Associação de Turismo de Cascais: «É altura de pensar o futuro»
Em 2019, Cascais teve cerca de dois milhões de dormidas, sendo que 80% corresponderam a turistas estrangeiros. No acumulado dos primeiros 10 meses deste ano, o concelho registou cerca de 400 mil dormidas.
Os números demonstram o impacto que a pandemia de Covid-19 tem tido para os operadores turísticos da região. Enquanto entidade privada responsável pela promoção internacional do destino (uma actividade que nunca suspendeu), a Associação de Turismo de Cascais tem trabalhado no sentido de minimizar o impacto da crise para os seus associados. Depois de, em Agosto, ter estado envolvida na elaboração de um conjunto de medidas para proteger o sector, a associação trabalha agora noutros projectos, como a criação de dois centros de congressos ao ar livre (ainda sem data de inauguração) e um plano de actividades para o Natal, que será mais alargado por todo o território, conforme adianta Bernardo Corrêa de Barros, presidente da Associação de Turismo de Cascais.
Com a chegada da segunda vaga da pandemia, o Governo impôs novas medidas de restrição. Que impacto socioeconómico poderão vir a ter sobre a região de Cascais?
O impacto socioeconómico é absolutamente devastador. Se já estava a ser um ano péssimo para todos, a partir de agora colocam- se desafios ainda maiores. Muitas das empresas do sector, sobretudo as mais pequenas, não vão conseguir sobreviver mais seis meses – se continuarmos assim pelo menos até Março de 2021 -, ainda para mais sem o Natal e a Passagem de Ano para poderem facturar. Não é só uma segunda vaga sanitária, mas também económica.
Sentiram algum impacto imediato sobre o sector do Turismo?
O impacto foi directo. Assim que o primeiro- ministro anunciou as novas medidas, uma série de reservas foi cancelada!
O Governo e os responsáveis políticos, quando apresentam uma medida, têm de ser muito claros e têm de apresentar soluções claras para que os empresários possam comunicar com os seus clientes e transmitir essa confiança tão necessária. Se esta informação não chega, não entramos só numa crise económica e sanitária, mas também numa crise de confiança.
Temos uma indústria inteira que está a navegar à vista! As incertezas são muito grandes, não conseguimos prever para quem é que vamos comunicar. Vemos uma série de hotéis a fechar, como medida profiláctica para tentar aguentar esta hecatombe. Em Cascais temos oito hotéis fechados, neste momento, num total de 32. E acho que mais exemplos se vão seguir, porque as taxas de ocupação estão em níveis nunca vistos e as perspectivas não são as melhores.
Face a esta incerteza e ao contexto regulamentar, quais têm sido as prioridades da Associação de Turismo de Cascais para minimizar o impacto desta crise?
A nossa preocupação, nesta fase, são os nossos associados, fazer-lhes chegar a informação de forma a que esta possa ser entendida, porque muitas das vezes os decretos-lei vêm numa linguagem muito técnica. Prestamos aconselhamento jurídico e financeiro aos nossos 390 associados e estamos a pensar o futuro em conjunto, procurando antecipar novas tendências e inovar. Esta é a altura certa para pensarmos e estruturarmos o futuro.
Em Agosto, em conjunto com outras associações (a Cascais Invest, a Associação Empresarial de Cascais e a Associação da Hotelaria de Portugal) lançámos o desafio à Câmara Municipal de Cascais de estabelecer um protocolo para criar medidas no concelho para atenuar o impacto sobre o sector. Por exemplo, os museus e o estacionamento passaram a ser gratuitos para os turistas, assim como os transportes públicos, onde são dadas máscaras. Criámos um plano de acção imediato para testar os hóspedes e o staff dos hotéis. Além de uma série de suspensão de taxas para os empresários (gestão de ruídos, ocupação de via pública, publicidade…).
Em 2019, os turistas estrangeiros representaram 80% das dormidas em Cascais. Como têm tentado manter a região no top- -of-mind destes turistas?
Em Agosto, que é tradicionalmente o melhor mês para o sector, tivemos uma ocupação média de 40% na região. A situação é obviamente catastrófica.
Lançámos, durante o confinamento, a campanha “Loading”, transmitindo a mensagem para as pessoas ficarem em casa e que estávamos a tornar Cascais ainda melhor para as receber no futuro. Lançámos também uma campanha internacional sob o mote “Thank you for staying at home”.
Agora, estamos a preparar uma grande campanha de Inverno, que será focada nos nómadas digitais. A mensagem será que Cascais não é apenas um sítio extraordinário para se viver ou trabalhar uma vida inteira, mas também para que outras pessoas de fora possam vir para cá trabalhar.
A pandemia veio acentuar algumas tendências no sector, como a procura por locais mais isolados. Como têm vindo a adaptar o produto turístico da região para ir ao encontro destas tendências?
Temos estado com uma taxa de ocupação mais alta do que Lisboa, precisamente porque as pessoas vêem Cascais como um local mais remoto e protegido.
Neste esforço de pensar e preparar o futuro, criámos dois novos produtos que lançaremos brevemente dentro da área do Turismo de Negócios e que serão dois centros de congressos a espaço aberto: um eco congress center e um urban congress center, que viverá de múltiplos espaços. Será algo inédito em Portugal, mas que acontece muito nos grandes centros de convenções mundiais. Estamos na fase de estruturação destes produtos, que esperamos lançar brevemente.
Estamos a adaptar-nos, como o resto do Mundo, e acredito que somos o território mais preparado para o pós-pandemia. No dia em que sairmos da pandemia, Cascais estará na linha da frente das regiões mais preparadas para receberem os turistas. Porque estamos a trabalhar diariamente com os nossos associados, a criar novos produtos e novas linhas de comunicação, e a apostar no smart tourism (desde a gamificação do destino à interactividade com os equipamentos).
2021 será um ano de recuperação, ou ainda de transição?
O próximo ano será seguramente de alguma retoma, porque, quando temos quedas tão acentuadas, só podemos melhorar… Em 2019, Cascais teve cerca de dois milhões de dormidas (incluindo hotéis e alojamento local). Neste momento, estamos com 400 mil dormidas e temos oito hotéis fechados. Portanto, a partir daqui só podemos melhorar.
Nós estamos a planear o ano de 2021 como se não houvesse pandemia. Vamos planear e orçamentar tudo por forma a que, quando os mercados abrirem, possamos retomar toda a nossa actividade normal. O nosso planeamento, quer ao nível de eventos (temos ajudado os promotores de eventos pagando já despesas incorridas), quer de promoção, está exactamente como se não houvesse Covid-19, e depois vamos adaptando. Achamos que esta é a melhor estratégia, porque, se for de outra forma, a adaptação será mais difícil.