«A tecnologia de toque em espaços públicos irá crescer»

Num ano marcado pelo distanciamento social e pela recomendação de higienização frequente das mãos, importa perceber como uma empresa que nasceu em Portugal e se especializou no desenvolvimento de experiências interactivas e aplicações multimédia está a atravessar o momento de pandemia.

Miguel Oliveira, CEO da Edigma, esteve à conversa com a Marketeer e garantiu que a procura de soluções que ajudem a afirmar os negócios numa vertente digital disparou. O responsável diz ter indicadores que os faz acreditar que «a tecnologia de toque em espaços públicos, apesar de se estar a ressentir nesta fase, irá crescer a curto e longo prazo».

Numa altura em que o mundo tenta evitar tocar em objectos, de que forma tem a Edigma apresentado aos seus clientes soluções que não impliquem o toque?

A Edigma coloca, nos seus projectos físicos e digitais, o utilizador no centro da experiência. De uma forma resumida: a Edigma cria experiências que combinam o espaço físico com o espaço digital e que, em última análise, se traduzem em experiências humanas.

O toque é sem dúvida um elemento chave, com tudo o que ele representa, na realidade, é o conceito de “interacção”. O foco nos nossos projectos está nessa interacção que é criada no espaço em determinado momento e que frequentemente une o mundo físico e o mundo digital. A Edigma trabalha com mais tecnologias que possibilitam que essa interacção aconteça – como por exemplo a realidade virtual e aumentada, QR codes, o recurso a sensores/automatismos e até o reconhecimento de objectos – sem que seja necessário o utilizador tocar num ecrã.

Há estudos que apontam na direcção do crescimento da tecnologia por voz. É um caminho que a Edigma está a trilhar?

Enquanto empresa integradora, a Edigma tem vindo a acompanhar a evolução dos sistemas de reconhecimento por voz, sendo uma tecnologia que se está a afirmar e com a qual os utilizadores começam a estar mais familiarizados. Sendo necessária a sua utilização, a aplicação deste recurso acontecerá de forma natural.

A obsessão com a limpeza tornou-se uma característica do novo consumidor da era Covid-19. Quais as ofertas da marca a este nível e como tem o cliente e o consumidor final reagido a esta oferta?

A preocupação com a limpeza é incontornável e transversal quer numa perspectiva de negócios, quer numa óptica particular. Esta preocupação transcreve-se na necessidade de aumentar o sentimento de segurança face a um inimigo difícil de identificar.

A Edigma tem no seu ADN a transformação, sabemos que esta é uma característica indispensável na evolução das empresas. Com o aparecimento da pandemia rapidamente fizemos uma introspecção ao negócio de forma a compreender quais os recursos e conhecimento que podíamos alocar de forma a contribuir para um Mundo mais seguro.

Assim surgiu o Sanus, um equipamento de dispersão automática de álcool gel que tem associado um ecrã digital que oferece um serviço de digital signage para promoção de conteúdo de sensibilização e/ou promocional.

Simultaneamente a nossa plataforma de gestão de atendimento, lançada este ano, rapidamente se reconfigurou para um novo paradigma onde as filas são geridas de forma virtual, sem necessidade de contacto com dispositivos físicos para além do telemóvel pessoal de cada utilizador.

Tencionamos ainda antes do final do ano apresentar ao mercado um novo produto, acessível, que visa garantir a segurança de todos.

Têm sentido uma procura maior por outro tipo de soluções? Quais?

A procura de soluções que ajudem a afirmar os negócios numa vertente digital disparou. Este é um fenómeno que todos temos vivenciado no nosso dia-a-dia, existe uma proliferação da oferta suportada em canais virtuais, que vai desde as entregas de qualquer produto ao domicílio que são acompanhadas em tempo real em aplicações, até à emissão em directo de conferências que até então seriam realizados exclusivamente de forma presencial.

No que à Edigma diz respeito, esta procura reflecte-se nos pedidos de soluções mais disruptivas, como forma de diferenciação, mas que acabam por acrescentar camadas com valor aos negócios. Falamos por exemplo da utilização da realidade aumentada em cenários de retalho ou a adopção de realidade virtual por espaços de património e cultura como forma de disponibilizar e potenciar o conteúdo junto do seu público, sem que para isso tenham de se deslocar ao local.

O turismo e respectivos equipamentos culturais viram em 2020 o pior ano de que há memória. Que impacto teve a pandemia e o abrandamento do turismo nos projectos que estavam em desenvolvimento na Edigma?

A Edigma, na sua vertente de consultor na concepção e implementação de espaços e experiências, opta por manter um acompanhamento próximo de todos os clientes, desde os projectos já implementados passando pelos novos até aos potenciais clientes. Sentimos que os projectos em desenvolvimento conseguiram manter o planeamento definido, dentro das contingências.

Mas acima de tudo sentimos que os decisores destes espaços mantêm uma atitude positiva e encaram como uma oportunidade de reinventarem a sua oferta cultural e turística.

Por outro lado, a gestão digital de filas deve estar a atravessar um bom momento. Em que áreas sentiram um crescimento destas propostas?

A gestão de filas é uma das soluções que falamos que serve como ferramenta de melhoria da experiência do visitante, no acesso a qualquer espaço de retalho ou de prestação de serviços. Hoje vemos filas em locais onde antes seria impensável. Ter um acesso controlado a um espaço comercial é hoje uma realidade.

Um software de gestão de filas bem desenhado, permite que os diferentes comerciantes possam gerir as filas e os acessos de forma rápida e eficaz e até automatizada em alguns casos. Os dados que são gerados vão tornando o sistema cada vez mais eficiente, o que permite libertar os recursos humanos para outras funções.

Coincidentemente, esta tem sido uma aposta forte da Edigma ao longo dos últimos tempos, com a criação de uma empresa – MoviiK – dentro do grupo, focada no desenvolvimento de uma plataforma robusta de gestão de fluxos. O período que atravessamos permitiu solidificar a solução com novas funcionalidades capazes de garantir uma visita facilitada e mais agradável a qualquer espaço, como é o exemplo da possibilidade de obter senhas virtuais através do smartphone, atrasar a chamada caso seja necessário, agendamento de visitas com pré-marcação e até uma chamada completamente automatizada com integração de sensores de movimento.

Esta abordagem ao mercado permite ao grupo ter uma actuação mais holística dentro do digital signage e dos espaços experienciais, que vai desde a empresa integradora Edigma, passando pela Moviik de desenvolvimento de software até à empresa produtora de tecnologia Displax.

Pelos desafios que a pandemia veio impor, a procura pela solução de gestão de fluxos está a ser sentida fortemente nas áreas de retalho, turismo e saúde. Com projectos deste âmbito já implementados em Portugal e no exterior.

Qual a evolução do volume de negócios de 2020 quando comparado com o mesmo período de 2019?

À semelhança da generalidade do tecido empresarial, a Edigma sentiu necessidade de rever os seus objectivos devido aos constrangimentos da pandemia. Este está a ser um período desafiador que nos permitiu trilhar novos caminhos e procurar novas oportunidades, passando inclusivamente pelo lançamento de novos produtos.

Face ao período homólogo estamos, felizmente, acima do valor estimado com previsão de fechar o ano com melhores resultados.

Como vê o futuro da tecnologia touch no curto e no médio prazo?

Temos indicadores que nos fazem acreditar que a tecnologia de toque em espaços públicos, apesar de se estar a ressentir nesta fase, irá crescer a curto e longo prazo.

Constatamos que as pessoas estão muito consciencializadas para o risco de contágio através do toque, contudo frequentemente identificamos situações em que os visitantes preferem deslocar-se ao um self-service kiosk e interagir com uma máquina onde posteriormente podem higienizar as mãos em detrimento de serem atendidos por outra pessoa e aumentar esse risco de transmissão. O exemplo que já vem sendo um clássico são os self-order kiosks de uma cadeia de restaurantes de hambúrgueres.

O facto de esta tecnologia permitir novas experiências, agilizar transacções rápidas, um eficiente acesso a informação, ser cada vez mais acessível, fácil de integrar e mais segura que uma interacção entre pessoas, vem suportar o crescimento da sua adopção nas diferentes interfaces.

Estamos já a assistir a uma reformulação acentuada dos players na área do retalho, que demonstram que a necessidade de se reinventarem está a ser impulsionada nesta fase.

Uma maior procura por soluções tecnológicas que permitem conectar o mundo físico e o digital junto de empresas especializadas, como é o caso da Edigma, na criação de experiências optimizadas está a impulsionar a indústria para o próximo nível de comércio. A boa notícia é que acumulamos ao longo dos anos o conhecimento, as ferramentas e os profissionais capazes de dar resposta a esta necessidade.

Texto de Maria João Lima

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