Corona ou canábis?
M.ª João Vieira Pinto
Directora de Redacção Marketeer
Estou preocupada, sim. Não por poder apanhar o vírus. Que a taxa de recuperação ainda é superior à de morte pelo mesmo.
Mas estou preocupada por tudo o que este corona possa destruir em valor. Nas empresas, nas marcas, em nós. Na última semana, o efeito foi de dominó a alta velocidade. Conferências adiadas, apresentações canceladas, entrevistas alteradas, estreias a perder o palco, reservas de hotéis e restaurantes sem efeito, voos sem levantar de terra.
Com o crescimento da nossa economia altamente alicerçado no Turismo – em 2019 cresceu mais 4,1 pontos percentuais que o resto da economia, afirmando-se como a maior actividade económica exportadora do País, sendo que, em 2018, e segundo a Conta Satélite do Turismo em Portugal apresentada pelo INE, o Turismo assumiu 14,6% do PIB e 9% do emprego nacional – se calhar não deveríamos estar apenas e só preocupados com beijos e apertos de mãos. De resto, e à data de fecho desta edição, a AHP admitia que a hotelaria portuguesa poderá vir a ter perdas de 800 milhões de euros, até Junho.
Isto, para não falar das empresas a actuar no sector têxtil e do vestuário, altamente dependentes da Ásia e que viram chegar a redução das encomendas, a que se juntaram as dificuldades no abastecimento!
A linha de crédito do Ministério da Economia duplicou em poucos dias e claro que o único desejo é que seja mais que suficiente…
Por isso, sim, estou preocupada ou não estivéssemos também, todos nós, grupos de Media, a andar há algum tempo à boleia do Mundo que nos tinha voltado a chegar, entre entrada de turistas e investimento estrangeiro. Além de que me questiono sobre eventuais planos ou estratégias adoptados pelas marcas para responder a esta crise, para continuar a chamar ao consumo – que não só de enlatados -, à experiência, à vida e ao ritmo para além deste Covid-19.
Ficar a vê-lo chegar e passar pode ser tiro no pé para muitas. Com facturas a pagar, agora e a prazo!
Pelo meio, é possível que um dos mais recentes negócios em crescimento no nosso País, as lojas de produtos à base de CBD (Canabidiol, mais conhecido como canábis), mantenha a sua trajectória. Porque provavelmente seremos mais a precisar de terapias… alternativas ou não.
Nos EUA, e segundo dados Nielsen, o negócio poderá ascender a entre 2 e 2,5 mil milhões de euros, já este ano. Por cá, as restrições legais também caíram, pelo que é de esperar a multiplicação de medicamentos de venda livre, cosméticos, produtos para animais de estimação, lençóis, roupas ou referências alimentares e de bebidas. Por isso mesmo, decidimos dar-lhe capa nesta edição da Marketeer, num trabalho assinado pelo Daniel Almeida e a Maria João Lima. Porque já não é só uma questão de fumo!
Editorial publicado na revista Marketeer n.º 284 de Março de 2020