Competição de preços (e não só): estes são os desafios que o sector alimentar enfrenta

Ainda antes do início da guerra na Ucrânia, a 24 de Fevereiro, já se esperava que as condições do mercado no sector alimentar se agravassem, devido à queda das vendas após o recuo dos efeitos da pandemia e à pressão nos preços e na concorrência. Contudo, estes factores agravam-se ainda mais com a invasão por parte da Rússia, afectando o poder de compra dos consumidores e o caminho que o retalho tem de percorrer para chegar aos níveis de 2019.

O relatório “Navigating the Market Headwinds – The State of Grocery Retail 2022”, da McKinsey & Company e da EuroCommerce, que inclui entrevistas a 60 CEOs europeus do sector alimentar e um questionário a mais de 12 mil consumidores em nove países europeus, revela as principais tendências que irão moldar esta indústria nos próximos anos.

– Forte pressão sobre as margens. A inflação irá aumentar os custos dos retalhistas e impactar o poder de compra dos consumidores. O regresso aos níveis normais de vendas, após um período de aumento durante a pandemia da Covid-19, e uma maior pressão sobre o poder de compra levará os consumidores, nomeadamente aqueles com rendimentos mais baixos, a procurar produtos mais baratos e promoções. Os discounters e players com preços competitivos são susceptíveis de ganhar quota de mercado face a esta situação.

– Procura polarizada. Os consumidores com rendimentos mais elevados, gerações mais jovens e agregados familiares mais numerosos planeiam comprar mais produtos saudáveis, sustentáveis e premium. Por outro lado, os consumidores em agregados familiares com rendimentos mais baixos indicam uma maior sensibilidade ao preço, com muitos a planear apostar em produtos mais baratos (incluindo de marca própria, como fizeram em crises passadas).

– Crescimento online mais lento com ofertas mais diferenciadas. O mercado online tem vindo a tornar-se cada vez mais fragmentado, com ofertas novas e emergentes, nomeadamente a entrega instantânea. Neste sentido, os consumidores irão começar a dividir as suas compras por diferentes lojas online.

– Procura por novas fontes de lucro. Com o negócio principal sob pressão, os retalhistas procuram novas fontes de lucro, através de advanced analytics e inteligência artificial ou através da entrada em novos fluxos de receitas (por exemplo, utilizando os dados fornecidos pelos cartões de fidelização para vender espaço publicitário).

– O desafio da atracção de talento. 39% dos CEO do sector alimentar aponta a atracção do talento certo como um dos seus principais desafios. O desgaste dos colaboradores no retalho do sector alimentar a nível mundial continuou a aumentar no ano passado, juntamente com o aumento da procura de novas competências, impulsionada principalmente pela automatização, analytics e comércio electrónico.

«Tendo prosperado ao longo da pandemia, os retalhistas europeus enfrentam agora um ano difícil. A pressão da inflação, sensibilidade ao preço e aumento da concorrência estão prestes a reverter muitas das tendências positivas que experienciaram. Por outro lado, estas mudanças também oferecem oportunidades para que o sector alimentar tome medidas ousadas e continue a investir numa grande oferta de marcas privadas, no online, em novas fontes de lucro, em produtos saudáveis e sustentáveis e também nas suas pessoas», comenta, em comunicado, Ana Paula Guimarães, sócia da McKinsey & Company em Lisboa.

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