Casa Redondo: Da Lousã para o mundo

Em finais do século XIX, um caixeiro-viajante de vinhos do Porto passou pela Lousã e apaixonou-se pela filha de um farmacêutico. Em 1910, a lei que proibia a venda de alcoóleos nas farmácias podia ter levado ao desaparecimento de vários licores, entre eles o Beirão, mas foi a visão empreendedora deste caixeiro-viajante, que conhecia a popularidade do mesmo a nível regional, que o fez autonomizar a produção e manter viva esta história, que conta com mais de 130 anos de vida.

Com a chegada da II Grande Guerra Mundial, José Carranca Redondo, nascido em 1916 na mesma terra da fabriqueta de licores, na Lousã, era um homem com poucos estudos, mas o que não tinha de estudos compensava com criatividade, ambição e visão. Com apenas 12 anos, já tinha trabalhado na fábrica de licores, e, após passar pela Companhia de Papel do Prado e pela empresa norte-americana Remington, acaba por perder o emprego devido à aquisição desta pelo governo norte-americano para produzir armamento. No entanto, e com economias guardadas, decide propor a Maria, a quem andava a namoriscar há algum tempo:

«Se te casares comigo, compro a fábrica de licores», e no mesmo ano que compra a fábrica casam-se!

Quando adquire a fábrica, em 1940, começa a vender o licor, agora feito pela sua mulher. É então que tem a brilhante ideia de pedir um empréstimo para uma megacampanha de divulgação do Licor Beirão, de norte a sul do País.

E assim nasceu aquela que seria a primeira grande campanha publicitária de uma marca portuguesa. Com um impacto tremendo, visível nas estradas e cafés de norte a sul de Portugal, o início dos tão famosos mupis ou outdoors que hoje vemos em todo o lado. Licor Beirão seria também a primeira marca a fazer publicidade nas camisolas dos ciclistas da Volta a Portugal e das primeiras marcas a fazer publicidade na televisão, com o famoso anúncio protagonizado pelo cantor Tony de Matos.

Considerado por muitos como o primeiro marketeer português, o seu lema, “Até a galinha cacareja quando põe um ovo”, traduz a importância que sempre deu ao marketing, porque ele sabia que podia ter o melhor produto do mundo, mas se não tivesse um bom marketing não o vendia. Seria já o seu filho, José Redondo, com apenas 18 anos, a criar o slogan “Licor Beirão, O Licor de Portugal”, acreditando na valorização da produção local, do “ser português”, que, na altura, era altamente desvalorizado. Hoje, passados quase 50 anos, a frase é sinónimo do próprio produto e é um dos principais atributos da marca, levando a portugalidade aos quatro cantos do mundo.

VIRAR DE PÁGINA

No início do século XXI, a empresa familiar continuou a inovar, primeiro com a chegada e lançamento de cocktails, como o Caipirão e Morangão, já com o contributo e uma visão rejuvenescida da 3.ª geração, com o objectivo de atrair o consumidor mais jovem para a marca. É então que a marca é pela primeira vez (e nunca mais deixou de o ser) a bebida espirituosa mais vendida em Portugal. Em 2004, após o falecimento da esposa do fundador, chegaria a vez do filho José Redondo passar a ser o único Mestre Destilador do Licor Beirão, arte e responsabilidade que partilha actualmente com o seu filho, Ricardo Redondo.

José Carranca Redondo, o patriarca da família, viria a falecer em 2005, aos 89 anos. Apesar da idade avançada, esteve, até ao fim, diariamente, na destilaria da Quinta do Meiral (12 hectares no meio da Serra da Lousã) e envolvido em todas as áreas da empresa.

A actual liderança da terceira geração, os netos Daniel e Ricardo Redondo (director-geral e director financeiro, respectivamente), tem-se reflectido na inovação e crescimento, com presença constante em eventos de grande dimensão, seja qual for o sítio onde as pessoas queiram passar um bom bocado.

Para encerrar o ano do centenário do nascimento do fundador, a família Redondo apresentou o Beirão d’Honra, uma receita especial, criada por esta terceira geração. Esta edição especial é concebida com as mesmas especiarias e plantas da receita original e enriquecida com aguardente vínica envelhecida em casca de carvalho, numa celebração ao pioneirismo de José Carranca Redondo, que transformou um licor local num símbolo nacional.

INOVADOR, COMO SEMPRE

Desde sempre, José Carranca Redondo sabia que a publicidade era tão crucial quanto o produto. Hoje, quase um século depois, o Licor Beirão continua a ser inovador, tanto em versatilidade de produto, como na sua comunicação.

Em 2022, chegaram os cocktails em lata, a versão ready to drink. Já em 2023, foi lançada a 8.ª geração da garrafa d’O Licor de Portugal e com ela veio também “Um Beirão de Sorte”, o trailer para uma série fictícia inspirada no sucesso de “Rabo de Peixe”.

Esta campanha assegurou ao Licor Beirão o prémio de “Campanha de Vídeo Mais Inovador” nos Prémios SAPO 2024, entre muitos outros, reafirmando a sua posição vanguardista no que de melhor se faz em Portugal a nível de publicidade e marketing. Com uma abordagem irreverente e criativa, captou a atenção de um público mais jovem, demonstrando que a marca continua em sintonia com as tendências actuais. A campanha ficaria também marcada pela apresentação do Maracujão, um novo cocktail que viria a revelar- se bem real e mais um sucesso, sendo muito elogiado nos festivais de Verão e noutros eventos nacionais.

ONDE HOUVER UM PORTUGUÊS, ESTÁ LÁ

Quase a completar um século oficialmente, o Licor Beirão continua a liderar o mercado nacional de bebidas espirituosas, posição que ocupa há quase 20 anos. Exportando directamente para mais de 70 países, mantém-se fiel às raízes familiares e ao processo de produção artesanal.

Sendo a marca reconhecida por todos os portugueses, está presente com naturalidade onde quer que eles estejam, mas o grande desafio de crescimento é conseguir ir além deste mercado e dar a conhecer a marca e o produto em geografias e mercados que, à partida, não têm contacto directo ou histórico com ele.

Para isso, tem desenvolvido trabalho junto dos seus distribuidores locais e este ano, em parceria com o distribuidor nos Países Baixos, realizaram a primeira campanha televisiva criada para ser exibida fora de Portugal. O que seria à partida uma barreira – a dificuldade de um neerlandês em dizer Licor Beirão – foi transformado num trigger de notoriedade e curiosidade, com a campanha a tornar-se um sucesso, superando as expectativas para este mercado já tão maduro.

Isto ao mesmo tempo que a quarta geração, dos bisnetos do fundador, começa a assumir diversos papéis na Casa Redondo, empresa que transforma 13 especiarias, plantas e sementes aromáticas em “ouro”, numa garrafa com fita colocada à mão, em média 30 mil vezes por dia, em tributo a esta longa história de dedicação, autenticidade e humanismo que define o carácter de uma marca para sempre familiar.

O icónico Licor Beirão continua como estrela principal da empresa da família, Casa Redondo, que inclui hoje mais de 50 marcas no seu portefólio de bebidas espirituosas distintas, sendo algumas delas o Aperitivo Per Se, a Amarguinha, The Fox Tale Gin, Aldeia Velha, ou a recém-adquirida marca Safari, comprada à Diageo e agora gerida de Portugal para o mundo. Um variado leque de opções que se adaptam a qualquer contexto e situação, até, como não podia deixar de ser, à mesa do próximo Natal.

» Daniel Redondo, director-geral da Casa Redondo

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Especial Natal”, publicado na edição de Novembro (n.º 340) da Marketeer.

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