Clara Raposo: «A marca ISEG pode sair reforçada desta batalha»

O que ficará depois deste “buraco negro” do novo coronavírus? Que marcas iremos ter? E como é que passarão a estar e a comunicar? Não sendo possível qualquer previsão clara e certa, fomos, contudo, tentar perceber de que forma é que algumas das maiores empresas e marcas em Portugal estão a reagir e como esperam sair do momento mais crítico de todos os tempos, a nível mundial. Vamos todos dar a volta?

Clara Raposo, presidente | dean do ISEG – Lisbon School of Economics & Management, Universidade de Lisboa

1 – O que está a ser feito, neste momento, para que a sua marca não perca relevância?

Com grande rapidez e eficácia, conseguimos manter o ensino a funcionar em e-learning, ou seja, com aulas online e disponibilização de mais materiais na nossa plataforma; esta é a nossa actividade que envolve mais pessoas, são mais de 4500 estudantes no nosso campus. O mesmo sucede no que diz respeito ao planeamento do próximo ano lectivo, em que as candidaturas e admissões se processam online e seguem um rumo tão normal quanto possível.

Eu diria que a rapidez e eficiência com que deslocámos as aulas da Rua do Quelhas para o formato digital surpreendeu muitos pela positiva. Felizmente, foi “dito e feito” num ápice e, melhor ainda, bem feito. Deste ponto de vista, entre os nossos estudantes, professores, todos os colaboradores, as suas famílias e amigos, surgiu uma onda de apoio e de aplauso – pela rapidez na decisão e pelo empenho de todos, dos mais novos aos mais velhos, em mudar radicalmente para minimizar o transtorno na vida dos nossos estudantes.

Tive uma especial preocupação em assumir, desde o primeiro minuto, que “the show must go on” e em comunicar isso mesmo a
toda a nossa comunidade ISEG: professores, funcionários e estudantes. E os meus colegas foram incansáveis em encontrar soluções que nos garantissem que esse objectivo fosse cumprido. Internamente, tenho a certeza que este foi o momento de maior união e solidariedade que já enfrentámos. A comunicação entre todos foi um ponto crucial a salientar. E creio que esta imagem realista de humanismo, profissionalismo e modernidade é a garantia da nossa relevância.

Na verdade, é nos momentos de crise que se vê quem tem fibra e capacidade de resistência. É claro que eu também sinto medo face a tudo o que estamos a ver acontecer, mas o medo racional combate-se com a coragem de quem tem responsabilidades perante muita gente. No nosso caso, a forma como gerimos a crise foi seguir as regras que as autoridades impuseram e mantermo-nos ocupados, colectivamente. Com uma especial preocupação em darmos esse exemplo também às novas gerações. Nunca tinha sentido tanto orgulho no ISEG. Somos, claramente, uma marca de confiança.

2 – E depois deste “buraco negro”, a sua marca será a mesma?

A marca ISEG pode sair reforçada desta batalha, porque somos, efectivamente, uma escola de causas. Temos ainda a mais-valia de demonstrarmos que estamos mais do que preparados para encaixarmos as novas tecnologias e o digital no nosso ensino, e de o fazer com grande qualidade. São lições positivas que retiramos no meio desta enorme crise à escala mundial: que estamos preparados para aquilo que é transformador e que é nas grandes causas e nas grandes batalhas que o ISEG afirma a sua marca. Seja em Portugal, seja no mundo.

O ISEG existe, formalmente, desde 1911: já sobreviveu a duas guerras mundiais, a uma ditadura, a uma guerra colonial, a uma revolução, a um PREC, ao surgimento de concorrentes locais. Se há faculdade que dá provas de capacidade de se reinventar é o ISEG.

Este “buraco negro” vem recordar-nos da precariedade das nossas vidas e do quão dependentes estamos uns dos outros. Na minha escola, o espírito de entreajuda e o pensar no impacto de qualquer decisão na sociedade em geral (para além de no indivíduo ou na empresa) estão sempre presentes. Fazem parte da nossa cultura. Nessa perspectiva, aquilo que me parece é que está na altura de comunicar, como definidor da nossa identidade ISEG, essas características que nos são inerentes: aceitar aquilo que é diferente, debater com seriedade, procurar novas soluções, explorar, pensar no todo.

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