Comtemp: Inovar no vinagre (e não só)

Embora os vinagres Cristal sejam um dos principais pilares da Comtemp – Companhia dos Temperos, esta marca não está sozinha a sustentar a empresa ribatejana, que resultou da fusão de dois negócios familiares com largas décadas de experiência. Nascida com a missão de dar aos vinagres e condimentos o seu lugar de direito na gastronomia, ao mesmo tempo que contribui para uma dieta e para hábitos saudáveis e equilibrados, a Comtemp conta também com um portefólio de molhos, vinhos e espumantes, entre outros produtos alimentares – de marcas como Magos, Salador ou Lezíria, num total de mais de 50 referências.

Ainda assim, os vinagres são mesmo a grande bandeira da empresa, uma vez que representa cerca de 80% do volume de negócios. Os restantes 20% dizem respeito a molhos e condimentos e à Magos, marca de bebidas alcoólicas com aproximadamente 80 anos.

«Independentemente da gama de produtos, estamos muito focados nas matérias-primas biológicas e nas novas tendências de dietas alimentares, pois temos a obrigação de trazer para os nossos produtos as preocupações e vontades dos nossos consumidores », adianta Tiago Pinto Carneiro, director de Estratégia.

Inovação é, aliás, a palavra de ordem na Comtemp. Além de ter um papel económico na região – graças à unidade industrial no Entroncamento e aos cerca de 40 postos de trabalho que assegura –, a empresa representa também um pólo de inovação. Isto porque, apesar de respeitar o conhecimento tradicional dos antigos viticultores e vinagreiros, não foge às mais modernas tecnologias e modos de produção. «Nos últimos anos, temos expandido os nossos horizontes com a implementação de uma cozinha industrial, o que permitiu aumentar a gama de produtos », conta Tiago Pinto Carneiro, acrescentando que «é muito gratificante ver que todas as pessoas querem contribuir (e têm o ambiente propício a isso mesmo) com inovações, desde o produto, à embalagem ou à operação».

A Comtemp acredita que só é possível crescer e perdurar no tempo com inovação. Nenhuma empresa sobrevive sem essa aposta e a Comtemp não é excepção: «Não fosse essa capacidade de inovação, não teríamos uma história de empresa familiar com mais de 125 anos, que resistiu ao longo de várias gerações e mantém todo o seu fulgor, mais do que nunca!» Vinagre de Moscatel Roxo ou Vinagre de Marmelo são alguns dos produtos que exemplificam isso mesmo, mas a inovação não se faz somente ao nível do catálogo. A empresa também tem investido em inovação no campo da sustentabilidade, ao transformar a sua fábrica e escritórios de forma a usar energia eléctrica exclusivamente proveniente de fontes de energia renovável. Também desenvolveu embalagens com 25% de PET reciclado e criou um processo de produção próprio de leveduras e bactérias para fermentação.

Só em termos de produção, desde Abril deste ano, já poupou quase 300 toneladas em emissões de CO2 na sequência das mudanças implementadas – como a substituição integral da iluminação ou a digitalização de processos.

HORECA NO HORIZONTE

O canal Horeca foi um dos mais afectados pela pandemia, mas esse impacto negativo não se faz sentir no negócio da Comtemp, porque o segmento ainda não representa uma fatia significativa das vendas. Segundo o director de Estratégia, a Comtemp tinha, à data do início da crise sanitária, uma exposição muito baixa a este canal, «fruto de decisões estratégicas que se vieram a revelar acertadas». No entanto, esta estratégia está prestes a mudar: a empresa tem planos a médio prazo para abordar o mundo da restauração de forma integrada, com ofertas que vão desde a preparação ao tempero em mesa. Até lá, a Comtemp vai marcando presença na cozinha de restaurantes com estrelas Michelin, que usam os seus produtos para dar vida a receitas reconhecidas a nível internacional.

No geral, o negócio da Comtemp tem aumentado a sua resiliência financeira e operacional desde 2018, com um bom desempenho também a nível de exportações. Hoje, exporta 40% da produção anual, para países como Itália, que é actualmente o principal destino. Já no próximo ano, porém, a empresa espera um aumento significativo da quota de exportação para outros mercados, fruto, em grande parte, da aposta em produtos de valor acrescentado, como é o caso dos vinagres biológicos.

«Há alguns anos que temos vindo a registar um crescendo na área dos produtos biológicos, onde hoje somos uma referência internacional e queremos continuar a liderar», indica Tiago Pinto Carneiro. De acordo com o mesmo responsável, esta alteração do perfil de consumo, ainda que com níveis de crescimento diferentes nas várias geografias onde estão presentes e onde querem ainda chegar, é transversal e dá força à estratégia delineada pela empresa para os próximos anos. Depois dos vinagres, a ideia será levar esta transformação a todos os outros produtos das diferentes categorias, seja por substituição de uma referência pelo seu equivalente biológico, seja por adição às referências já existentes.

NOVAS NECESSIDADES

Além do canal Horeca, a Comtemp também está de olhos postos no comércio online. Neste momento, a empresa tem duas lojas em ambiente digital, uma delas dedicada à marca Cristal e outra à marca Magos. «Há um ano, não tínhamos qualquer pegada digital relevante; hoje, temos estes dois sites mais as redes sociais muito bem dinamizadas e com resultados acima das nossas perspectivas», refere Tiago Pinto Carneiro. Para o próximo ano está planeado um forte investimento em plataformas digitais, marketplaces nacionais e internacionais (como a Amazon EUA) e, ainda, a colaboração com outras insígnias portuguesas dedicadas à venda de produtos online.

A Comtemp está atenta, ainda, a outras mudanças dos portugueses, que se revelam cada vez mais exigentes e que mostram alguma desconfiança quando olham para as prateleiras de uma categoria com tantos produtos como a dos vinagres. Por isso mesmo, o trabalho que está a ser desenvolvido na marca Cristal é no sentido de promover a educação e o conhecimento.

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Vinhos, Azeites e Vinagres”, publicado na edição de Dezembro (n.º 305) da Marketeer.