Banha da Cobra Digital

Por João Batista, Creative director & co-founder da Social Animals

Ninjas, magos, gurus ou simples especialistas em marketing digital – é assim que se intitulam a grande maioria destes profissionais que fazem a sua carreira no que eu carinhosamente chamo de influencers do marketing digital. A grande maioria agarra-se a um ou dois cases, normalmente, em empresas de média/pequena escala para mostrarem as suas valências. Outros usam exemplos internacionais que aprenderam com profissionais que fazem exactamente o mesmo, mas num país estrangeiro. Quase todos têm um pé no Brasil, mas a maioria nem uma unha tem – afinal se há coisa que aprendi naquele mercado é que vencer exige muito mais do que dotes de oratória.

O seu campo de trabalho são as Academias, “Schools” ou outros espaços, onde leccionam vendem o seu conhecimento baseado em muito pouca experiência prática, mas muitas horas de palco, webinars e eventos, nos quais foram caçando muitos euros aos seus alunos. Desde as velhas raposas que vêem aqui a oportunidade de prolongar a sua carreira, até aos jovens recém-chegados à área que, tal como os groupies dos anos 70, projectam nestes seus ídolos aquilo que um dia gostariam de ser.

Todos, sem excepção, usam anúncios nas redes sociais e Google para a promoção da sua imagem pessoal e dos seus cursos. Num tom que varia entre televendas, Steve Jobs e coachs motivacionais, criam conteúdos tão dinâmicos quanto insuportáveis. A grande maioria impulsiona estes conteúdos com verbas consideráveis, no entanto, quase todos prometem aos seus alunos resultados no digital com pouco investimento. São estas contradições que fazem com que estes profissionais sejam um problema, ao invés de uma solução para um mercado que tanto tem para crescer.

Devo finalizar dizendo que compreendo que os jovens procurem nestes profissionais o conhecimento que não encontram nos cursos desactualizados e muito pouco práticos das nossas faculdades. Que também entendo o receio de quem já se encontra no mercado e teme a avalanche digital. No entanto, há formas de aprendizagem um pouco mais demoradas, mas que podem trazer melhores resultados: desde cursos gratuitos das próprias ferramentas, como artigos com cases da área que estão à distância de um clique. Já em relação às marcas que contratam estes profissionais para palestras, devo recomendar antes a contratação das agências digitais, onde trabalham os verdadeiros profissionais da área, pois são estes os “consultores externos” que, teoricamente, conhecem verdadeiramente as marcas e as soluções digitais para os seus problemas reais.

Em defesa de quem é sério, devo dizer que há excepções. Contudo, são poucas as excepções, mesmo muito poucas!

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