Adega Mayor: Um vinho português, com certeza

Se neste momento já está a pensar no porquê do 100 no nome deste vinho tinto tão especial, a explicação é simples: trata-se de uma celebração do centenário do nascimento de Amália Rodrigues, que aconteceu em 2020, ano em que este projecto nasceu e em que foi feita a colheita para o produzir. Para o tornar ainda mais especial, foi definido que seria uma edição limitada a 1920 garrafas, evocando desta forma o ano em que veio ao mundo, com a totalidade dos proveitos a reverter para a obra da Fundação Amália Rodrigues, criada há um quarto de século. Através desta receita, a parceria permite que, também 25 anos depois do desaparecimento da eterna fadista, a Fundação Amália Rodrigues possa continuar, não só a preservar o espólio da fadista, mas também a cumprir a sua missão principal: apoiar pessoas desfavorecidas.

A MAGIA DE UM CONCEITO

A ideia para o Amálias 100 surge após um convite feito pela fundação à Adega Mayor. Situada em Campo Maior, foi sonhada pelo comendador Rui Nabeiro e desenhada pelo arquitecto Siza Vieira. A primeira adega de autor do país tem ao comando a neta do Sr. Rui, Rita Nabeiro, CEO da empresa que abriu portas em 2007.

O objectivo da parceria proposta era então produzir um vinho evocativo do centenário de Amália. Depois de assinarem o protocolo, Rita Nabeiro percebeu que esta era uma oportunidade de fazer algo único, maior que uma marca ou região, um projecto que representasse o país.

Foi então que teve a ideia de criar um blend, que simboliza Portugal e as suas diferentes geografias. Para isso, desafiou outras seis produtoras nacionais, também mulheres, líderes e herdeiras do vinho: Catarina Vieira (Rocim), Francisca Van Zeller (Vanzellers & Co), Luísa Amorim (Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo), Mafalda Guedes (Sogrape), Rita Pinto (Quinta do Pinto) e Maria Manuel Maia (Poças).

Estas sete produtoras já tinham colaborado noutras ocasiões, para falar dos seus vinhos e das suas regiões, sob a designação “D’Uva – Portugal Wine Ladies”, grupo criado em 2016, quatro anos depois de se terem conhecido durante uma sessão fotográfica para uma reportagem do “Diário de Notícias”.

E se a ideia de se fazer um vinho em conjunto já tinha estado várias vezes sobre a mesa, a forma certa ainda não chegara, o que aconteceu então com o desafio lançado pela Fundação Amália Rodrigues à Adega Mayor. Cada produtora contribuiu com produto, entre 450 e 675 litros dos seus melhores vinhos, e também através do envolvimento pessoal, nos diferentes âmbitos do projecto.

RECEITA PARA A EXCELÊNCIA

Amálias 100 é um vinho tinto complexo, intenso e elegante, da colheita de 2020, ano do centenário de Amália e atípico pelo desafio criado pela pandemia de Covid-19 sobre o trabalho normal de vindima. Novas normas de saúde, higiene e segurança tiveram de ser colocadas em prática, obrigando também a uma maior rotatividade e espaçamento entre as pessoas. Foi também um ano de muito calor, em particular na fase final da maturação, condições que criaram vinhos de maior concentração, fruta acentuada e presença marcante.

Foram então escolhidas as regiões que melhor destacam a qualidade dos tintos portugueses, como o Douro, por aportar volume e complexidade aos lotes; o Dão, que confere frescura e elegância; o Alto e Baixo Alentejo, pela longevidade em garrafa e a intensidade da fruta, respectivamente; e Lisboa, que oferece a identidade atlântica através de uma mineralidade extraordinária. Em conjunto, formam uma edição de vinhos tintos única e irrepetível, um blend composto por Touriga Nacional (27%), Alicante Bouschet (26%), Alfrocheiro (20%), Touriga Franca (13%), Trincadeira (7%) e Field Blend Vinhas Velhas (7%).

Antes disso, ainda nas suas casas berço, cada lote foi elevado à excelência com estágio em madeira. Por fim, foram unidos num vinho único, com a mínima intervenção. Foram apresentados 17 lotes pelas diferentes produtoras e apreciados por uma equipa de enologia composta por Beatriz Cabral de Almeida, Carlos Rodrigues e Jorge Alves, que seleccionou nove, para compor três propostas de blend. Estas foram então submetidas à prova das produtoras que, por votação seguida de discussão, elegeram o blend final. Seguiram-se 12 meses de estágio em garrafa e aí ficou pronto para a estreia.

UMA GARRAFA QUE ELEVA A MESA

E se “numa casa portuguesa fica bem pão e vinho sobre a mesa”, ao ser vendido em garrafas Magnum (1,5 l) é ideal para ser partilhado numa mesa de Natal, ainda mais estando, no espírito da época, a contribuir para 80 mil euros, soma prevista ser entregue à fundação (metade já foi transferida e usada para a recuperação do andar de cima da Casa Amália Rodrigues).

Se o abrir em qualquer outra noite e sendo Amálias 100 um vinho robusto e indulgente, pede experiências gastronómicas à altura: carrê de cabrito na brasa, peito de pato selado na chapa, lombo de veado no forno, presa de porco alentejano com cogumelos, pratos de carnes vermelhas e intensos. Pode dividir protagonismo com queijos tipo roquefort ou sobremesas de frutos negros e chocolate amargo.

Só não deixe para a última, como acontece com alguns presentes: já só estão disponíveis cerca de 700 garrafas, das 1920 produzidas. Para encomendar, basta ir ao site da Adega Mayor, a entrega é grátis em Portugal Continental.

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Vinhos, azeites e bebidas espirituosas”, publicado na edição de Outubro (n.º 339) da Marketeer.

Artigos relacionados