Zeiss: A lente do passado que olha para o futuro

A história da Zeiss começou há 175 anos, numa pequena oficina na cidade de Jena, na Alemanha. A 17 de Novembro de 1846, o jovem Carl Zeiss abriu uma oficina de mecânica de precisão e óptica. Rapidamente começou a ter clientes fiéis em áreas como a das ferramentas, instrumentos científicos, óculos, balanças químicas, instrumentos de desenho e telescópios. Com a fama a chegar longe, três anos após abrir as portas, as oficinas Zeiss gozavam de boa reputação entre microscopistas, cientistas e profissionais médicos. Nesse seguimento, Carl Zeiss desafiou Ernst Abbe, professor de Física na Universidade de Jena, a criar uma base matemática para projectar o microscópio. O trabalho conjunto havia de elevar o processo de construção do microscópio a outro patamar e ao lançamento das bases do ADN Zeiss: um trabalho contínuo da empresa com a ciência.

«Hoje, a Zeiss é uma empresa de tecnologia líder mundial que opera nas indústrias óptica e optoelectrónica. Dividida em quatro segmentos – Semiconductor Manufacturing Technology, Research & Quality Technology, Medical Technology, Vision Care/Consumer Optics –, a empresa emprega mais de 32 mil pessoas em quase 50 países, com cerca de 30 locais de produção, 60 empresas de vendas e serviços e 27 instalações de pesquisa e desenvolvimento», conta Tiago Almeida, head of Commercial da Carl Zeiss Vision Portugal.

Com a ajuda do químico de vidro Otto Schott, também da Universidade de Jane, a empresa entraria numa nova fase ao produzir, com sucesso, vidro que oferecia novas propriedades ópticas. «Estes desenvolvimentos foram o embrião de um casamento com 175 anos entre a investigação científica e a perspicácia empresarial. Uma atitude que ainda hoje vive no ADN da Zeiss e tem aberto caminho para muitas inovações tecnológicas», afirma o responsável, referindo que a Zeiss investe 13% da sua receita em pesquisa e desenvolvimento.

A inovação é transversal à história da Zeiss. Se, por um lado, a Zeiss esteve envolvida na aterragem na Lua, a 20 de Julho de 1969, esteve também na base dos planetários que hoje existem pelo mundo. Por outro, o nome Zeiss também é sinónimo de óptica litográfica líder mundial, que é usada pela indústria de chips para fabricar componentes semicondutores.

Ao nível das lentes oftálmicas e depois de desenvolver o primeiro tratamento anti-reflexo há cerca de 85 anos, os cientistas da Zeiss continuaram a impulsionar o seu desempenho. Os tratamentos Premium AR da Zeiss são conhecidos por oferecerem excelentes propriedades anti-reflexo. Mais recentemente, os cientistas disponibilizaram lentes oftálmicas que contêm nanopartículas de prata antimicrobianas. Uma inovação que, embora não atenda aos padrões de equipamentos de protecção individual, permite actuar como um escudo entre o utilizador e o meio ambiente, servindo como uma medida adicional para ajudar a prevenir a exposição a diversos agentes patogénicos. «Podemos dizer em jeito de resumo que, até hoje, a Zeiss está a moldar a oftalmologia e a microcirurgia, com mais de 100 inovações e 180 patentes», sublinha Tiago Almeida.

No que respeita à actuação da marca em Portugal, pese a dimensão do mercado, Tiago Almeida destaca o papel do País no negócio da empresa. «É sabido que somos um país pequeno em área, mas muito grande em resultados. Estamos orgulhosamente no Top 3 mundial com uma das maiores cotas de mercado. Em Portugal a Zeiss detém mais de 20% de cota com uma tendência de crescimento para os próximos anos», revela.

PARCEIRO DA CRIATIVIDADE

Para além da associação à indústria espacial e medicina, os produtos da Zeiss também têm auxiliado a produção artística. E um dos casos é a solução que permitiu ao pintor Claude Monet melhorar a sua visão.

No arranque do século XX, a oftalmologia estava a dar um salto quântico. O oftalmologista sueco e mais tarde Prémio Nobel, Allvar Gullstrand, e Moritz von Rohr estavam a trabalhar com a Zeiss e desenvolveram, em 1912, as lentes asféricas para os doentes submetidos à cirurgia de catarata – as lentes Katral.

«Essas lentes tinham como missão compensar a visão extremamente defeituosa que os pacientes suportavam após a cirurgia, quando o olho desprovido das suas lentes naturais não consegue mais difractar efectivamente a luz que entra para projectar uma imagem nítida na retina. Por essa altura, Monet foi diagnosticado com catarata e a solução passou pela cirurgia, com a consequente remoção do cristalino natural do olho. Embora não fosse o ideal, os óculos eram a única forma de Monet pintar de novo», conta Tiago Almeida.

Assim, Monet experimentou diferentes pares de lentes e consta que um deles teve um efeito azulado, que levou o pintor a perceber a cor com maior intensidade. «A partir daqui as obras de Monet falam por si», refere o responsável.

Noutra vertente, a Zeiss também tem permitido aos realizadores de Hollywood materializarem as suas ideias.

«No caso das câmaras fotográficas e de filmar, as lentes Zeiss são uma ferramenta essencial e já demonstraram ser as preferidas de muitos produtores de Hollywood. Por exemplo, entre as ferramentas dos produtores da trilogia “O Senhor dos Anéis”, contavam-se mais de 100 lentes objectivas da Zeiss», afirma.

CONTRIBUIÇÃO CIENTÍFICA

A Zeiss conta com uma fundação com o nome do seu fundador, criada no final da década de 1880, em Jena, quando Abbe procurava uma forma de assegurar a existência a longo prazo da fábrica que tinha criado com o seu parceiro Carl Zeiss.

«Com o objectivo de tornar o legado perpétuo, Ernst Abbe construiu a fundação sob uma “fórmula jurídica” que determina tanto o tipo de actividade empresarial, como a forma como os lucros gerados pela actividade empresarial devem ser utilizados. Com isto, assegurou que as actividades das empresas fundadoras se concentrassem permanentemente na ciência e tecnologia; que existisse um núcleo permanente de pessoal para a produção sofisticada de instrumentos mecânicos e ópticos de precisão, e que na Universidade de Jena fossem apoiados os cientistas que pudessem acrescentar benefícios para as empresas fundadoras», explica Tiago Almeida. Desta forma, os fundos da fundação foram utilizados para a criação de institutos universitários, apoiar cátedras e promover projectos de investigação.

«Hoje a Carl Zeiss Foundation é uma das maiores fundações privadas que fornece financiamento científico na Alemanha. A sua principal missão é garantir o futuro a longo prazo das duas empresas fundadoras e a promoção da ciência. Para tal, a fundação, que tem uma administração independente, não pode vender as acções das duas empresas, e, com os dividendos da Carl Zeiss AG e Schott AG, fornece financiamento para pesquisa e ensino nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática.

BEM-ESTAR DOS COLABORADORES

O head of Commercial refere que, «ao longo das décadas, a consciência dos colaboradores, que trabalham numa empresa com condições de propriedade invulgares, sempre dificultou que os grupos políticos ganhassem qualquer influência sobre a força de trabalho. Esta situação levou mesmo a que os colaboradores Zeiss fossem apelidados de “aristocracia operária”, pois a fundação concedia direitos sociais muito à frente do seu tempo », vinca. A título de exemplo, cada colaborador recebia um salário mínimo ou salário acordado, que não podia ser reduzido em circunstância alguma. Todos os anos, os trabalhadores recebiam um salário ou suplemento salarial que dependia dos lucros gerados pela empresa. E contavam ainda com seis dias de férias anuais remuneradas. Em 1875, foi criado um seguro de saúde. Os empregados que aderissem à empresa antes do seu 40.º aniversário tinham direito a uma pensão de invalidez ou de reforma, após cinco anos de serviço. Em 1900, a Zeiss Works foi uma das poucas empresas alemãs a introduzir o dia de trabalho de oito horas.

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Marcas”, publicado na edição de Outubro (n.º 303) da Marketeer.