Como traduzir dor e resiliência em design? Salman Rushdie e a história por trás da capa de “Knife”
O que torna uma capa de livro inesquecível? No caso de “Knife”, de Salman Rushdie, é a sua capacidade de ser simultaneamente ousado, delicado e aterrador. A capa, desenhada por Arsh Raziuddin sob a direção de Greg Mollica, diretor de arte da Random House, foi rapidamente aclamada como uma das melhores do ano por Matt Dorfman, diretor de arte da Book Review, combinando elegância com o forte simbolismo.
O desafio de traduzir dor e resiliência em design
Knife é mais do que um livro: é o testemunho de um ataque brutal sofrido por Rushdie em 2022, juntando na mesma obra uma narrativa de amor e sobrevivência ao lado da sua esposa, Rachel Eliza Griffiths. Essa dualidade exigia uma capa que fosse ao mesmo tempo dramática e sensível, indicou o diretor de arte da Random House.
Mollica confiou a tarefa a Raziuddin, conhecida por projetos de grande impacto em publicações como The Atlantic e The New York Times. Ao ler o manuscrito, a designer percebeu a necessidade de capturar o peso emocional da história, sem sacrificar a beleza e a sobriedade da mesma. Foram explorados conceitos que iam desde motivos celestiais até elementos surrealistas, inspirados nos sonhos que Rushdie relatou após o incidente.
Desde o início, Mollica visualizava uma linha de corte atravessando a capa. O conceito tomou forma com Raziuddin substituindo o “i” do título por uma fenda literal. A combinação de texturas digitais e físicas deu profundidade ao design, enquanto a tipografia, retirada da fonte Wulkan Display, equilibrava sofisticação e intensidade. O resultado? Uma representação visual que reflete tanto a dor quanto a beleza presentes na obra.
A escolha das cores também desempenhou um papel crucial. Tons suaves foram utilizados para criar um contraste com a temática sombria do livro. Quando apresentado a Salman Rushdie, o design foi imediatamente aprovado — algo raro no processo de publicação de livros.
O impacto além das páginas
“Devemos julgar um livro pela capa, até certo ponto”, reflete Raziuddin, destacando a importância de um design que traduza a essência de uma obra. No caso de Knife, a capa tornou-se mais do que uma introdução ao conteúdo; é uma extensão da própria narrativa, carregada de significado e emoção.
Para os amantes de literatura e design, a capa desta obra é um lembrete do poder que a arte gráfica tem em contar histórias, evocando sentimentos e permanecendo na memória muito além da última página.