas (38%) são relativas às três nações mais pobres da lista (Indonésia, Egipto e Índia).
Os conteúdos promocionais também são em maior número nos países mais pobres. Enquanto nos EUA não se verifica nenhuma publicação deste tipo no período analisado e no Canadá e Austrália apenas 3,2% dos conteúdos se enquadram na temática, na Malásia (44,4%), Indonésia (27%) e Índia (14,3%) os números reflectem outra realidade.
Quando questionada pela Fast Company sobre os resultados do estudo, a McDonald’s afirma que estes não oferecem “uma representação fiel dos conteúdos das redes sociais de forma global”, que abrangem mais de 100 países. Além disso, há ainda outras variáveis em jogo, como o facto de cada mercado nacional optar pelo que é “mais relevante para os seus consumidores” e de as contas de Instagram serem, frequentemente, geridas por uma entidade exterior à marca, através de outsourcing.
Porém, os investigadores concluem que, à medida que a utilização das redes sociais aumenta, a presença das grandes cadeias de alimentação nestas plataformas pode ter consequências sem precedentes nas opções dietéticas, especialmente nos países em desenvolvimento. Ao ter como alvo as crianças destes locais, o estudo indica que a McDonald’s “exacerba os problemas de saúde dos países mais vulneráveis do mundo”.