Turismo dos Açores: Uma pérola que deve ser preservada

Conhecido pela sua beleza natural ímpar e pelos cenários deslumbrantes que são verdadeiros “postais”, o arquipélago dos Açores tem sido, nos últimos anos, o local de férias de eleição de milhares de turistas portugueses e estrangeiros que procuram nas ilhas do Atlântico Norte um destino pleno de segurança – tão prezada em tempos de pandemia –, mas também propício à descoberta e aventura, e com uma oferta gastronómica que promete surpreender e convidar a repetir.

Se os argumentos não fossem já suficientes, no final de 2019 os Açores tornaram-se no primeiro arquipélago do mundo (e a primeira região do País) a ser reconhecido como “Destino Turístico Sustentável”, ao obter a certificação de “Prata” pelas mãos da EarthCheck. A certificação respondeu aos critérios do Global Sustainable Tourism Council (GSTC), organismo internacional de acreditação para a certificação de turismo sustentável, e foi o corolário de um trabalho desenvolvido desde 2017.

De resto, a crescente preocupação com a preservação dos recursos naturais do arquipélago é uma das prioridades da Região Autónoma dos Açores, que tem vindo a colocar em prática uma estratégia alargada de desenvolvimento sustentável para o território. Nesse sentido, para preservar o meio natural e os ecossistemas, os Açores visam manter baixos níveis de desenvolvimento urbano (actualmente apenas 5% do território é “urbanizado”), na esperança de preservar as suas “jóias” naturais.

Para garantir que este objectivo é cumprido, são várias as políticas de sustentabilidade em vigor, que abarcam áreas como a conservação da natureza e protecção da biodiversidade; a produção e gestão da energia; a gestão e fiscalização do ruído, da qualidade do ar, dos resíduos e da água; acções de promoção e educação ambiental; e a valorização dos produtos autóctones, do património e da cultura açoriana.


DESTINO DE NATUREZA

Cada uma das nove ilhas do arquipélago dos Açores tem as suas características, as suas próprias “jóias” naturais: os fósseis de Santa Maria; as lagoas de São Miguel; as grutas da Terceira; os cones da Graciosa; as fajãs de São Jorge; a Montanha do Pico; o vulcão dos Capelinhos no Faial; as cascatas das Flores; e o Caldeirão do Corvo são apenas algumas das principais atracções.

Porém, a lista de parques naturais, áreas protegidas (que correspondem a quase 25% do território do arquipélago), espécies de flora e fauna com estatuto de protecção, reservas florestais, geopaisagens e locais com interesse geológico para visitar é extensa, tornando os Açores num autêntico santuário de biodiversidade e de geodiversidade, e um dos melhores destinos para a prática de Turismo de Natureza.

O leque de experiências ao ar livre e em plena sintonia com a natureza é vasto e responde a todos os gostos e preferências. Desde logo, quem privilegia a saúde e o bem-estar pode banhar-se nas inúmeras nascentes de água carbónica, cascatas e piscinas de água férrea.

Para os mais aventureiros, nomeadamente os amantes do BTT, não faltam trilhos para explorar em cima de duas rodas, seja a percorrer os single tracks ultratécnicos que ligam as montanhas mais altas às praias e fajãs, ou os estradões rolantes que circundam as lagoas ou cruzam as serras. Já para quem prefere as caminhadas tem à sua disposição uma rede de caminhos pedrestres e trilhos que liga quase todos os recantos de cada uma das ilhas.

Mudando de elemento, esta é também uma região de excelência para a prática de desportos de ondas, tais como o surf, bodyboard, stand up paddle ou windsurf. Durante o período de Inverno predominam as ondulações fortes do quadrante norte geradas junto à Terra Nova (Canadá), enquanto nos meses de Verão se fazem sentir as ondulações de sul geradas pelas tempestades tropicais que passam a sul das ilhas, conhecidas entre a população local como “inchas” ou “marés de Agosto”.

A observação de cetáceos é outra das actividades a integrar na agenda, ou não fossem os Açores um dos maiores santuários de baleias do mundo. Entre espécies residentes e migratórias, comuns ou raras, estima-se que existam mais de 20 tipos diferentes de cetáceos nas suas águas – um número que corresponde a 1/3 do total de espécies existentes.


GASTRONOMIA LOCAL

Tanta actividade ao ar livre abrirá seguramente o apetite. E, felizmente, os produtos e pratos açorianos são outro dos pontos fortes da região enquanto destino. As opções na “carta” são muitas e para todos os gostos. Para entrada, a escolha poderá recair no inconfundível Queijo de São Jorge, conhecido pelo seu sabor picante, que promete despertar o palato. A acompanhar, o sabor contrastante do Bolo Lêvedo, um bolo doce que é hoje uma das especialidades do vale das Furnas, na ilha de São Miguel.

Nos pratos principais, as opções são variadas. Para os apreciadores de marisco, o leque de produtos locais inclui as famosas cracas (tradicionalmente cozidas com a própria água do mar), as amêijoas (apanhadas apenas na Lagoa da Fajã do Santo Cristo, na ilha de São Jorge) e as lapas (sejam grelhadas com manteiga e alho ou como base de arroz). A carne de vaca açoriana promete fazer as delícias de quem opta por outro tipo de proteína. Proveniente de vacas que crescem livremente em pastos orgânicos e naturais, apresenta um sabor e textura únicos, com indicação geográfica protegida. O Bife à Regional com pimenta da terra, o Cozido das Furnas confeccionado nas caldeiras vulcânicas no interior da terra ou a típica Alcatra da Terceira (cozinhada no forno a lenha, durante muitas horas) são ícones gustativos a que se juntam os torresmos de molho de fígado e os enchidos, como a linguiça e a morcela, entradas típicas nas mesas insulares.

O vinho açoriano casa com qualquer um destes pratos, ou não fosse o território influenciado pelo solo vulcânico e pelo Atlântico, propício a vinhos brancos secos e vinhos fortificados.

O conhecido ananás dos Açores, que demora cerca de dois anos em produção em estufas de vidro até chegar ao prato, promete finalizar qualquer refeição em beleza. Mas se o estômago pedir algo mais doce, são várias as iguarias tradicionais à escolha, destacando-se as queijadas da Vila (tradicionais de Vila Franca do Campo, em São Miguel), as queijadas da Graciosa (tradicionais da Vila da Praia, na Graciosa) e as Donas Amélias (típicas da ilha Terceira, cuja receita inclui especiarias e mel).

Outro produto estrela da gastronomia açoriana é o chá, ou não ficasse situada em São Miguel a única plantação de chá da Europa. Hoje, duas fábricas locais ainda trabalham e produzem chá preto e verde, utilizando as mesmas técnicas tradicionais.


UM DESTINO CERTIFICADO

Além de ter sido distinguido como “Destino Turístico Sustentável”, pela EarthCheck, os Açores têm vindo a acumular diversos prémios nas áreas do turismo e da sustentabilidade. Estes são alguns dos prémios mais recentes: os Açores foram distinguidos como um dos destinos europeus mais seguros para viajar em 2021, pela organização cultural e turística European Best Destinations; prémio de “Prata” na categoria “Região Mais Desejável (de Curta Distância)”, no âmbito dos Wanderlust Travel Awards; “Melhor Destino de Aventura da Europa” em 2021, pelo segundo ano consecutivo, numa atribuição dos World Travel Awards.

Nos Açores encontram-se ainda quatro das oito Reservas da Biosfera existentes em Portugal: Graciosa e Corvo (classificadas desde 1997), Flores (desde 2009) e a Reserva da Biosfera das Fajãs de São Jorge (desde 2016). Por outro lado, desde 2013, o Geoparque Açores é único no mundo por possuir 121 geossítios em nove ilhas, abrangendo todo um arquipélago. Ao abrigo da Convenção de Ramsar, a região tem 13 sítios classificados, tais como as lagoas das Fajãs dos Cubres e da Caldeira de Santo Cristo (São Jorge), a Caldeira da Graciosa, ou os complexos vulcânicos das Furnas, das Sete Cidades e do Fogo (São Miguel), entre outros. O arquipélago conta ainda com duas áreas que são Património Mundial da UNESCO, que são a cidade de Angra do Heroísmo (primeira em Portugal, em 1983) e a paisagem da cultura da vinha da ilha do Pico (2004).


E
ste artigo faz parte do Caderno Especial “Turismo”, publicado na edição de Fevereiro (n.º 307) da Marketeer.

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