Centros comerciais e a revolução energética: Oportunidades emergentes num sector em transformação
Por Mário Barros, Cluster Operations manager da Ingka Centres para o Sudoeste da Europa e presidente da Mesa da Assembleia Geral da Associação Portuguesa de Centros Comerciais
Não é novidade para ninguém que estamos a testemunhar uma transição significativa para fontes de energia mais limpas e eficientes. A mudança é tão evidente que a vemos numa multitude de áreas na sociedade.
Começando pela revolução da mobilidade, com a popularização dos carros elétricos e carregadores de baterias, e o consequente impacto na indústria automóvel global, subestimar esta evolução seria um erro, do meu ponto de vista. De acordo com o site rhomotion.com, apesar da UE e dos EUA terem tido um crescimento negativo de 3% na comercialização de veículos elétricos em 2024, globalmente o crescimento do setor foi superior a 25%. Existem vários motivos para explicar esta inesperada tendência, mas se o leitor tem interesse no tema e quer desenvolver a sua própria opinião, recomendo a leitura do relatório publicado anualmente pela Agência Internacional de Energia, intitulado “Trends in electric cars”. A indústria automóvel europeia, sendo um dos maiores empregadores do continente, arrisca-se a ser uma das mais afetadas, caso os cenários previstos se concretizem. As notícias recentes não são animadoras.
Os principais fatores que impulsam esta transição nas fontes de energia são: legislação favorável, inovações tecnológicas na área da energia, especialmente no armazenamento, e a crescente consciência e adoção pública. Isto significa que o consumidor procura, o legislador incentiva e as empresas inovam.
Na área da legislação, destaco alguns exemplos já em prática, tanto em Portugal como em outras geografias: em Lisboa, em certas zonas, já é proibida a entrada de veículos anteriores a 2000. A partir de 2025, os produtores de automóveis não poderão ultrapassar um limite de emissões de CO2 nas vendas totais, forçando a venda de carros elétricos. Em França, parques de estacionamento com mais de 10.000 m² são obrigados a instalar painéis solares.
Não são apenas os consumidores e legisladores que estão a impulsionar esta mudança. Estamos também a ver uma corrente de responsabilidade social nas empresas. Recomendo visitar www.bteam.org, uma organização que promove “uma forma melhor de fazer negócios para o bem-estar das pessoas e do planeta”, com um conselho de líderes composto por CEOs, membros fundadores e outras figuras de destaque de empresas líderes em várias áreas de negócios.
Na Ingka Centres, chamamos aos nossos centros comerciais de meeting places. São locais de encontro onde tentamos oferecer aos nossos clientes mais do que retalho. Tentamos apoiar a comunidade envolvente e, sobretudo, ter um papel ativo na agenda global de sustentabilidade.
Para o setor, tradicionalmente focado em vendas, é crucial entender e aproveitar as oportunidades emergentes, para além da implementação de energia solar e a eficiência energética nos edifícios que gerimos. Vejo três pontos principais: atender à procura dos consumidores, educar sobre a transição energética e apoiar novos negócios e marcas.
À medida que a consciência ambiental cresce, os consumidores estão cada vez mais exigentes em relação às práticas sustentáveis das empresas. Os centros comerciais terão um papel crucial na criação de canais de venda exclusivos para estas novas empresas, proporcionando-lhes uma plataforma para alcançar o consumidor final. Além disso, será comum assistirmos a eventos, workshops, seminários, exposições e feiras dedicadas a produtos sustentáveis, atraindo um público consciente e aumentando a visibilidade das marcas. Isso não só aumenta a consciência, mas também facilita a aceitação e adoção de práticas sustentáveis, nomeadamente na área energética onde as soluções não são atualmente mainstream e interconectadas.
Desta forma, ao promover novas empresas e startups, os centros comerciais oferecem um espaço físico onde estas marcas podem estabelecer-se e crescer. Porque não facilitar parcerias entre empresas complementares, criando um ecossistema onde produtos e serviços sustentáveis são interconectados? Por exemplo, uma loja de veículos elétricos pode colaborar com uma fornecedora de acessórios de carregamento residencial, oferecendo uma experiência completa e integrada ao consumidor.
Os centros comerciais têm um papel vital na revolução energética e ambiental. Todos temos. Detetar e aproveitar as oportunidades emergentes é estratégico, especialmente porque a transição é rápida e a obsolescência também.
E você, leitor, consegue identificar as oportunidades emergentes na sua indústria?