Como a Google e o Instagram protegem a nossa privacidade
Já ouviu falar em privacidade diferencial? Trata-se de um modelo de cibersegurança que permite às empresas tecnológicas agregar e partilhar dados sobre padrões de comportamento de várias pessoas, ao invés de recolher dados individuais, mantendo assim o anonimato dos utilizadores. A Google é uma das gigantes da indústria que está a apostar nesta tecnologia para proteger a privacidade dos internautas, garantiu Matt Brittin, presidente da Google na região EMEA, durante a DMEXCO.
“Trust” (confiança) é o tema central da edição deste ano da conferência dedicada ao marketing digital, que decorre em Colónia, na Alemanha. Numa altura em que a confiança nos prestadores de serviços de Internet tem sido questionada, sobretudo depois do caso Cambridge Analytica, Matt Brittin apontou a privacidade diferencial como uma das possíveis soluções para o problema. Na prática, este algoritmo permite que os anúncios online sejam direccionados a grupos de pessoas que partilham os mesmos interesses, sem revelar a uma terceira parte (neste caso, o anunciante) os dados ou a identidade de cada um dos membros.
Por outras palavras, «um consumidor só passa a visualizar um anúncio personalizado quando se percebe que partilha os mesmos interesses de milhares de outros utilizadores», explicou Matt Brittin.
Para o presidente da Google EMEA, as bases de dados construídas sob o modelo de privacidade diferencial são uma boa solução para a indústria, juntando-se a outras técnicas igualmente a favor da privacidade, como a publicidade contextual. «Não podemos ter privacidade [no meio digital] se os nossos dados não estiverem seguros. Na Google, nunca vendemos os vossos dados e apenas usamos uma fracção deles para personalizar os nossos serviços», garantiu o responsável, no Congress Stage.
Entre outras medidas que têm sido tomadas pela Google em prol da salvaguarda da privacidade, Matt Brittin referiu a ferramenta “Ad Personalization”, que permite aos utilizadores filtrarem os anúncios que recebem no browser – e inclusive bloquear categorias de anúncios (por exemplo, de futebol) – ou o modo de navegação anónimo, que “esconde” a identidade do utilizador. Com o novo sistema operativo Android 10 passa também a ser possível determinar que aplicações podem – e em que momentos – ter acesso ao GPS do telemóvel.
Matt Brittin lembrou ainda que este ano, e pela primeira vez, a Internet chegou a metade da população mundial. «Temos a obrigação de fazer com que os 3,9 mil milhões de pessoas que ainda não têm esse privilégio possam vir a ter acesso a uma Internet que seja segura e acessível no futuro», rematou, acrescentando que, para que isso aconteça, é necessário que haja maior colaboração dentro do sector.
Os likes ocultos
Para o Instagram, o tema da segurança e privacidade no digital, em particular nas redes sociais, está relacionado não só com a quantidade de informação pessoal que os utilizadores cedem, mas também com a possibilidade que estes têm ou não de proteger os seus próprios resultados e conteúdos. Por isso, num mundo onde o “like” se tornou também uma medida de sucesso ou insucesso, a rede social decidiu recentemente tomar uma medida (no mínimo) surpreendente: ocultar a contagem de likes nas fotos e vídeos.
Em fase de testes nalguns mercados (como Austrália, Brasil ou Itália), esta ferramenta permite aos utilizadores continuarem a saber quantas pessoas gostaram das suas fotos e vídeos, mas ocultar essa informação aos seguidores. No palco da DMEXCO, Ashley Yuki, product management director do Instagram, explicou que a decisão pretende «retirar alguma da pressão social que existe» em torno da obtenção de likes.
A par desta medida, a rede social detida pelo Facebook tem vindo a tomar acções contra o bullying digital. Por exemplo, agora, quando alguém escreve um comentário que pode ser considerado ofensivo, recebe uma mensagem de aviso por parte do Instagram.
Já é também possível a qualquer utilizador restringir a visibilidade que um determinado seguidor tem da sua página (evitando que veja fotos e vídeos publicados desse momento em diante), sem que este saiba e sem que seja necessário bloquear a conta. «Queremos continuar a desenvolver novas formas de manter o Instagram uma plataforma saudável», assegurou Ashley Yuki.
Texto de Daniel Almeida