ISAG: O marketing agroalimentar da verdade.Tendência ou utopia?

Por Rui Rosa Dias, professor do ISAG – European Business School e Investigador do CICET-FCVC

Actualmente, os diferentes sistemas agroalimentares e florestais, essenciais à nossa vida e estabilidade, estão a sofrer uma enorme pressão. É crítico o que está a acontecer na cadeia de suprimentos, fundamentalmente, a montante. A escalada de preços nas matérias-primas, o problema global da logística das entregas e a possibilidade de cenários de acordos implícitos na formulação dos preços, portanto, algo similar a uma orientação com base em mercados cartel, podem suscitar um grave problema: o desabastecimento dos mercados.

Para enfrentar e tentar minimizar estes movimentos de variáveis mercadológicas incontroláveis, cada país deveria, por um lado, acautelar-se no sentido de promover e fomentar a capacidade produtiva interna e, por outro, garantir estabilidade aos operadores, nomeadamente, na aquisição das matérias-primas a preços não especulativos. Tarefa árdua dado que a economia funciona num mercado livre em que oferta e procura se equilibram face às alterações das variáveis que as compõem.

Não pensemos que Portugal não tem produtos competitivos o suficiente para enfrentar a competição mundial. Áreas como os vinhos e os azeites provam-nos o contrário e têm, nos recentes anos, estado em destaque, com prémios e reconhecimentos internacionais que colocam o País no patamar que merece: um dos melhores produtores a nível mundial.

Estes produtos de excelência, que assentam a sua estratégia de marketing e comunicação em ambiente below the line, reúnem motivos reais para serem os motores da mudança de paradigma no sector dos alimentos: o conceito de transparência e/ou, se desejarmos, o conceito do “marketing da verdade”.

Hoje, mais do que nunca, impõe-se que se comunique com total transparência. Descodificar um produto alimentar e toda a comunicação que o rodeia é algo difícil e complexo. Saber quem é o produtor, o rosto que está por detrás de determinado produto, as fases pelas quais o processo produtivo passa, estabelecerão, num futuro próximo, a nova era agroalimentar. As empresas que não assumirem esta vertente poderão correr o risco de não participar numa mudança que já é visível. A este respeito, um recente estudo sobre tendências agroalimentares para o período 2017-2027, baseado na opinião de 24 experts dos sectores académicos público e privado, aponta como possível o consumidor vir a decidir as suas preferências alimentares com base num índice de equidade a figurar nas embalagens. Este índice terá como variáveis os diferentes impactos positivos ou negativos, nas vertentes sociais, ambientais e naturalmente económicas. Com estes ou outros mecanismos, a verdade e a transparência vão crescer enquanto reforço da excelência dos produtos agroalimentares.


Este artigo faz parte do Caderno Especial “Vinhos, Azeites e Vinagres”, publicado na edição de Dezembro (n.º 305) da Marketeer.

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