«A transformação é intrínseca à inovação»

A tecnologia e a forma como esta se tem introduzido na nossa vida quotidiana é, sem qualquer margem para dúvida, o maior factor influenciador da inovação dos nossos tempos. Na maioria dos casos a tecnologia não surge nas nossas vidas de forma despropositada ou desconexa de um sentido de utilidade, de uma razão de ser crítica e importante nas vidas de todos nós. Seja para tornar um processo mais simples ou mais poderoso, seja para tornar possível o que antes era impossível ou mais rápido o que antes era lento, ou para permitir ver o que antes era invisível ou ouvir o que antes era silêncio.

As industrias criativas deveriam estar na linha da frente dos processos de inovação – a inovação é intrínseca ao seu nome – e, no entanto, muitas e muitos resistem a ver na tecnologia, no seu domínio e utilização o veículo para transformar esta indústria, para abandonar métodos e processos com décadas, que produzem soluções estafadas, com resultados insignificantes.

E não é adoptando a nova economia dos “likes” que uma marca está a inovar. Até ver só há uma que lucra com isso. Inovar passa por compreender as pessoas, os consumidores, as suas necessidades actuais, os contextos em que estas se manifestam, passa por descobrir e inventar a forma como uma marca pode tornar essas necessidades – que podem ser das mais básicas às mais subtis – em desejos satisfeitos. Passa por tornar simples o que é complicado, leve o que é pesado, divertido o que é chato, apaixonante o que é indiferente.

O festival de Cannes, com a postura vanguardista que lhe é esperada, reconheceu isto rapidamente, e o ano passado inaugurou a categoria de inovação, num formato, especial, para conquistar um prémio, os finalistas teriam de ir a Cannes defender o trabalho, a sua importância, utilidade e futuro perante um juri, como se da defesa de um tese se tratasse. O sucesso foi de tal ordem, que este ano, só um ano depois a organização decidiu fazer da inovação um festival próprio dentro do festival de publicidade.

Foi em boa hora, porventura inspirado pelas mesmas razões que o Clube de Criativos de Portugal decidiu juntar a outras tantas, a Curadoria das Tecnologias. Ter sido convidado para ser o seu primeiro curador por um período de dois anos é uma honra e privilégio que não poderia recusar. E tem sido com um imenso entusiasmo que tenho trabalhado para desenvolver iniciativas que têm um grande e nobre objectivo, sensibilizar todos os que trabalham nesta indústria – das agências aos clientes, dos mais jovens aos mais experientes decisores – que o sucesso passa inevitavelmente por inovar. E inovar não passa por trocar o “seis pela meia dúzia” como diz Fred Saldanha, Chief Creative Officer da Isobar Brasil, é também um processo de destruição criativa, passa por abandonar o conforto das soluções feitas e testadas, passa por correr riscos é verdade, mas com eles obter os maiores ganhos, ocupar o lugar dianteiro, fazer a diferença. Uma expressão comum, que todos usamos todos os dias, mas quem faz realmente a diferença são apenas os que fazem diferente.

Não se faz nada de diferente sem transformar os meios, os métodos, a forma e o feitio. Não se faz nada de diferente sem nos transformarmos. A transformação é intrínseca à inovação e por isso as primeiras iniciativas da curadoria concentraram-se em apresentar exemplos e caminhos para a transformação.

Fred Saldanha (Chief Creative Officer da Isobar Brasil) vem falar do caso que ganhou o primeiro leão de inovação em Cannes e como introduziu na sua agência uma cultura tecnológica e promotora da inovação.

Pedro Janeiro, foi convidado a falar do caso da Novabase, a maior consultora tecnológica nacional que por via de uma adopção de metodologias Design Thinking se transformou em cinco anos e ajudou os negócios de vários clientes transformarem-se também. Para além da palestra, Pedro Janeiro deu um workshop introdutório ao Design Thinking que esgotou em horas e contou com um grupo extraordinário de pessoas que de uma forma genuinamente interessada travaram conhecimento, ou consolidaram conhecimentos sobre este método de trabalho.

 

Texto de João Fernandes, Chief Creative Officer da Isobar Iberia

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