Crédito Agrícola: Com as comunidades no ADN

O Crédito Agrícola é um banco, mas tem pautado no seu ADN o adjectivo cooperativo, até pela forma como surge com forte ligação às Misericórdias. Daí haver uma maior legitimidade para mobilizar e sensibilizar para a importância estratégica do sector social e da sustentabilidade. O próprio movimento bancário cooperativo surgiu na Europa há mais de 200 anos, para dar resposta a problemas específicos de comunidades e do sector primário, essencialmente no combate à fome, mas Filipa Saldanha, directora de Sustentabilidade do Crédito Agrícola, refere haver uma evolução de conceitos e desafios que é preciso, a cada momento, endereçar, reflectir e integrar, numa jornada longa, cada vez mais exigente, mas também estimulante, que não os deixa acomodar à sombra desse “fit natural”.

No Crédito Agrícola encaram a sustentabilidade como estratégica do ponto de vista de modelo de negócio, mitigando a possibilidade de ser vista como meramente acção cosmética, de imagem. «Há a consciência que desafios sociais e climáticos têm impactos de negócio, financeiros e operacionais que não podem ser negligenciados, mas sim antecipados, bem como oportunidades que devem ser agarradas. Se a aplicação desta visão sobre a importância fulcral da sustentabilidade for eficaz, o valor acrescentado à marca é incalculável», defende.

A Política de Sustentabilidade do Crédito Agrícola foi construída com base nos cinco Objectivos de Desenvolvimento Sustentável prioritários para o grupo, ou seja, trabalho digno e crescimento económico, redução das desigualdades, cidades e comunidades sustentáveis, produção e consumo sustentáveis e acção climática. A priorização destes ODS teve em conta uma análise à cadeia de valor do grupo e ao potencial de impacto do negócio nos 17 ODS existentes. «Em todo o caso, haverá sempre oportunidade de reflexão e de consulta a stakeholders diversos que, a cada momento, possam resultar numa actualização da política e dos ODS seleccionados.» Estes funcionam como um farol nas tomadas de decisão, seja no desenho de novos produtos financeiros, na gestão de risco de financiamentos e investimentos, na selecção de fornecedores, nas acções desenvolvidas ao nível da gestão interna, ou na oferta de formação para colaboradores.

Além da Política de Sustentabilidade, algumas empresas do grupo já têm políticas de investimento ESG aplicadas, estando em desenvolvimento outras políticas fulcrais como a de riscos ESG. A Sustentabilidade (na sua tríade ESG) é encarada no Crédito Agrícola de forma estratégica, multidisciplinar e transversal, ganhando visibilidade junto de todos os membros do Conselho de Administração Executivo, porém, usufrui do empowerment de responder directamente ao respectivo Presidente.

Para Filipa Saldanha, o sector financeiro tem um papel de influência directa nas apostas dos agentes económicos, pelo que pode e deve reorientar os recursos financeiros para uma economia mais verde e inclusiva. Por outro lado, pela importância sistémica do sector bancário, existe o dever de incorporar, alertar e sensibilizar para aqueles que são os impactos climáticos extremos já sentidos (caso de incêndios, secas ou inundações), para as tendências climáticas de médio-longo prazo (como escassez de água ou subida do nível da água do mar), bem como para as tendências sociais, antecipando sempre possíveis e previsíveis agravamentos ou novos riscos.

Mas o papel da banca não se fica por aqui. Pode ser um gatilho para impulsionar outros negócios a seguirem a rota da sustentabilidade. Neste ponto, o Crédito Agrícola tem desenvolvido e aplicado, desde 2021, uma série de questionários para recolha de informação ambiental dos clientes-empresa, permitindo classificá-los num sistema de notação ambiental. «Uma verdadeira “maratona” que permitirá não só responder a exigências regulatórias e outros reportes importantes, como ter um melhor conhecimento sobre os nossos clientes e as suas necessidades em termos de transição climática e promoção da inclusão», diz Filipa Saldanha. O Crédito Agrícola estará ainda em linha com aquele que é o desinteresse existente em financiar determinados sectores associados estritamente a “harmfull activities”, havendo, no entanto, um conjunto bastante alargado de sectores que podem e precisam de transitar para processos e práticas mais sustentáveis. «Uma informação mais real sobre estes clientes ajudará a criar soluções à medida e apoiar os planos de transição urgentes e necessários.»

O PAPEL DA RESPONSABILIDADE SOCIAL

O Grupo Crédito Agrícola assenta a sua actuação numa base sólida de valores cooperativos, dos quais sobressai o compromisso com as economias locais e as relações de proximidade e confiança com clientes e comunidades. A responsabilidade social está enraizada no ADN do banco, reflectindo-se tanto no desenho de iniciativas sociais e ambientais externas ao negócio, no envolvimento dos colaboradores em acções de voluntariado, como na promoção da inclusão financeira em localidades remotas do País, chegando a populações com maior dificuldade de acesso a serviços financeiros. «No entanto, estando conscientes da dimensão dos desafios sociais e climáticos a que esta e as próximas gerações estão sujeitas, consideramos ser nosso dever empregar um modelo bancário que vá além da responsabilidade social, enraizando a sustentabilidade nas diferentes frentes de actuação: negócio, capital humano e sociedade.»

Em 2021 apoiaram 2548 instituições no valor de 1,6 milhões de euros em iniciativas de responsabilidade social na comunidade. A maior fatia dos financiamentos (48%) foi concedida a causas sociais através do apoio directo a IPSS, creches, escolas, lares de 3.ª idade, bombeiros e campanhas nacionais. «Realça- -se, neste âmbito, a campanha #TODOSJUNTOS, de luta contra o cancro da mama, que contou com o envolvimento de dez bancos e angariou o total de 2,5 milhões de euros», relembra Filipa Saldanha. O desporto foi outra das grandes áreas de apoio do CA, com uma quota de 28%, dando especial atenção a modalidades amigas do planeta, como o do surf, bodyboard e Stand Up Paddle, assim como do ciclismo, apoiando neste caso equipas desde os escalões de formação até aos Sub-23, e grandes provas nacionais, tais como a Volta ao Alentejo e a Volta ao Algarve, de elevado impacto socioeconómico nestas regiões.

Internamente são desenvolvidos projectos que procuram estimular e agregar os colaboradores para causas sociais e ambientais, tendo sempre como denominador comum o voluntariado, desde acções de reflorestação a campanhas de apoio solidário, como a campanha anual do Núcleo Motard do Centro de Cultura e Desporto do Banco, que reúne verbas dentro do grupo, convertidas posteriormente em bens essenciais para apoio a Associações e Instituições de Norte a Sul do País.

Com os fornecedores, está em curso um projecto que avalia cada um dos fornecedores do CA ou possíveis fornecedores, do ponto de vista ambiental e social, por um questionário preliminar, com o objectivo duplo de garantir uma evolução gradual nas práticas de gestão sustentáveis dos seus fornecedores e de salvaguardar que um conjunto de critérios mínimos são cumpridos e estão alinhados com os Princípios do Pacto Global das Nações Unidas, a Declaração Universal dos Direitos Humanos e os Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho da Organização Internacional do Trabalho.

PRODUTOS AMIGOS DO AMBIENTE

O grupo tem ainda um conjunto de normas e políticas internas dedicadas às temáticas de ética empresarial, incluindo a financeira. Destacam-se, neste âmbito, o Código de Ética e Conduta; a Política Vinculativa de Prevenção de Branqueamento de Capitais e do Financiamento ao Terrorismo; e a Política de Prevenção, Comunicação e Sanação de Conflitos de Interesses e de Transacções com Partes Relacionadas. Importa realçar que todos os colaboradores são envolvidos nas políticas de ética.

O Crédito Agrícola tem ainda disponível um conjunto de produtos financeiros sustentáveis, entre os quais se destacam o ecocrédito para aquisição de equipamento associado à eficiência energética, o crédito ao ensino ou as linhas de crédito disponibilizadas a clientes-empresa para a descarbonização, economia circular e energias renováveis. Em 2021, emitiu a sua primeira Obrigação Social, num total de financiamento obtido junto de investidores institucionais de 300 M€, destinados a financiar e a refinanciar, através da concessão de crédito, empresas e projectos em áreas cruciais para a inclusão social, como a educação, saúde e habitação social; criação de emprego em regiões menos desenvolvidas; e redução da pobreza e das desigualdades sociais, apoiando instituições sem fins lucrativos.

«No Crédito Agrícola estamos a trilhar o caminho que devemos, mas esta oferta tem ainda um peso reduzido face às nossas ambições, tendo estado concentrados na definição de políticas e processos que permitam esse robustecimento a curto prazo», refere Filipa Saldanha.

A tendência de concessão de crédito para investimentos mais sustentáveis tem sido positiva. Ao nível da oferta para clientes empresariais focada da transição climática e ecológica, onde se inclui as duas linhas de crédito referidas, nomeadamente para energias renováveis, valorização de resíduos e tratamento de água e efluentes, o volume total de crédito aumentou 91% entre 2020 e 2021. Importa também realçar que o ecocrédito concedido a clientes particulares cresceu cerca de sete vezes durante o mesmo período. No futuro, estaremos comprometidos em robustecer e acelerar o crédito ao investimento, tanto para a transição climática e protecção da biodiversidade, como para colmatar alguns dos desafios mais prementes da sociedade portuguesa, como a pobreza energética e das desigualdades sociais.

Quais os objectivos para 2023? «Consolidar aquele que é um caminho exigente rumo à concretização da nossa missão de contribuir para o progresso socioeconómico das comunidades, praticando uma banca de proximidade, com propósito e sustentável. Para tal, precisamos de fomentar uma maior e transversal integração de princípios de sustentabilidade no próprio modelo de negócio, desenvolvendo uma oferta robusta de soluções financeiras que permitam responder aos desafios sociais e climáticos que pessoas e empresas enfrentam no curto e longo-prazo», explica Filipa Saldanha. Em complemento, o banco pretende assumir uma postura pedagógica e mais comprometida com os problemas da sociedade portuguesa, actuando com um olhar atento aos riscos e tendências mais prementes dos próximos anos, conjugando conhecimento científico disponível com o conhecimento empírico das mais de 70 Caixas Associadas do Crédito Agrícola.

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Sustentabilidade e Responsabilidade Social”, publicado na edição de Dezembro (n.º 317) da Marketeer.

Artigos relacionados