Como a lagosta passou de alimento de sobrevivência a símbolo de luxo na moda e na arte
Apesar do seu exoesqueleto vermelho e do estatuto de “insecto do mar”, a lagosta há muito que se afirmou como um símbolo inesperado de luxo. Este crustáceo, agora uma iguaria cara em restaurantes de topo e um ícone cultural na moda e na arte, ultrapassou outros alimentos indulgentes como o caviar e os cortes de carne mais caros.
Nos restaurantes, o preço da lagosta atinge valores elevados: uma paelha de lagosta azul pode custar 230 dólares em Las Vegas, enquanto uma torre de lagosta em Toronto alcança quase 700 dólares. Já no Vietname, uma lagosta gigante com ovo salgado pode chegar aos 460 dólares. No mundo da alta-costura, marcas como Schiaparelli, Dior e Maison Margiela já homenagearam a lagosta nas suas colecções, com celebridades como Zendaya e Lady Gaga a adoptarem o visual. Na arte, a lagosta simboliza poder e longevidade, aparecendo em gravuras japonesas, pinturas flamengas e até em obras surrealistas.
Apesar da sua actual conotação de luxo, a lagosta nem sempre foi vista desta forma. Historicamente, era considerada um alimento de baixo valor, servida a prisioneiros e escravizados na América colonial. No entanto, o seu estatuto evoluiu ao longo dos séculos, com a lagosta a tornar-se um ingrediente desejado em várias culturas. De acordo com a Markets and Research, o apetite crescente da Ásia pelo crustáceo tem impulsionado o seu mercado global, agora avaliado em vários mil milhões de dólares.
Embora a lagosta seja amplamente consumida, as alterações climáticas estão a afectar as suas populações. Nas costas da Nova Inglaterra, as águas mais quentes têm reduzido drasticamente o número de lagostas, o que tem aumentado o seu custo. No entanto, este crustáceo continua a ser um símbolo de status na gastronomia e na cultura visual, mantendo o seu lugar como uma das iguarias mais cobiçadas e um ícone de estilo.
De sobrevivência a alta-costura
Ao longo da história, a lagosta evoluiu de um “alimento de sobrevivência” para um símbolo de opulência. Nos tempos antigos, era difícil capturar e transportar devido à sua rápida decomposição após a morte. No entanto, a lagosta era já valorizada em algumas culturas antigas, como nos mosaicos romanos ou nas cerâmicas da civilização Moche no Peru.
Com o crescimento do comércio marítimo na Europa durante os séculos XVI e XVII, a lagosta tornou-se um prato de destaque nas mesas aristocráticas, simbolizando riqueza e poder. Nas pinturas flamengas da época, a lagosta começou a surgir como parte de cenas exuberantes de banquetes luxuosos. Este crustáceo era um reflexo do novo poder económico, acompanhando frutas exóticas, caça e vinho.
No século XX, a lagosta entrou no mundo da alta-costura, em grande parte graças à colaboração entre Salvador Dalí e a designer italiana Elsa Schiaparelli. O surrealismo elevou a lagosta a um novo patamar, com Dalí a incorporar o crustáceo nas suas obras como um símbolo erótico. Schiaparelli, por sua vez, imortalizou a lagosta na moda com o seu famoso vestido de organza de seda.
Desde então, a lagosta tem sido revisitada por vários designers e artistas, permanecendo um símbolo de extravagância e criatividade.