Associações alertam: Governo está a ignorar as dificuldades da imprensa
Cerca de um quinto dos postos de vendas de publicações periódicas já encerrou e a consequente diminuição das vendas de jornais e revistas é inevitável, de acordo com a Associação Portuguesa de Imprensa e a Associação Portuguesa de Imprensa Cristã. Em comunicado, enviado aos associados, alertam para a redução generalizada da publicidade por parte do comércio local, seja porque encerraram as suas actividades ou porque viram a capacidade económica diminiuir. O cenário de quarentena estará também a contribuir para esta quebra que, segundo as associações, afecta naturalmente mais a imprensa de proximidade.
Há, no entanto, também boas notícias a registar: «Foi constatado nalguns pontos de venda em Lisboa mais vendas de exemplares, o que naturalmente se justifica pela procura de informação séria, segura e jornalisticamente editada», adiantam João Palmeiro, presidente da Direcção da Associação Portuguesa de Imprensa, e Paulo Ribeiro, presidente da Associação Portuguesa de Imprensa Cristã. Os responsáveis consideram que a actividade da imprensa é cada vez mais importante, num contexto de crise nacional causada pela pandemia do COVID-19. Faltam, porém, medidas por parte do Governo para garantir que o sector sobrevive.
Nesse sentido, as duas associações entregaram ao Governo, assim que foi decretado o Estado de Alerta, um conjunto de propostas de carácter fiscal tendo em vista a melhoria das condições da actividade. «Aguardamos como as mesmas se integram no âmbito das medidas anunciadas para apoiar as empresas, embora o sector não tenha sido especificamente mencionado», realçam os responsáveis.
Haverá, porém, outro possível caminho para ter acesso aos mecanismos já anunciados pelo executivo de António Costa. «Como a grande parte dos editores de publicações periódicas são micro, pequenas ou médias empresas, acreditamos que será possível também por esta via encontrar soluções para assegurar a continuidade da actividade de edição de jornais e revistas.»
Quanto a potenciais constrangimentos, as associações apontam somente para situações decorrentes de doença dos trabalhadores da distribuição (tal como os próprios CTT já reconheceram), encerramento voluntário de pontos de vendas ou medidas de contenção sanitária (como em Ovar). «De resto, não vemos nenhuma medida que impeça o normal funcionamento de gráficas e das distribuidoras de publicações», sublinham João Palmeiro e Paulo Ribeiro.
As duas associações comprometem-se a continuar a manifestar activamente as suas posições e preocupações, exigindo ao Governo que tome medidas para o sector de imprensa.
Em entrevista à Marketeer, João Palmeiro adianta ainda que «é muito cedo para termos dados concretos sobre compras», ainda que seja claro que haverá uma redução nas vendas de jornais e revistas ao longo dos próximos dias.
O director da Associação Portuguesa de Imprensa sublinha que, como sempre e em tantas outras circunstâncias que teve de enfrentar no passado, o sector «tem de se reinventar na forma de abordar o interesse dos seus leitores, agora confinados em muitos casos a um estilo de vida diferente». Será preciso também encontrar alternativas que permitam aos anunciantes prepararem-se para a retoma quando a situação de emergência cessar.
«Não escondo que o maior desafio é a logística, é encontrar vias de fazer as publicações chegar aos seus leitores, não esquecendo que o mundo digital neste momento não só é propicio a muita desinformação como rapidamente se vai tornar demasiadamente rotineiro e portanto a oportunidade do papel também está aqui», indica ainda João Palmeiro, frisando que o digital não será a resposta para todos os problemas do sector.
A Plataforma de Meios Privados, que junta os grupos de media Cofina, Global Media Group, Impresa, Media Capital, Público e Renascença Multimédia, também se mostra apreensiva com a situação actual. Em comunicado, assegura estar empenhada em ultrapassar esta crise, mas não nega os “fortes impactos negativos em todo o tecido económico e social”, incluindo os meios de comunicação social.
“A quebra pronunciada de receitas, os fortes acréscimos de custos, as dificuldades na produção, logística e distribuição de publicações não minam a nossa vontade, mas comprometem seriamente a nossa sobrevivência se nada for feito para apoiar quem pretende manter-se ao serviço de todos”, nota a plataforma. Pede, por isso, um programa de acção semelhante ao previsto para o Turismo e para a Cultura e que, até agora, não foi apresentado.
A Plataforma de Meios Privados condena o facto de não existirem medidas para eliminar a “situação de imoralidade fiscal de que beneficiam as plataformas e outros concorrentes globais instalados no nosso território”. Acredita que a introdução de obrigações sobre os mesmos permitiria mitigar alguns efeitos orçamentais negativos.
Texto de Filipa Almeida