Avaliar crianças com dislexia: dicas para os professores
Por Sei – Centro de Desenvolvimento e Aprendizagem
Por um lado, dificuldades ao nível da lecto-escrita acabam sempre por reflectir-se em dificuldades na aquisição de todas as disciplinas, sempre que estas impliquem o recurso à leitura e à escrita. Isto pode tornar-se frustrante para crianças com dislexia, as quais podem acabar por sentir-se menos inteligentes e menos capazes do que na realidade são. O desgaste de repetidas situações de stress relacionadas com problemas escolares resulta muitas vezes numa crescente desmotivação em prosseguir os estudos.
Por outro lado, os professores podem também sentir dificuldades em avaliar aquilo que a criança com dislexia verdadeiramente aprendeu e assimilou. Com efeito, nem sempre aquilo que a criança mostra saber corresponde na totalidade àquilo que ela verdadeiramente sabe. Crianças com dislexia são frequentemente prejudicadas pela sua própria dificuldade em expressar por escrito os seus novos conhecimentos, resultando na sua sub-avaliação.
Em resumo: a existência de dificuldades de lecto-escrita nada tem que ver com dificuldades do foro intelectual da criança. É urgente aceitar isto para, enfim, implementar novas e adaptadas formas de ensinar os conteúdos escolares, e de avaliar o verdadeiro conhecimento assimilado por estas crianças. É fundamental que cada vez mais professores se predisponham a desmistificar noções erróneas quanto às capacidades cognitivas destas crianças, e se abram a novas abordagens de avaliação devidamente ajustadas às suas características especificas. Abordagens essas que visem avaliar de forma justa e objectiva os conhecimentos da criança, sem que a avaliação seja enviesada pelas dificuldades que ela tem em expressar por escrito aquilo que realmente aprendeu.
Eis algumas dicas para consegui-lo
Durante as aulas:
– Permita mais tempo à criança para concretizarem tarefas que requeiram muita leitura e/ou muita escrita (crianças com dislexia têm frequentemente uma velocidade de leitura e escrita inferior);
– Evite expor a criança em frente aos colegas durante a leitura em voz alta (esta prática não é particularmente eficaz para melhorar as capacidades de leitura de crianças com dislexia e, frequentemente, coloca-as em situação de ansiedade desnecessária).
Antes dos testes:
– Indique à criança, de forma explícita, aquilo que deve ela estudar (isto é, especificar o número das páginas do livro), e certifique-se de que ela anotou correctamente essas páginas no seu caderno.
Durante os testes:
– Desvalorize os erros ortográficos;
– Procure simplificar os enunciados, por exemplo, dividindo questões longas em questões mais curtas;
– Use vocabulário e frases muito simples nos enunciados;
– Leia as questões individualmente com a criança e certifique-se de que ela as compreendeu;
– Evite que os enunciados sejam apresentados separadamente em duas páginas diferentes (isto é, o texto numa página e as perguntas relativas ao texto noutra página);
– Marque a negrito as partes principais dos enunciados;
– Construa os testes com espaçamento duplo e fonte serifada.