Delta Cafés: Pelo futuro do café

Desde 2018 que a Delta Cafés trabalha com a International Coffee Partners (ICP) no desenvolvimento de uma cultura de café mais justa, responsável e sustentável. A decisão de se juntar a esta organização surge em linha com uma estratégia de colaboração que envolve vários parceiros internacionais e que, neste caso, tem como missão apoiar pequenos produtores de café de diferentes pontos do mundo na melhoria da sua competitividade e do futuro das suas famílias, promovendo práticas sustentáveis.

«Na Delta Cafés temos muito orgulho em fazer parte da família ICP. Desde o momento em que conhecemos o seu trabalho, percebemos que este é um projecto que possui os valores próprios da família, o cuidado com a sociedade e com o café», explica Rui Miguel Nabeiro, CEO do Grupo Nabeiro-Delta Cafés, justificando o interesse nesta organização.

Fundada em 2001, a ICP nasce pelas mãos da Tchibo (Alemanha), Lavazza (Itália), Paulig (Finlândia), Löfbergs (Suécia) e Neumann Kaffee Gruppe (Alemanha) com o objectivo de abordar e dar resposta a questões com que se deparam os pequenos agricultores, garantindo o futuro do café. Mais tarde, juntar-se-iam a Joh. Johannson (Noruega) e a Franck (Croácia), que ajudaram a organização a impactar mais de 74 mil famílias de agricultores num total de mais de 10 países, como Uganda, Indonésia, Brasil ou Honduras.

Há cerca de três anos, a Delta Cafés uniu-se a este grupo de empresas pertencentes a famílias europeias para reforçar, através do seu expertise, o trabalho que já vinha a ser desenvolvido. Em comum, todos os membros da ICP têm o facto de partilharem a mesma ambição: assegurar as perspectivas dos meios de subsistência das famílias produtoras de café e respectivos descendentes, bem como oferecer formação em áreas que se afiguram cruciais, como desenvolvimento organizacional. A ICP esforça-se também para que as mulheres se tornem empreendedoras e empresárias nestas regiões, contribuindo para o combate à desigualdade de género.

Rui Miguel Nabeiro lembra que, ao longo das décadas, a empresa fundada pelo seu avô tem investido em muitos projectos que são socialmente responsáveis, quer em Portugal, quer noutros territórios além-fronteiras. «Estamos comprometidos e empenhados no progresso da nossa indústria, bem como no bem-estar da sociedade. Com a ICP, a Delta Cafés une-se a outras importantes empresas de café de propriedade familiar, para trabalhar em conjunto com as famílias de produtores que levam café às nossas mesas todos os dias», acrescenta o CEO.

 

SECTOR EM EXPANSÃO

Em Junho deste ano, as exportações mundiais de café atingiram 11,2 milhões de sacos de 60 quilos, de acordo com os mais recentes dados da International Coffee Organization. A indústria está a passar por uma fase de crescimento que poderá implicar um desafio adicional para os pequenos produtores, que precisam de mais apoio para continuar a cultivar os grãos, que mais tarde ganham vida nas chávenas de milhões de apreciadores de café. E este paradigma de mudança nota-se já na estratégia da ICP.

Quando foi criada, a ICP desenvolvia projectos relativamente pequenos, nomeadamente nas Honduras e na Guatemala, com cerca de 350 famílias abrangidas. «Ao longo dos anos, fomos fazendo crescer a dimensão das nossas intervenções e, neste momento, chegamos a aproximadamente três mil famílias», revela Michael Opitz, director-geral da ICP, em declarações à DdD – D de Delta, revista do Grupo Nabeiro. Hoje, os dedos das mãos não chegam para contar as geografias onde a ICP está presente, sendo que os projectos diferem, em dimensão e em abordagem, consoante o país e as comunidades a que se destinam.

Segundo a Delta Cafés, as dificuldades de uns não são as dificuldades de outros e a melhor forma de garantir que a ajuda certa chega aos produtores e às famílias certas é investir em equipas locais, que conhecem bem a realidade de cada território. Além disso, alguns dos agricultores apoiados pela organização acabam por se transformar também em porta-vozes da ICP, por se destacarem por entre os vários participantes nos programas desenvolvidos. Por isso mesmo, a rede investe neles e oferece-lhes as ferramentas necessárias para que possam partilhar aquilo que vão aprendendo. Com esta estratégia, a ICP consegue chegar a mais pessoas e desenvolver projectos estruturados e duradouros, graças a equipas fixas e totalmente dedicadas a cada iniciativa.

Kathrine Löfberg, presidente da ICP, sublinha que, com a entrada da Delta Cafés, a organização pode continuar a implementar e amplificar projectos de melhores práticas com pequenos produtores a nível global: «A empresa tem um longo historial de apoio ao desenvolvimento da sociedade em Portugal e no estrangeiro, onde foram implementados projectos com comunidades de produtores em Angola e Timor-Leste.»

Além disso, «experiências relacionadas com o progresso junto de comunidades agrícolas e a educação de crianças estarão disponíveis para desenvolver ainda mais as abordagens da ICP», adianta Kathrine Löfberg.

 

TRABALHAR NO TERRENO (MAS NÃO SÓ)

Os projectos da ICP são implementados em parceria com a Hanns R. Neumann Stiftung (HRNS), que ajuda a organização a ir além do trabalho lado a lado com produtores e comunidades. A ideia é desenvolver também abordagens sustentáveis de longa duração para melhorar os meios de subsistência, nomeadamente através da partilha de novos métodos e ferramentas que têm em vista uma agricultura mais sustentável e amiga do ambiente: num panorama em que as cheias e as secas prolongadas fazem (cada vez mais) parte da equação, na sequência do agravamento das alterações climáticas, importa pensar em soluções que mitiguem estes problemas. Isto significa adaptar as técnicas às circunstâncias para que os cafeicultores não se vejam obrigados a abandonar a cultura do café por não terem os recursos ou os apoios necessários para manter as suas produções.

É neste sentido que a ICP se compromete a partilhar mundialmente aquilo que vai descobrindo, através de uma plataforma que promove a troca de conhecimento. A partir da Coffee & Climate Toolbox, a organização dá a conhecer as informações que recolhe no terreno e os resultados dos projectos que implementa, para que mais produtores possam repensar e reorganizar as suas culturas. Trata-se de uma espécie de caixa de ferramentas online com materiais pensados para produtores de todo o mundo.

No entanto, e porque as alterações climáticas não são o único desafio à vista, a ICP aposta também na formação em áreas de gestão empresarial. Fora do terreno, esta é outra das preocupações da organização: explicar como é que os agricultores podem administrar recursos e sustentar trocas comerciais justas. «O foco inicial no café deu lugar a uma abordagem holística e integrada», conta Michael Opitz, à DdD, lembrando que a própria ICP teve de evoluir nesse sentido.

 

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Sustentabilidade e Responsabilidade Social”, publicado na edição de Dezembro (n.º 305) da Marketeer.

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