Juliana Penteado, jurada do Masterchef: ‘As redes sociais são cada vez mais importantes como canal de comunicação de negócios’
Juliana Penteado nasceu no Brasil mas é em Portugal que dá cartas. Chef de profissão, Juliana combina criatividade com sabor num processo de criação único.
A inspiração na avó paterna e os sabores da cozinha brasileira serviram de impulso para um primeiro curso de culinária, ainda em Terras de Vera Cruz. Mais tarde, mudou-se para Londres onde frequentou a Le Cordon Bleu, “onde tirei o Grand Diplôme, que é a maior formação da escola em Cozinha e Pastelaria, e aprofundei as bases clássicas da pastelaria francesa”. Já em Paris, teve a oportunidade de trabalhar alguns meses num restaurante, o que lhe permitiu que mergulhasse no universo exigente da cozinha francesa onde também assume ter aprendido a importância do rigor e da atenção aos detalhes.
Em Portugal, Juliana foi chef de pastelaria no restaurante “100 Maneiras”, do Chef Ljubomir Stanisic, “onde pude explorar técnicas e aprender mais sobre o equilíbrio entre tradição e inovação. Essa experiência também me ajudou a compreender melhor a gastronomia portuguesa e a valorizá-la no meu trabalho”
Tudo culminou na criação de uma pastelaria a que deu o seu nome, “Juliana Penteado Pastry”, e onde os sabores, as histórias e as memórias se encontram em doces cheios de autenticidade.
Em entrevista à Marketeer, a chef levantou uma pontinha do véu sobre a sua arte, os segredos, as apostas, as conquistas e os objetivos de uma carreira promissora e, acima de tudo, saborosa.
A sua loja na Calçada da Estrela, inaugurada em 2021, já se tornou um marco em Lisboa. Uma aventura que começou em São Paulo, no Brasil. Não é assim?
Sim, tudo começou em São Paulo, de onde eu sou natural. A verdade é que quando era pequena, estava muitas vezes com a minha avó paterna, que era uma excelente cozinheira. Acho que, de certa forma, ela acabou por ser a minha maior inspiração, ainda que nunca tenha trabalhado no ramo. Quando tinha 12 anos, decidi aventurar-me nesta área e inscrevi-me no meu primeiro curso de cozinha. Nessa altura, o único contacto que tinha com Portugal também era através da gastronomia. Apesar de a minha família ser toda do Brasil, era habitual ver bacalhau ou outros doces típicos portugueses à mesa. Quem diria que, mais tarde, seria o país pelo qual iria apaixonar-me e onde abriria a minha própria loja de doces.
Qual é o conceito da pastelaria?
O conceito que apresentamos tem como base a utilização de óleos essenciais específicos para uso culinário, um aspeto bastante diferenciador. Usamos 34 óleos essenciais diferentes e, graças a eles, conseguimos tornar os sabores dos nossos doces – que variam todas as semanas – ainda mais únicos e deliciosos.
Quais foram as principais estratégias de marketing para aumentar a visibilidade e o reconhecimento da pastelaria?
Uma das principais estratégias de marketing que contribuíram para a visibilidade da minha pastelaria foi criar um conceito único e diferenciado que combina a técnica da pastelaria francesa, que estudei com um profundo vínculo às minhas origens, à minha cultura e à minha família. Esta abordagem resultou em doces que não só encantam pelo sabor, mas também pela sua estética exímia, com detalhes minuciosos, e a exploração de cores e texturas que chamam a atenção à primeira vista.
O uso de óleos essenciais, que está no centro do meu conceito, é um elemento pioneiro na gastronomia. Embora algumas práticas pontuais noutros locais possam recorrer aos óleos essenciais, um conceito inteiro baseado nisso é algo inovador e exclusivo, o que desperta a curiosidade e o interesse do público.
A partir desse momento, foquei-me em destacar o caráter sazonal e a qualidade dos ingredientes que uso nos doces. Fui mostrando como os óleos essenciais proporcionam sabores únicos e elevam qualquer experiência gastronómica. Para além disso, mantive uma comunicação próxima e autêntica, ao interagir diretamente com quem acompanha o meu trabalho da pastelaria, o que gerou ainda mais engagement e fidelização.
Como é que a identidade visual e a estética dos seus doces são atraentes para a imagem de marca da Juliana Penteado Pastry?
Os meus doces e produtos são visualmente ricos em cor e texturas. Por isso, transmitem alegria, criatividade e diversão. Esses também são os valores da Juliana Penteado Pastry. Acho que existe uma grande harmonia em tudo o que damos a provar e que a estética dos meus doces reflete a forma como a minha marca quer ser vista e percebida pelo público.
Além disso, o facto de serem tão diferentes e terem uma personalidade tão própria, torna-os talvez mais memoráveis para os clientes. E uma vez que transmitem tão bem o que a minha marca representa, fazem com que ela própria seja facilmente reconhecível e memorável.
Qual a importância da sustentabilidade na sua pastelaria e como isso se reflete nas práticas e escolhas diárias?
A sustentabilidade é muito importante para mim e implemento-a de várias formas. Desde a procura por ingredientes sazonais, às parcerias com fornecedores locais, tento sempre que tudo o que eu preciso para confeccionar os meus doces esteja o mais próximo possível de mim e da minha loja. Para além disso, os óleos essenciais a que recorro são extraídos de plantas, o que permite uma melhor gestão de recursos, uma maior duração dos ingredientes e evita recorrer a aromas e ingredientes artificiais, que podem várias vezes gerar uma maior pegada ambiental.
Qual é a importância das redes sociais no marketing da pastelaria e como utiliza essas plataformas para se conectar com os clientes?
Acho que as redes sociais são cada vez mais importantes como canal de comunicação de negócios, sobretudo de gastronomia e pastelaria. As pessoas começam por “comer com os olhos”. Por isso, como referi anteriormente, é importante trabalhar no aspecto estético da comida e partilhá-lo em diferentes formatos – tanto em fotografia como em vídeo. Um grande exemplo disso é o chef de pastelaria francês Cédric Grolet, que hoje é um fenómeno no TikTok ou no Instagram.
Uma vez que o cliente já conhece o aspeto dos doces e quem está por detrás deles – que para mim é também essencial – torna-se muito mais fácil estabelecer uma relação com ele e, mais tarde, levá-lo a provar. Mas lá está, trata-se tudo de uma experiência que deve estimular vários sentidos: começamos por despertar a visão dos clientes nas redes sociais e chamamo-los a virem conhecer-nos na loja para poderem ver, cheirar, sentir e provar os doces.
Quais foram os principais desafios que enfrentou na construção da sua marca em Portugal, e como os superou?
Penso que os mesmos que um empreendedor enfrenta. Empreender, em qualquer lado do mundo, é muito difícil, é solitário, é um processo em que é preciso um capital inicial, independente de onde ele venha. É um processo que exige coragem e dedicação. No meu caso, senti que estava preparada para dar esse passo. Claro que decidir começar a minha marca no início da pandemia foi um risco que corri. Mas, felizmente, correu super bem, acho que o meu objetivo de lançar a minha marca para trazer momentos de alegria, de bem-estar às pessoas foi alcançado.
Como se sente por participar como júri do próximo Masterchef Portugal e o que espera trazer para o programa?
Aceitar o convite para ser jurada do MasterChef Portugal foi uma decisão que me deixou imensamente feliz e honrada. O programa é uma referência para quem ama gastronomia e, ao longo dos anos, inspirou tantas pessoas a explorar o mundo da culinária. Fazer parte deste projeto é uma oportunidade incrível para partilhar o que aprendi ao longo da minha trajetória, desde as bases técnicas da pastelaria até à abordagem mais intuitiva que desenvolvi.
Para mim, é muito gratificante poder incentivar e ajudar a descobrir novos talentos na gastronomia em Portugal. Esta troca é uma das coisas que mais me entusiasma neste novo desafio.
De que forma esta participação pode impactar a marca e atrair novos clientes?
Participar como jurada no MasterChef Portugal é, obviamente, uma oportunidade única para dar mais visibilidade aos meus doces, mas também ao meu percurso. Acho que a minha trajetória, desde o curso de Nutrição e o trabalho no Grupo Fasano, no Brasil, até à criação da minha própria pastelaria em Lisboa, pode inspirar muita gente.
O programa tem uma audiência que ama gastronomia e está sempre à procura de novas referências. Poder mostrar o meu estilo único, que combina técnicas de pastelaria francesa, com um toque de tradição e a inovação com óleos essenciais, é uma forma de mostrar às pessoas que é possível seguir um sonho e que arriscar pode dar frutos muito bons.
Na sua opinião, qual é o papel da inovação e da criatividade na pastelaria moderna, e como vê o futuro da pastelaria em Portugal?
A inovação e a criatividade são essenciais para a pastelaria moderna. Elas permitem que a tradição evolua, mantendo-se relevante para diferentes gerações. Acho que o grande desafio da pastelaria contemporânea é encontrar formas de surpreender o paladar sem perder a essência dos sabores clássicos.
Em Portugal, vejo um futuro muito promissor. Há uma valorização crescente da doçaria tradicional, mas também um interesse em experimentar e inovar. Isso cria um equilíbrio perfeito entre o respeito pelas receitas de sempre e a vontade de criar algo novo. Acredito que há espaço para todos.
O uso de ingredientes mais sustentáveis, técnicas modernas e até a introdução de novos sabores — como os óleos essenciais que utilizo — serão tendências que continuarão a crescer. O futuro da pastelaria em Portugal será, sem dúvida, um reflexo da sua rica herança, mas com um olhar muito aberto para o mundo.