Consumidores preferem ter menos e com mais qualidade. Relevância de produtos premium aumenta

O retomar das actividades fora de casa, a subida dos preços das matérias-primas e da energia, a pressão nos custos de produção, a escassez de chips e o encerramento de portos, assim como o maior número de pessoas deslocadas e o máximo histórico de inflação atingido na Zona Euro (8,4%) foram os factores que mais impactaram os consumidores durante o ano de 2022.

Um novo estudo da GfK, intitulado “GfK Tech Market Insights’23”, revela que estes factores levaram a uma diminuição das compras por impulso, aumentando, por outro lado, as aquisições por necessidade. Esta característica verificou-se sobretudo em bens de informática de consumo, que diminuíram 8% face ao período homólogo.

Nesta área, 51% das compras foi para a substituição de aparelhos estragados, 26% para um upgrade de um equipamento funcional, 10% de um primeiro produto e 13% na compra de um produto adicional. Simultaneamente, os consumidores estão a optar mais por produtos premium, aumentando o valor da compra. Assim, 47% dos participantes no estudo prefere ter menor quantidade, mas bens com qualidade superior.

A escolha entre electrodomésticos premium e standard

O estudo da GfK analisou também a preferência entre os electrodomésticos premium ou standard. As vendas de produtos de gama alta aumentaram e é nas air fryers que a diferença mais se acentua, com 57% dos consumidores a optar por um produto de maior qualidade.  Ser uma alternativa mais saudável e com inovação multifuncional são as principais razões que levam os consumidores a escolhê-las.

A tomada de decisão de compra tem como factores influenciadores a publicidade, sobretudo os folhetos dos retalhistas (24%), a comparação de preços online, que é mais usada em Portugal relativamente a outros países em análise (21% vs 15%), e as recomendações do staff em loja (6%). Já na hora de adquirir um produto, o que mais conta é o preço e/ou a promoção (69%), a disponibilidade de stock (35%) e a conveniência (28%).

Produtos com maior potencial de redução de consumo energético e impacto ambiental estão na base da escolha de produtos premium, sobretudo em grandes electrodomésticos como máquinas de lavar roupa e frigoríficos. Além disso, 73% dos consumidores considera fundamental as empresas tomarem medidas amigas do ambiente. No entanto, após a compra, 40% dos consumidores admite ter gastado mais do que o planeado, sendo os portugueses os que mais se destacam (42%).

No que diz respeito à aquisição de produtos de gama standard, em 2022, 50% das compras realizou-se com o intuito de substituir um produto avariado ou com defeito. A tendência de upgrade subiu durante a pandemia, mas poderá estar novamente a baixar.

Mercado de Bens Tecnológicos imune a crises

Em 2023, o mercado dos bens tecnológicos de consumo pode, assim, esperar maior procura por produtos inovadores de necessidade, consumidores mais hesitantes em gastar e com orçamentos previstos. É, por isso, expectável um caminho lento de recuperação face aos valores dos anos anteriores. Prevê-se ainda uma tendência para a premiumização em categorias seleccionadas, sendo que a força da marca e a inovação ainda desempenham papéis fundamentais.

Em Portugal, o mercado de Bens Tecnológicos de Consumo (BTC) atingiu o valor mais alto de sempre, com uma facturação total de 3.336 mil milhões, mais 2,5% que no período homólogo. Foi na área das telecomunicações e dos electrodomésticos que se registou o maior crescimento, tendo estes bens sido adquiridos sobretudo em lojas físicas.

As marcas próprias recuperaram representatividade, com um preço de venda médio em crescimento em todas as áreas de negócio. Relativamente aos preços médios, todas as áreas de negócio incrementaram o PVP médio, com especial destaque para a Electrodomésticos de Consumo e Grandes Domésticos (+18%) e ainda os Pequenos Domésticos (+17%).

Em termos globais, o mercado BTC, em 2023, depois do pico de vendas em 2021, encaminha-se para uma desaceleração da procura, sendo a tendência para estabilização, ainda que se possa ter algum crescimento em determinados meses do segundo semestre.

Assim, apesar da evolução do mercado global se apresentar negativa em 2022 (-6%), a previsão é que este se situe entre os 0 e os 2%, em 2023. No caso de Portugal, estima-se uma estabilização dos valores de evolução, entre os 0% e os 3%, à semelhança do valor registado em 2022.

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