Portugueses mudam hábitos de consumo: preferem comer em casa, optam pelas marcas próprias e cortam no álcool

Durante o terceiro trimestre de 2024 – de julho a setembro – as vendas em valor de produtos FMCG (Bens de Grande Consumo) em Portugal aumentaram 8,2%, enquanto o crescimento em bens T&D (Tecnologia e Bens Duradouros ) foi de apenas 2,9% em comparação com o mesmo período do ano anterior.

O crescimento dos bens de grande consumo deve-se sobretudo a duas tendências importantes: em primeiro lugar, um número crescente de consumidores portugueses está a evitar as visitas a restaurantes devido ao forte aumento dos preços no setor da restauração.

Em alternativa, optam por preparar refeições rápidas e práticas em casa. Isto levou a um aumento significativo nas despesas com refeições prontas e componentes em supermercados e discounters. Por exemplo, as vendas de massas frescas refrigeradas aumentaram 18% em volume, a quarta gama cresceu 11,7% e refeições prontas refrigeradas subiram 4,5%.

Houve também um aumento correspondente nas despesas com refeições congeladas (7,1%), batatas congeladas (8,3%), vegetais congelados (2,9%) e gelados (2,4%). Contudo, este último registou um aumento de preço superior a 5%, levando o valor total a crescer 7,6%.

“Observamos uma tendência semelhante para produtos usados na preparação de sobremesas”, explica Ana Barbosa, Retailer Vertical Director na NIQ em Portugal. “Embora as quantidades vendidas aqui tenham aumentado apenas 7%, o valor total dos gastos adicionais atingiu quase 16%, devido a um aumento de preço médio superior a 8%.”

A segunda grande tendência no mercado FMCG em Portugal é a crescente importância das marcas próprias. Estes produtos são significativamente mais baratos do que os produtos de marca de fabricante.

Por exemplo, o volume de vendas de perfumes aumentou dois terços no terceiro trimestre de 2024. No entanto, como o preço médio neste segmento caiu mais de 10% devido às marcas próprias mais económicas, o valor total de vendas em perfumes foi de apenas 50%.

Tendências semelhantes foram observadas em maquilhagem e cremes para mãos e rosto, devido ao aumento do investimento das cadeias de retalho em produtos de beleza nomeadamente nas suas próprias marcas.

Em Portugal, verificou-se uma queda significativa nas vendas em volume da maioria das bebidas alcoólicas, incluindo licores, espumantes, aperitivos, vinho do Porto, brandy, whisky e bebidas espirituosas.

As principais razões são o aumento significativo dos preços e mudanças nos hábitos de consumo. O chocolate registou o maior aumento de preço no mercado FMCG português.

O preço médio dos produtos de cacau subiu quase um quarto, levando a um aumento de 20% nas vendas em valor, apesar de o volume de vendas destes produtos ter caído 3,5%.

Os produtos T&D registaram um aumento de vendas em valor no terceiro trimestre, semelhante ao segmento FMCG. Por exemplo, as vendas de artigos de bricolage cresceram 9,3%, enquanto os eletrodomésticos registaram um crescimento de 4,1%.

Exemplo desta tendência são as fritadeiras de ar quente. No entanto, o aumento nas vendas de produtos tecnológicos foi menor, com uma subida de apenas 1,1%. Isto deve-se ao facto de produtos como computadores, monitores, webcams e outros acessórios terem sido muito comprados durante a pandemia de COVID-19, e ainda não necessitarem de substituição.

Além disso, o armazenamento de dados está a migrar para a cloud, reduzindo a necessidade de dispositivos físicos de armazenamento.

“Esperamos um aumento significativo nos gastos durante o quarto trimestre, tanto no segmento FMCG como T&D. A Black Friday e a época natalícia vão impulsionar fortemente as vendas. No entanto, a sustentabilidade continua a ter um papel secundário no comportamento dos consumidores. Os portugueses só aceitam pagar mais por produtos ecológicos se estes apresentarem outras vantagens associadas”, explica Pedro Oliveira, Retail Manager Tecnologia e Bens Duráveis na NIQ/GfK em Portugal.