Combate de titãs: Rita Pereira e Miguel Sousa Tavares
«Estou porque gosto», diz Rita Pereira ao que Miguel Sousa Tavares contrapõe com «não estou porque não quero partilhar». “Estar ou não estar nas redes sociais” foi o mote da conversa que juntou a actriz e apresentadora Rita Pereira e o comentador Miguel Sousa Tavares na XII Conferência Marketeer, com mediação do jornalista da TVI Pedro Pinto. Ontem, na Católica Porto Business School, ficou claro que aquela que é uma das pessoas mais influentes em Portugal nas redes sociais, com 1,2 milhões de seguidores, tem bem ciente na sua cabeça a utilização que dá e quer continuar a dar às redes sociais. «Quero partilhar um pouco do que é a Rita que não é só actriz.»
A verdade, confessou a actriz perante um auditório que se manteve cheio até ao último segundo da conversa, é que antes das redes sociais se tornarem presença constante nas vidas do público Rita Pereira era sempre uma personagem. Durante os “Morangos com Açúcar” era a Soraia, depois foi a Vera de “Dei-te Quase Tudo” e a Estrelinha de “A Fugitiva”. As redes sociais permitiram-lhe ter a liberdade de partilhar informação sobre si própria, mas apenas até ao ponto que quer. «Nunca ninguém viu o meu pai, as minhas irmãs ou a cara por inteiro do meu filho.» A actriz lembra que no passado aquilo que o público sabia sobre si era o que a imprensa partilhava. «E a imprensa muitas vezes partilhava o que eu não queria.» Daí que Rita Pereira saliente, além das vantagens comerciais que as redes sociais lhe trazem, a possibilidade de se poder defender «das notícias absurdas».
A vertente comercial dá-se, claro, quando as marcas apostam em si para comunicarem. Mas deixa claro que nunca ninguém publica nos seus perfis. Apesar de trabalhar com uma agência que valida os textos no caso de contratos comerciais, Rita Pereira garante que controla todas as publicações e comentários. «As respostas doidas e polémicas são minhas», assegura.
Miguel Sousa Tavares garante que não é uma estratégia de Marketing o que o leva a estar, de forma convicta, longe das redes sociais. «Não estou porque não quero partilhar. Não quero encontrar os colegas da primária. Quero que o que é meu continue meu.» O jornalista e escritor não se coíbe de afirmar que o Facebook é mais perigoso do que o fundamentalismo islâmico – tal como já afirmava há 15 anos. «É a devassidão total. É o maior monopólio do mundo. Um homem determina o que podem ver. Todas as acções são monitorizado por governos, secretas, empresas…» Aliás, lembra, são dados que a partir do momento que são publicados, e por muito que os utilizadores tentem apagar, «são indestrutíveis e ficam eternamente guardados». Miguel Sousa Tavares transporta a audiência para a imagem de um rebanho orientado por um algoritmo desenhado por empresas. «Assim se fez eleger o Trump, o Bolsonaro e se deu origem ao Brexit», recorda.
Por tudo isso, o escritor garante viver muito bem fora das redes sociais. Até porque as três horas que em média cada utilizador gasta por dia nas redes sociais, Miguel Sousa Tavares usa para ler, para estar com amigos reais, para procurar notícias e pensar no que se está a passar. E, sabendo que todos os anos há 200 mil pessoas que saem das televisões para as redes sociais em Portugal, deixa um alerta: «Quando se mata a informação mata-se a democracia. O que está a matar a informação são as redes sociais.»
Desafiado por Rita Pereira para ter uma coluna todas as semanas no seu Instagram (@hyndia), o escritor riposta que a tentação de pôr tudo para fora é anti reflexiva. Lembra que ninguém tem um conhecimento instantâneo de todos os assuntos. «Perco muitas horas por dia a informar-me e sei por dever do ofício que é preciso ler muito e que as coisas dão muito trabalho. Precisamos de pessoas que tenham tempo para pensar.»
Pedro Pinto deita mais uma acha para a fogueira questionando se o que impede Miguel Sousa Tavares de avançar para as redes sociais é medo das críticas. «Não é por isso que não estou lá, mas não gostaria de passar por isso», responde com um sorriso. E a crítica é algo com o qual Rita Pereira conta que aprendeu a lidar, sendo que há alguns que a deixam triste e revoltada. «É realmente preciso ter-se estômago para os comentários. Mas quando decidimos estar, decidimos estar para os dois lados. Deixo que comentem, mas se for um comentário ofensivo bloqueio.» E Rita tem noção de que as pessoas o fazem apenas por estarem escondidas atrás de um teclado. «90% das pessoas que comentam para me denegrir cruzam-se comigo e pedem fotografia. As pessoas não têm coragem de dizer cara a cara o que dizem nas redes sociais. É o anonimato que lhes dá força», assegura, lembrando que é actriz e apresentadora tendo a sorte de também ser influenciadora. «Se as redes sociais acabarem eu continuo a ser alguém.»
Ainda que reconheça que as redes sociais se têm revelado úteis em alguns locais nomeadamente no que respeita a ditaduras, Miguel Sousa Tavares lembra que em movimentos como o #metoo, por exemplo, se tem promovido julgamentos sumários de pessoas, há verdadeiros linchamentos populares. «Todos temos de ter consciência de que temos nas mãos uma coisa que pode ser útil ou um monstro. Não há nada mais incontrolável e perigoso do que uma multidão descontrolada.»
Texto de Maria João Lima