Covid-19 antecipou em décadas o futuro da assistência médica
A pandemia de Covid-19 trouxe uma transformação sem precedentes ao sector da Saúde e acelerou várias mudanças à escala global que em condições normais só aconteceriam daqui a vários anos, em áreas como a investigação de vacinas ou a assistência médica remota. A conclusão é de um relatório do futurista britânico Ray Hammond para a Allianz Partners.
O relatório “Covid-19: Como a pandemia acelerou o futuro da assistência médica” surge assim da necessidade de actualizar as análises e previsões sobre o sector da Saúde, à luz dos desenvolvimentos dos últimos dois anos, e explora o impacto da pandemia no futuro da assistência médica, da ciência e da tecnologia.
De acordo com o relatório, o avanço mais significativo na medicina desde o início da pandemia foi o desenvolvimento, implementação e aplicação de tecnologias genéticas mRNA no desenvolvimento de vacinas. «A pandemia desencadeou um esforço colectivo de proporções gigantescas na comunidade global da área da Ciência e da Saúde para desenvolver uma vacina o mais rapidamente possível, cujos resultados estão agora a transformar a medicina», conclui o estudo encomendado pela Allianz Partners. Em Dezembro de 2021, tinham sido administradas mais de oito mil milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 em todo o mundo.
Agora, as tecnologias mRNA estão a ser aplicadas para o desenvolvimento de outras vacinas baseadas em genes, que poderão vir a beneficiar pacientes com cancro, doenças cardíacas e doenças infecciosas. Actualmente, investigadores da Yale School of Medicine, nos EUA, estão a trabalhar numa vacina contra a malária, enquanto que no King’s College London está a ser desenvolvido um estudo em animais que mostra que é possível regenerar com sucesso o tecido de um coração danificado durante ataques cardíacos. Quanto à Moderna já iniciou testes para uma vacina contra o vírus do HIV. «As inovações médicas resultantes da pandemia podem vir a salvar a vida de milhões no futuro», salienta o relatório.
A assistência médica remota foi outra das áreas beneficiadas pelo desenvolvimento tecnólogico dos últimos dois anos. Um outro relatório realizado há alguns anos por Ray Hammond previa que a assistência médica seria realizada de forma remota até 2040, mas a verdade é que a crise pandémica «acelerou essa prática de forma drástica, já que o uso da telemedicina, das enfermarias virtuais e da tecnologia de saúde se tornaram comuns em todo o mundo, para tratar pacientes remotamente e reduzir o risco de propagação do vírus.»
A telessaúde e a enfermaria virtual deverão consolidar-se nos próximos anos, reduzindo a sobrecarga dos hospitais e dos médicos. «Por exemplo, pacientes não críticos podem ser tratados em casa, através de uma enfermaria virtual equipada com uma série de sensores corporais, incluindo oxímetros de dedo, que medem os níveis de oxigénio na corrente sanguínea. Outros sensores detectam e registam os batimentos cardíacos, a temperatura corporal, os padrões de sono, os níveis de glicose no sangue, os níveis de respiração e a actividade eléctrica do coração», explana o estudo. Num futuro próximo, monitorizar pacientes nas enfermarias virtuais introduzidas nos últimos dois anos tonar-se-á mais eficiente, à medida que os sistemas de inteligência artificial (IA) assumirem o papel de monitorizar os pacientes 24 horas por dia.
Os próprios pacientes estão hoje mais predispostos a utilizarem a tecnologia (nomeadamente dispositivos wearables) para monitorizarem de forma proactiva a sua saúde, seja a pressão arterial, níveis de glicose no sangue, níveis de potássio ou quaisquer outros indicadores.
«A pandemia levou muitas vidas e vamos lamentar a perda dessas pessoas para sempre. No entanto, esse momento terrível na nossa História também teve uma consequência muito positiva – a transformação na Ciência e na assistência médica. Esperamos que a pesquisa sobre ataques cardíacos, doenças mortais e outras condições médicas salve muitas vidas nos próximos anos», sublinha Ray Hammond.