«A transição e transformação digital das empresas é uma prioridade»
No primeiro semestre do ano, os domínios registados em .pt atingiram um recorde histórico sendo a face visível da digitalização das empresas e dos negócios que, neste período de pandemia, procuraram contornar os efeitos do confinamento.
No total, contabilizaram-se 49.985 novos registos em .pt, mais 10.423 do que no primeiro semestre de 2019, o que corresponde a um aumento de 26,35%. Abril foi o mês que apresentou o maior crescimento face ao período homólogo – 66,64% – bem como o maior número de novos domínios: 10.137 no total.
Luísa Ribeiro Lopes, presidente do Conselho Directivo do .PT (entidade que gere o domínio de topo nacional, o .pt), em conversa com a Marketeer defende que há que levar as pessoas para o digital, mas ajudá-las a fazer uma utilização avançada da internet.
A pandemia está a ser, de facto, um potenciador da digitalização dos negócios?
O País entrou em confinamento em meados de Março e, nessa altura, começámos logo a notar o crescimento dos pedidos de domínios. O mês de Abril é o mês com maior crescimento, com cerca de 67% de crescimento relativamente ao ano anterior. São números que têm de ser explicados pelo facto das empresas terem uma necessidade muito grande de poderem ter contacto com os seus clientes habituais, mas também poderem alavancar o seu negócio, uma vez que estavam, fisicamente, impedidas de o fazer. Mas todo o semestre é de crescimento. Temos 26,3% de crescimento no primeiro semestre de 2020. Posso-lhe dizer que em meados de Agosto [a conversa foi no dia 19], já ultrapassámos em mais de 500 domínios os números totais de Agosto de 2019. Portanto, esta tendência vai continuar. Notamos que abrandou o crescimento, os 67% de Abril não se repetiram, mas continuamos a crescer sempre acima dos 20% o que significa que esta tendência veio para ficar.
O .PT tem contactado as empresas no sentido de explicar – principalmente às pequenas e médias empresas, muitas vezes geridas por gerações mais velhas e menos abertas à tecnologia – as vantagens da presença online?
Sem dúvida. Este é um trabalho conjunto. Neste momento, sabemos que existe da parte do Governo de Portugal uma aposta muito grande na transição digital. Tanto assim é que dentro do Ministério da Economia existe uma secretaria de Estado dedicada à transição digital. A transição e transformação digital das empresas é uma prioridade quer do nosso à País, quer em termos europeus. Aliás, o plano de recuperação mostra mesmo a importância de olharmos para a transição digital como uma área estratégica de crescimento que precisamos todos, em conjunto – a Europa e o Mundo – de fazer crescer.
Há aqui uma conjunção de uma necessidade das empresas estarem online, mas também de tornar os cidadãos portugueses com maiores competências digitais. Sabemos que Portugal, em termos de competências digitais dos cidadãos, não está bem posicionado a nível europeu. O índice composto da economia digital (DESI) mostra-nos que cerca de 20% da nossa população nunca utilizou a internet. 20% é muita gente! E neste momento em que necessitamos tanto de utilizar a internet como meio de comunicação, de trabalho, de aceder à escola e aos estudos… A aposta nas competências digitais tem de ser de todos.
O .PT para além da missão de ser o domínio de topo de Portugal, nos últimos anos, tem vindo, com outras entidades, a incentivar estas competências digitais dos cidadãos com vários programas.
Temos que trazer as pessoas para o digital, mas também temos de fazer um trabalho em termos da utilização mais avançada da internet. Isto tem a ver não só com o acesso, mas também fazê-lo com segurança e confiança. Dispararam os números das vendas online, portanto estamos mais susceptíveis a ter algum ataque em termos de compras e pagamentos online. São situações às quais o consumidor tem de estar atento. Se temos muito mais gente a utilizar a internet, temos de fazer este trabalho de sensibilizar para a segurança online.
Quais são os maiores erros cometidos pelas empresas neste processo e que podem servir de alerta para as que ainda não têm domínios criados?
Não fazemos um diagnóstico preciso relativamente a cada projecto que é colocado em .pt. Mas aquilo que alertamos é para a necessidade que as companhias têm de ser empresas de confiança junto do consumidor. Nesse sentido temos, por exemplo, o selo Confio.pt em que os sites são avaliados por forma a tornarem-se de mais confiança e mais seguros para o consumidor através da utilização de protocolos de segurança ou de centros de arbitragem de consumo. É um projecto tripartido: do .PT, da DECO e da ACEPI. No fundo, traz as empresas para o digital, mas com confiança.
O que as empresas querem é ter clientes e os clientes, hoje, são mais exigentes. Ao darmos mais competências digitais estamos a tornar os cidadãos e os utilizadores de internet mais exigentes. Logo, quando navegamos na internet e procuramos um site para fazer uma compra online, temos determinados parâmetros que procuramos. Não o fazemos em qualquer site.
Qual acredita que será a média de crescimento de domínios este ano?
Se me perguntasse há um ano, diria que era impossível estar acima dos 20%. Ninguém imaginaria passar por aquilo que já passámos em 2020. Previsões são complicadas. A tendência é baixar um bocadinho relativamente ao que aconteceu nos meses de Março, Abril e Maio, mas manter um crescimento acima do que tínhamos previsto para 2020 que andaria à volta dos 10%. Temos vindo a crescer a dois dígitos que é uma coisa óptima e acredito que poderemos encerrar o ano com um crescimento à volta dos 20%.
Texto de Maria João Lima