«Nos Alive duplica a média de estadia de um turista»

Sabia que este ano, para além dos músicos, vai haver a intervenção de dois criadores de arte urbana no Nos Alive – uma no palco Nos e a outra no palco Comédia? E sabia que o palco EDP Fado Café cresceu 25% em área face à edição do ano passado?

A uma semana do arranque do Nos Alive 2019, a Marketeer esteve à conversa com Álvaro Covões, fundador da Everything is New, promotora do evento que se realiza no Passeio Marítimo de Algés de 11 a 13 de Julho. No seu estilo muito característico e mostrando-se crítico quanto a algumas informações que foram publicadas nos meses mais recentes sobre inspecções de finanças a festivais e a responsabilidade destes eventos em relação ao consumo de álcool, o profissional lembra que «não se pode brincar com um sector que cria riqueza e posiciona Portugal». Ficámos ainda a saber que os dois primeiros dias do evento deste ano estão a poucos bilhetes de esgotar. Se quer saber tudo o que foi falado, acompanhe a conversa:

Desde a primeira edição que o Nos Alive almejou ter dimensão internacional. Como está este ano a divisão entre público nacional e internacional?

Continuamos com a mesma procura internacional que tivemos no ano passado. Vamos voltar a ter 16 mil estrangeiros. Sendo que não podemos nunca esquecer que este é um festival português para o público português. A componente de estrangeiros foi a solução que encontrámos para ter o festival cheio porque Portugal tem a dimensão que tem…

Mas com a dimensão que o festival ganhou, não conseguiam ter o festival cheio apenas com portugueses?

Conseguia. Mas a verdade é que nós concorremos connosco próprios. Só nestes espectáculos mais recentes nós tivemos mais de 200 mil espectadores em espectáculos Everything is New. Os Tool esgotaram esta semana com 19 mil pessoas, os Scorpions esgotaram com 18 mil e quinhentas pessoas, o Rod Stewart com 13 mil e quinhentos, o Ed Sheeran com 120 mil… O país tem a dimensão que tem.

Nos Airbnb aqui na zona do festival, o fim-de-semana que é marcado com maior antecedência do ano é o do Nos Alive. Programam a deslocação em função do evento.

Na verdade, não sabem se os bilhetes vendidos em Portugal são vendidos a portugueses ou a estrangeiros…

Claro. Principalmente os que estão em Erasmus ou que estão de férias e depois voltam. Fazemos uma estimativa. Estimamos que sejam pelo menos mil.

Tem noção de qual o impacto económico do Nos Alive?

Houve um trabalho de tese de doutoramento da Universidade Nova e a estimativa foi de 50 milhões de euros. Há uma coisa que para mim é fundamental: os conteúdos são essenciais para a valorização do destino, neste caso é o destino Portugal. Eventos como o Nos Alive ou como os Tool em que tivemos três ou quatro mil estrangeiros… Eles vêm de propósito a Portugal para ver espectáculos. Até, inclusivamente, em Espanha o sector ligado às agências de viagens tem um artigo muito interessante que diz que os millennials primeiro compram o conteúdo, seja o bilhete para um museu ou para um espectáculo, e só depois é que vão tratar da viagem e do alojamento. Este estudo demonstra uma coisa que defendo há mais de dez anos que é a importância dos conteúdos para a comunicação do destino. Não chega ter o destino. E não nos podemos esquecer das pessoas que não moram na Grande Lisboa, que chegam a atingir 60% no festival. Isso significa a economia a mexer. Às vezes digo a brincar que nem que seja no estacionamento pois vêm cá e têm de pagar estacionamento. Deixam alguma coisa na economia local. Facturam as gasolineiras, a Brisa…

Por nacionalidades, como se divide o público internacional?

Primeiro são sempre os britânicos, em segundo os espanhóis e em terceiro e quarto alternam os franceses e os alemães. Mas passamos as oitenta nacionalidades. Uns com bilhetes de um dia, outros de dois e outros de três. Durante várias edições fizemos um inquérito aos estrangeiros que nos visitavam e 70% ficava cinco ou mais dias em Portugal. Está muito acima da média de um turista comum que em média vem por dois, três dias. Um conteúdo como o Nos Alive duplica a média de estadia de um turista. Quer isto dizer que as pessoas vêm ao festival e aproveitam e visitam Região Turística de Lisboa.

O que há de novo este ano face a 2018?

O que há de novo, todos os anos, é o cartaz. É isso que chama cá as pessoas. Depois há pequenas coisas. Este ano a grande novidade é um pormenor que nós detectámos. Temos uma preocupação evidente com pequenos pormenores. Entrou em contacto connosco uma jovem que se desloca em cadeira de rodas e que veio sozinha (de fora de Lisboa). Foi muito bem recebida no recinto, os acessos funcionaram bem como as plataformas que temos para visibilidade dos palcos. Mas quando chegou à rua (pelas duas ou três da manhã) chegou o problema porque só conseguiu transporte para ir para o hotel às seis e meia da manhã. Paras as pessoas como mobilidade reduzida que nos contactem e que venham sozinhas ao festival vamos ter uma solução para esta questão. Infelizmente, falta planeamento. Licencia-se um conjunto de transportes públicos e não se obriga que haja uma garantia de transporte de pessoas com mobilidade condicionada. É inacreditável. As pessoas para serem 100% autónomas têm direito a vir sozinhas. Estamos a falar com a Santa Casa para ver qual a solução que conseguimos ter. Vamos ter uma solução. No mínimo vamos garantir que existe transporte.

Foi também de um input como este que decidimos criar a zona para grávidas há vários anos. Fomos os primeiros do mundo a tê-lo num evento. São pormenores que fazem a diferença.

A nível de patrocinadores há alguma mudança?

Mantemos os principais. O main sponsor a Nos, os premium são a EDP, a Sagres, a Fidelidade, a Tezenis e a Volkswagen. Ao nível de parceiros entrou a Trident. A Delta, Oriflame, Randstad, Licor Beirão, Fanc (fazemos 12 mil unidades do pack Fnac) e a Associação Nacional de Farmácias (com o espaço grávidas), mantiveram-se. Ao nível de media partners a Rádio Comercial e a RTP também se mantêm.

Houve algum requisito que tenham imposto aos patrocinadores, como promotores do evento, diferente de anos anteriores, nomeadamente ao nível de activações?

O nosso trabalho é sempre muito difícil e as marcas às vezes têm dificuldade de perceber. Nós desde 2007 definimos um conceito de oferta de brindes no âmbito da sustentabilidade. Os brindes têm de ser úteis e reutilizáveis. E esta é uma grande luta.

Mas agora a sustentabilidade está mais na ordem do dia…

Outro parceiro que temos é a Sociedade Ponto Verde e, juntamente com eles e com a Câmara de Oeiras, temos um projecto em que o lixo recolhido no festival é reciclado e com o produto dessa reciclagem construímos desde há três anos mobiliário de esplanada para o recinto. Ainda não somos autónomos mas mais de 50% desde mobiliário é proveniente dessa reciclagem. Ao longo do ano uma parte está a ser usufruída pelo município de Oeiras e a restante está armazenada.

Continuamos a financiar as bolsas de investigação científica ao Instituto Gulbenkian. Hoje, temos 30 cientistas que no seu curriculum têm que foram bolseiros Nos Alive. Eles existem e estão espalhados pelo mundo. Ainda não temos um que tenha desistido da carreira. Lembro-me que na primeira edição um dos bolseiros trabalhava num call center. Portanto foi a grande oportunidade da vida dele.

Ao nível de estruturas, há novidades na edição deste ano?

Mantemos sete palcos. O Palco Nos é um palco novo. Já tínhamos o mesmo equipamento há uns anos. Pedimos ao nosso fornecedor para construir um novo. Este tem pormenores técnicos que facilitam as exigências dos músicos. A tecnologia e os equipamentos que os artistas trazem têm evoluído desde 2007 até hoje. Temos que nos adequar.

O recinto principal já está verde. Já tem relva. Está em bom andamento. Já só falta uma semana e está tudo a ficar pronto para receber mais três dias de festa e fazer com que toda a gente que nos visita passe aqui bons momentos. As previsões do tempo também são boas com máximas de 27 graus. Para a noite convém trazer um agasalho.

Quantos artistas ao longo dos três dias?

Serão 107 artistas. O palco Comédia vai ter um artista que fará uma instalação de arte. No ano passado foi o Bordalo II. O artista de arte urbana deste ano vai ser revelado para a semana. Temos um outro artista a trabalhar uma intervenção no palco Nos. Tentamos sempre surpreender os festivaleiros. O EDP Fado Café está muito forte também. Aumentámos um pouco a área. Cerca de 25%…

Ainda há bilhetes?

Ainda há para todos os dias. Mas, como começámos a conversa, nós próprios fazemos concorrência ao Nos Alive. O primeiro e o segundo dias estão próximos de esgotar. Acho que chegamos lá.

Texto de Maria João Lima

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