A Sustentabilidade no Webdesign
Por Sara Lourido, Development team leader, Grupo Republica45
Sustentabilidade e Webdesign são duas palavras que parecem não fazer sentido juntas. No entanto, ao longo deste artigo, vou demonstrar-lhe como podem ser complementares.
Possivelmente está a ler sobre este tema pela primeira vez, porém já existem artigos desde 2012 a alertar-nos para o impacto da pegada de carbono da Internet. Naquela altura, esta já estava a crescer fora de controlo, com cerca de 830 milhões de toneladas de CO2 por ano. Estes níveis de poluição já eram maiores do que a totalidade de poluição proveniente da indústria de aviação.
Isto não quer dizer que trocar a Internet por viagens de avião vai compensar a nossa pegada ecológica, mas, numa altura em que o aviso “Code Red à Humanidade” foi lançado pelas Nações Unidas, temos que começar a ponderar o nosso papel enquanto criativos, designers, webdesigners e consumidores no geral para a construção de um futuro mais sustentável.
Talvez a parte que mais o tenha chocado no parágrafo anterior tenha sido o facto de a internet ser uma fonte de poluição. Por norma, todos começamos o dia da mesma forma, trocamos emails, mensagens, chamadas e experiências através de ecrãs que nos permitem estar conectados. No entanto, o que a maior parte das pessoas não sabe é que estes pequenos gestos, que parecem inofensivos, são na verdade um conjunto de ameaças para o nosso planeta. Sempre que enviamos uma mensagem, são emitidos alguns gramas de dióxido de carbono necessários para manter a performance das redes sem fios. Alem destes, não podemos descartar também a necessidade de energia que é necessária para alimentar os nossos ecrãs. Sei que muitas pessoas pensam que não é uma mensagem que vai acabar com um mundo, contudo, já 4,1 biliões de pessoas (53,6% da população global) estão conectadas hoje. Ou seja, esses pequenos fragmentos de energia, e os gases de efeito estufa associados a cada actividade online, são multiplicados.
Assim, a pegada de carbono dos nossos dispositivos, da internet e dos respectivos sistemas de suporte representa cerca de 3,7% das emissões globais de gases do efeito estufa, de acordo com algumas estimativas.
A plataforma Sustainable Web Manifesto concluiu que se a Internet fosse um país, seria o 7.º mais poluente do mundo. Estes números não podem continuar a avançar. Por isso, está na hora de nos tornamos as próximas “Gretas” da Sustentabilidade na Web e mudarmos a nossa atitude perante a tecnologia a que tanto nos habituámos.
Como conseguimos então fazer a nossa parte para continuar a criar produtos e serviços sem perder a qualidade de performance? De que forma conseguimos medir tudo isto de modo a assegurar que estamos num bom caminho? Não se preocupe, eu talvez tenha algumas respostas.
A criação de um website, por mais simples que pareça, tem muitas camadas de desenvolvimento, e é exactamente por aqui que temos de começar a procurar alternativas. Primeiro, o alojamento. Já existem empresas com uma componente de sustentabilidade nos seus princípios orientadores. Contudo, segundo a Green Web Foundation ainda não existem registos destas empresas em Portugal. Isto significa que nenhuma empresa nacional cumpre os requisitos de utilização de energia renovável ou que assuma o compromisso de ser carbon neutral. Estes já seriam passos importantes para o início de uma transformação sustentável.
Consideremos também que numa sociedade globalizada, onde a utilização da Internet não mostra sinais de diminuição, temos a obrigação de tornar os websites mais eficientes. O segundo passo para um caminho mais sustentável será então a redução do peso de cada página. Se começássemos a optimizar as imagens e vídeos que publicamos, poderíamos poupar pequenos níveis de energia que aplicados ao total, ao elevado número de utilizadores, se traduziriam em reduções consideráveis do consumo.
Até na própria decisão da tipografia e das cores, a sustentabilidade tem uma palavra a dizer. A escolha de uma fonte de sistema será sempre a melhor opção, de forma a exigir zero pedidos ao servidor e nenhuma transferência de dados. Mas e se não quiser ser limitado nesta escolha? Utilize a fonte que sempre sonhou para os títulos e subtítulos e recorra a fontes de sistema para o corpo de texto.
Adicionalmente, já pensou se o utilizador tem facilidade em encontrar o seu website? Quanto mais fácil for encontrar o seu site menos recursos serão utilizados! Assim, se optimizar o seu website, melhor será a experiência do utilizador através da manutenção de designs claros e de fácil compreensão, de preocupação com a diminuição de tempo de loading e optimização para mobile que lhe confere mais hipóteses de melhorar o seu ranking nos motores de busca.
Último passo: como saber que conseguiu reduzir a pegada do seu site? Muitos websites podem ser verdadeiros aliados para medir o seu impacto. Por exemplo, pode utilizar o GTMetrix para medir a velocidade de loading ou o Ecograder para ter uma avaliação geral da performance, design e experiência do utilizador. Onde encontrar bons exemplos? Comece por investigar websites como o Rights4children ou a agência Wholegrain Digital, que o vão ajudar a perceber que não tem que comprometer o seu design nem o que idealizou para ser sustentável.
Apesar de parecerem simples, sei que estas mudanças não se fazem do dia para a noite. Porém, se não conseguirmos dar resposta agora aos problemas da sustentabilidade actuais, teremos problemas que podem não ter resolução no futuro.
Por isso, mãos às obras, “Gretas” do mundo digital! Não precisamos de sair da secretária para fazer a nossa parte e a desculpa de não saber por onde começar já não existe.