Crédito Agrícola: Acelerar a transição climática através do negócio
O CA assume o compromisso de ter um papel activo na sociedade, promovendo o desenvolvimento das comunidades locais e a redução das desigualdades, dando resposta às necessidades financeiras dos seus clientes e fomentando uma cultura interna informada, inclusiva e sustentável. É com este propósito que as acções do banco se estendem à contribuição para um modelo de negócio mais verde, circular e inclusivo. De acordo com Filipa Saldanha, directora de Sustentabilidade do CA, «acreditamos num compromisso com o futuro, adoptando uma postura pedagógica e consultiva, aberta às comunidades em que estamos inseridos, e com a consciência inequívoca do impacto gravoso que não agir de forma tenaz trará, inclusive na performance financeira».
Com esta visão, o Crédito Agrícola tem vindo a implementar um conjunto de iniciativas de descarbonização e de melhoria da eficiência energética das suas operações: toda a electricidade consumida já é 100% verde (eliminando as emissões de âmbito 2); as lâmpadas tradicionais têm vindo a ser substituídas por LED; e foi iniciado um projecto de monitorização e optimização de consumos na Caixa Central que se pretende escalar a todo o Grupo Crédito Agrícola (GCA). No que diz respeito à economia circular, o banco tem implementado várias iniciativas com o objectivo de eliminar a utilização de plástico descartável e promover a circularidade de equipamentos electrónicos. Porém, afirma Filipa Saldanha, «o caminho para a descarbonização excede em muito a gestão interna, tendo de se concentrar na carteira de crédito, responsável por 99,9% da nossa pegada de carbono».
Neste sentido, o Crédito Agrícola tem a ambição de acelerar uma transição climática justa e, para isso, aprovou recentemente um plano Net Zero, que tem o objectivo de transformar o modelo de negócio, incorporar os riscos climáticos nas decisões financeiras, e implementar práticas de gestão internas mais sustentáveis em todo o grupo.
Deste plano constam inúmeras iniciativas com objectivos e metas de descarbonização até 2030. Em relação à gestão interna, o banco pretende escalar as soluções de eficiência energética, dar início a um Programa de Mobilidade Limpa, que permita ter uma frota 100% eléctrica em 2030, e potencialmente instalar unidades de produção para autoconsumo, incluindo a integração em comunidades de energia renovável. De acordo com Filipa Saldanha, «assumimos, assim, um objectivo de redução de emissões de CO2e (âmbito 1, 2 e categorias 5, 6 e 7 de âmbito 3) de 60% até 2030 para as operações de todo o GCA, um compromisso de elevada importância para garantir a coerência e robustez do nosso comprometimento».
Por outro lado, com a transformação crucial do modelo de negócio, o banco compromete-se com um conjunto de iniciativas e metas de redução de emissões de CO2e para oito sectores representados na sua carteira de crédito e essenciais para descarbonizar a economia portuguesa: Imobiliário Residencial; Imobiliário Comercial; Agricultura; Hotelaria e Restauração; Energia; Aviação; Resíduos e Águas Residuais; Automóvel.
«É com enorme sentido de responsabilidade que nos tornamos o banco português com a ambição (pública) mais elevada ao nível do número de sectores de actividade da carteira de crédito abrangidos por metas Net Zero, olhando com seriedade para a desejada transformação da economia portuguesa», acrescenta a directora de Sustentabilidade do CA.
PROJECTOS E INICIATIVAS
O CA tem como core da sua actividade a concessão de financiamento e é por essa via que quer gerar impacto positivo, ao reorientar os recursos financeiros para clientes e projectos alinhados com objectivos de desenvolvimento sustentável.
Nesse sentido, o banco tem, desde já, uma oferta de crédito disponível para suprir necessidades de clientes particulares ao nível do ensino, saúde, aquisição de equipamentos para autoprodução de energia limpa e, mais recentemente, para aquisição de habitação com certificado energético A+, A e B. Para os projectos empresariais, estão disponíveis várias linhas de crédito, como as linhas para o sector social, para a descarbonização e economia circular, ou para as energias renováveis. Além dessa oferta generalizada, «temos vindo a avaliar com empresas de maior dimensão a integração de objectivos ambientais e sociais, por forma a indexar condições comerciais ao respectivo cumprimento», adianta Filipa Saldanha.
No entanto, a responsável lembra que nem sempre o acesso ao financiamento é possível, por uma gestão de risco prudente ou por imposição legal. Nesses casos, «temos alavancado a via filantrópica para mitigar a exclusão financeira dos segmentos mais vulneráveis da população e maximizar o impacto positivo nas áreas que nos são materiais. A título de exemplo, apoiámos recentemente a melhoria da eficiência energética e do conforto térmico de 20 casas através de uma parceria com a ONG Just a Change, reforçando o nosso papel na transição justa e no combate à pobreza energética».
De referir ainda que a CA Capital tem vindo a investir em startups com modelos de negócio «promissores», incluindo nas áreas agritech e biotecnologia.
Filipa Saldanha afirma que «no GCA visamos a construção de relações sólidas e próximas em prol da resiliência e desenvolvimento sustentável das comunidades, indo além do modelo tradicional de apoio. As CCAM têm sido um motor de desenvolvimento das comunidades locais, contribuindo através de donativos e outro tipo de apoios não financeiros. O GCA continua a promover o seu papel de proximidade junto de várias instituições, tendo, em 2022, apoiado 2122, maioritariamente ligadas à área do Desporto, Cultura e solidariedade social».
O voluntariado é uma outra via que o banco utiliza para fomentar o envolvimento das pessoas no propósito e o sentimento de contribuição para a comunidade. Em 2024, o CA vai lançar uma nova estratégia de voluntariado, reforçando a coerência com todos os outros eixos de intervenção do banco (gestão interna, negócio e filantropia) e estimulando «o sentido de pertença, o conhecimento mais profundo e próximo sobre os desafios que nos propomos colmatar e uma forte mobilização para o cumprimento de objectivos maiores».
Além disso, o banco tem vindo a reforçar a consciencialização e capacitação dos colaboradores para as temáticas do desenvolvimento sustentável, seja através de campanhas internas, módulos de formação transversais a todas as pessoas ou dirigidos à natureza das funções. Já existem 141 Embaixadores de Sustentabilidade de todas as equipas da Caixa Central, das Caixas Agrícolas e das empresas do grupo, que participam no debate da estratégia, com a finalidade de disseminar a sustentabilidade por todo o GCA.
Apesar de todas as metas, ainda existem sectores económicos que têm práticas com impacto ambiental negativo. Sobre este tema, Filipa Saldanha afirma que, apesar disso, muitas dessas empresas «já dispõem de soluções tecnológicas que permitem evitar, reduzir ou anular o impacto, sendo necessário apoiá-las na aquisição das tecnologias e melhoria das práticas actuais, através de financiamento com condições diferenciadas e um acompanhamento próximo e pedagógico».
A este propósito, no âmbito do plano Net Zero, o grupo bancário tem previsto um Programa de Proximidade, Transição e Impacto, que inclui apoio não financeiro (p.e. capacitação), desenhado à medida das necessidades de cada um dos oito sectores de actividade abrangidos.
Por outro lado, a directora de Sustentabilidade esclarece que «as operações destinadas a projectos específicos com impacto ambiental negativo de clientes não comprometidos com a transição passarão por uma filtragem apertada, através de uma política revista de concessão de crédito em conformidade com o desígnio Net Zero, e alinhada com a intenção de sermos o banco de apoio a uma transição climática justa».
No que diz respeito ao apoio social à comunidade, «o Crédito Agrícola tem no seu ADN cooperativo a proximidade, que está materializada num papel ímpar na promoção da coesão territorial. Esse prisma de inclusão territorial, de estar onde outras instituições bancárias não estão, permite-nos garantir que as pessoas, independentemente de onde vivam, têm acesso a uma agência bancária física. Este compromisso com a coesão territorial está muito patente nos próprios compromissos assumidos com investidores que participaram na nossa emissão obrigacionista. Os fundos obtidos têm sido utilizados para financiar projectos com objectivos sociais, em particular negócios de pequena dimensão que permitam manter e criar postos de trabalho em regiões menos desenvolvidas».
COMUNICAÇÃO E IMPACTO
O CA tem vindo a utilizar a comunicação como forma de envolver e convocar os stakeholders a participar na identificação de temas materiais e na criação de parcerias estratégicas, nomeadamente com instituições com elevada credibilidade em matéria de clima, biodiversidade e inclusão social, reforçando a abertura à sociedade.
Filipa Saldanha afirma que o grupo reconhece «a importância de fazer parte do ecossistema de empresas e organizações na linha da frente das melhores práticas, nos vários pilares da sustentabilidade, participando em inúmeros fóruns, talks e grupos de trabalho e várias redes empresariais, sendo subscritor de várias cartas de compromissos e manifestos nacionais e internacionais. Neste âmbito, importa realçar que participámos na recente COP28, com o objectivo de reforçar a nossa mensagem nas discussões sobre duas temáticas de elevada importância para a transição climática justa – a igualdade de género e os instrumentos de financiamento sustentável, enfatizando a importância dos valores cooperativos nesta missão».
Refere ainda que «no CA queremos prosseguir com uma cultura de prestação de contas e transparência, de forma a comunicar de forma séria o impacto que geramos na sociedade e no planeta e o caminho que ainda temos de percorrer em prol de um futuro melhor. Neste âmbito, destacamos tanto o Relatório de Sustentabilidade do CA, como o Rating de Riscos ESG, que nos foi atribuído pela primeira vez em 2023 pela Sustainalytics ». No primeiro pode ler-se que foram apoiadas 2122 organizações do sector social. Do mesmo modo, o banco afirma ter diminuído o total de emissões (âmbito 1 e 2) em 40%, triplicou o número de contas de serviço mínimos bancários e aumentou em 40% o crédito a energias renováveis, face a 2021. No que diz respeito ao Rating de Riscos ESG, o Crédito Agrícola posiciona-se favoravelmente relativamente a todos os outros bancos do mercado nacional. Nas palavras da directora de Sustentabilidade, «é um forte reconhecimento do longo caminho percorrido pelo banco em prol do desenvolvimento sustentável, mas, acima de tudo, um incentivo para continuar a jornada de melhoria contínua».
A monitorização dos impactos através da gestão de boas métricas é de extrema importância para efeitos de responsabilização (accountability), pelo que Filipa Saldanha considera que «é preciso reforçar o investimento no robustecimento de recolha e tratamento de dados ESG. Estes dados não só constituem um pilar fundamental para cumprir as obrigações regulamentares, que são crescentes em quantidade e complexidade, como serão extremamente úteis para uma boa e rápida caracterização da carteira de clientes e operações de crédito, permitindo adequar a oferta e o preço e incorporar riscos ESG na avaliação das operações, assim como reforçar a transparência e credibilidade com que queremos comunicar a nossa jornada de impacto».
Este artigo faz parte do Caderno Especial “Sustentabilidade e Responsabilidade Social”, publicado na edição de Dezembro (n.º 329) da Marketeer.