Crianças e jovens em risco: cuidados sensíveis ao trauma
As histórias de vida das crianças e jovens em risco, acolhidas pelo sistema de promoção e protecção, estão frequentemente pautadas pela exposição continuada a experiências adversas. Em Portugal, existem mais de sete mil crianças e jovens em situação de acolhimento – 87% vivem em casas para este efeito –, referenciadas na sua maioria por negligência familiar e abuso psicológico, frequentemente associados a violência doméstica e outros factores de risco psicossocial: ausência de suporte familiar e social e problemas de saúde mental.
Estas circunstâncias de vida potenciam o stress pós-traumático e, em alguns casos, o trauma complexo – termo utilizado para descrever a exposição a experiências de natureza interpessoal traumáticas. A tomada de consciência das necessidades particulares destas crianças e jovens é evidenciada pelos problemas que apresentam na esfera emocional (dificuldades na regulação emocional e instabilidade comportamental) e relacional (conflito e isolamento), levantando por isso exigências, quer ao nível do perfil e competências dos profissionais, quer ao nível da organização de um ambiente reparador.
Para garantirmos a prestação de cuidados sensíveis ao trauma, os profissionais deverão estar preparados para: 1) proporcionar um ambiente seguro, física e emocionalmente, pautado por previsibilidade e contingência; 2) cultivar relações de confiança, que permitam à criança/jovem expressar e regular as suas emoções difíceis; 3) promover a aceitação e inclusão da individualidade de cada criança/jovem, colocando desafios ajustados ao potencial de cada um, contribuindo para um sentimento de pertença e de valorização pessoal.
Neste enquadramento, o ambiente organizacional é determinante e deverá garantir a segurança física e emocional dos profissionais e os seus papéis deverão estar bem definidos.
A dinâmica de funcionamento da equipa deverá ser caracterizada por uma comunicação clara, pelo suporte mútuo e flexível, devendo contar com uma liderança comprometida com processos de auto-avaliação construtivos, que garantam uma resposta cabal ao superior direito das crianças.
Texto da autoria de Elisa Veiga, Docente e investigadora no Centro de Investigação para o Desenvolvimento Humano (CEDH) e coordenadora da PG em Mediação de Conflitos Familiares da Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa – Porto