Como é que os media influenciam a confiança nas vacinas?

A forma como os líderes políticos têm recorrido aos meios de comunicação social para abordarem a questão da vacinação contra a Covid-19 tem uma impacto directo na opinião pública e na confiança nas vacinas. Esta é a conclusão do estudo internacional “Trust in Covid-19 Vaccines”, revelado pela empresa de media intelligence Carma.

O estudo incide sobre a ligação entre os media, os líderes políticos e a confiança na vacinação contra a Covid-19 em 12 países na América do Norte, Europa e Ásia. O inquérito conclui que existe uma «correlação clara entre a forma como os líderes políticos fizeram declarações sobre questões altamente científicas e complexas, e a hesitação na toma da vacina por parte da população.»

A Carma dá como exemplo as preocupações que surgiram relacionadas com a vacina da AstraZeneca e os supostos coágulos sanguíneos fatais. A pesquisa indica que a confiança na vacina desta companhia «diminuiu significativamente de Dezembro [de 2020] a Março [de 2021], coincidindo com uma vastidão de declarações de líderes políticos europeus e profissionais de saúde pública, incluindo o presidente francês Emmanuel Macron, que rotulou a vacina como “quase ineficaz acima dos 65 anos”».

Além disso, em países como a França e a Alemanha mais de 40% das manchetes usaram uma linguagem emotiva, sobretudo em artigos relacionados com a AstraZeneca e a Pfizer, sendo que «a maioria dessas manchetes mais sensacionalistas foram publicadas em França». Já em Portugal, 89% das manchetes foram factuais e apenas 11% num tom emotivo e sensacionalista.

De acordo com a Carma, esta abordagem mediática teve um impacto directo no comportamento do público: enquanto a desconfiança francesa em relação à AstraZeneca atingiu 61% em Março, mensagens positivas e sentimento de orgulho nacional na Grã-Bretanha fizeram registar níveis de desconfiança de apenas 9%. O relatório explica que «o comportamento emotivo dos governos de toda a Europa, mais negativo em França comparado com a favorabilidade na Grã-Bretanha, está relacionado com a confiança e a aceitação das vacinas.»

«Este estudo demonstra que a desinformação não existe apenas nos cantos mais obscuros da esfera social e digital, reafirmando o papel fundamental que têm os nossos líderes e governantes. A forma como os governos e a sua liderança se comportam e comunicam tem um impacto significativo na opinião pública e no comportamento dos cidadãos», sublinha Luís Garcia, managing director da Carma em Portugal.

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