A Pandemia veio sem avisar, não marcou hora nem lugar… …..e até quando com o isolamento teremos de lidar?
No decorrer de dias preenchidos de inúmeras famílias com crianças em idade escolar, onde muitas vezes se cruzam actividades profissionais e pessoais, assistindo-se a um corre, corre de trajectórias, de casa para a escola, da escola para o trabalho, do trabalho para a escola e para a ginástica, para a música ou o futebol, onde os dias são pautados por encontros entre amigos/colegas, convívios familiares e inúmeras interacções que não se esgotam e por vezes intensificam-se aos fins de semana com actividades de lazer, eis que somos assolados por uma situação atípica que nos impede de continuar nos mesmos moldes a desfolhar os diferentes capítulos de nossas vidas.
Quando o inesperado acontece
A Pandemia chega, instala-se e tendo em consideração a situação de emergência e o combate ao vírus, somos impelidos ao cumprimento de medidas específicas que passam não só por medidas preventivas da infecção, como por exemplo, o reforço da higienização das mãos, a adopção de medidas de etiqueta respiratória, o evitar a partilha de objectos pessoais (ex. telemóvel) e de material escolar (ex. lápis, canetas), o evitar levar as mãos à cara (olhos, nariz e boca), entre outras medidas no mesmo âmbito, até situações de isolamento, distanciamento social que objectivam o combate ao vírus, ou seja, a contenção da sua propagação e a promoção da protecção e manutenção da segurança de todos.
As famílias vêem-se assim assoberbadas na conciliação de tarefas, na gestão de compromissos pessoais e profissionais, na disponibilidade para a prestação de atenção devida aos seus filhos, entre outras responsabilidades que possam deter. A estes vectores podem ainda acrescer sentimentos de ansiedade, angústia, medo, preocupação, tristeza, incerteza, falta de esperança, solidão, advindos normalmente da situação de isolamento. Nesta mudança abrupta do quotidiano as casas ganham mais vida, som, luz e cor podendo ilustrar-se num palco contemplativo de múltiplos cenários. Contudo, tratando-se em concreto de famílias com crianças em idade escolar, são inúmeros e complexos os desafios que desde logo começam a desenhar-se exigindo capacidades de compreensão, tolerância, flexibilidade e muito amor, essenciais ao processo de adaptação, da implementação e gestão de novas rotinas e da promoção do bem-estar físico e psicológico de todos os elementos.
Neste sentido, tendo em consideração que cada família é uma família, detentora de características muito próprias e que cada criança encerra em si as respectivas singularidades, procuraremos apenas partilhar algumas dicas/estratégias gerais (baseadas na conciliação de informação advinda quer de diversos autores como de instituições oficiais como a Direcção-Geral da Saúde, a Ordem dos Psicólogos Portugueses, entre outras fontes fidedignas) que podem apresentar-se úteis para ajudar pais e crianças a lidar com a situação de isolamento.
Dicas para ajudar a lidar com a situação de isolamento
No momento actual, pelo qual atravessamos, é crucial que todos tenhamos em mente que fazemos parte integrante do combate à Pandemia e que cada um tem um papel activo na manutenção e promoção da segurança própria e dos que estão ao nosso redor. A nível mundial, são reconhecidos inúmeros esforços não só por parte dos profissionais de saúde, governantes, comunidade científica entre outras áreas e grupos profissionais que se encontram a trabalhar incessantemente na demanda de encontrar uma solução para a situação pandémica. O isolamento pode apresentar-se assim como uma situação temporária que faz parte integrante para ajudar no combate à pandemia tendo em vista o bem-estar colectivo. Neste sentido, há que reforçar a esperança, manter expectativas positivas, concentrando-nos na convicção de que seremos capazes de ultrapassar esta adversidade.
Aspectos a considerar ao falar da Pandemia com as crianças
É com este sentimento de que a união de esforços por parte de diferentes profissionais está e continuará a ser essencial para a promoção da saúde, bem-estar físico, psicológico e segurança de todos, que numa comunicação simples, clara e objectiva, a informação relativa à pandemia (explicação sobre o vírus, vias de transmissão/contágio e respectivas medidas preventivas) deverá ser adaptada e transmitida de forma tranquila às crianças tendo em real consideração a sua idade e respectivas características. Para além da promoção da esperança e de sentimentos de segurança, a comunicação e respectiva mensagem também deverá ser contemplativa e promotora da sensação de autoeficácia, no sentido de que cada criança também pode estar implicada e ajudar no combate à situação pandémica. Deste modo, as crianças serão sensibilizadas à adopção de determinados comportamentos essenciais à contenção da propagação do vírus e concomitantemente promotores do bem comum (como, por exemplo, a lavagem das mãos, a adopção de medidas de etiquetas respiratória, a prática de exercício físico, a adesão a uma alimentação saudável, para além da situação de isolamento, podendo simultaneamente expressar maior receptividade a estratégias cooperativas e colaborativas promotoras de comportamentos pró-sociais e pró-saúde). Ainda que cada criança, à semelhança dos adultos possa reagir de maneira diferente à situação de isolamento, é fundamental que os pais se certifiquem que a mensagem foi amplamente compreendida (no caso de crianças mais velhas/jovens, certificarem-se de que dispõem de informação credível), abrindo espaço ao diálogo, ao esclarecimento de dúvidas e à eventual manifestação de medos, angústias, ansiedade, por parte das crianças. Importa estar disponível à comunicação e esclarecer as questões solicitadas pela criança por forma a conceder-lhe a sensação de calma, tranquilidade e segurança. Desta feita, os sentimentos das crianças devem ser alvo de atenção e compreensão por parte dos pais, podendo ser acalentados pela promoção de momentos de convívio em família, actividades em conjunto de diferentes índoles, partilhadas por pais e filhos que podem apresentar-se enriquecedoras no fortalecimento de vínculos; momentos de brincadeira colectiva; prática de exercício físico e/ou de relaxamento em família, são meros exemplos por entre inúmeras actividades transversais às diferentes gerações. Simultaneamente, importa não só a manutenção do contacto de proximidade com pessoas significativas para as crianças, como reforçar a percepção de apoio social e a respectiva conexão à rede social de suporte (promotora entre outros factores, da partilha de experiências e da compreensão emocional) através da utilização da tecnologia, mais especificamente a realização de chamadas e/ou videochamadas, por exemplo, para com familiares e amigos. Ainda no que respeita à comunicação, importa limitar a exposição de crianças às notícias sobre a pandemia, uma vez que estas podem fazer despoletar um aumento de preocupação e ansiedade. Não obstante o facto de que a comunidade em geral deverá manter-se actualizada sobre a situação pandémica, os próprios adultos deverão concomitantemente não só seleccionar fontes de informação fidedignas, advindas de entidades oficiais, como reduzir a exposição a conteúdos geradores de ansiedade, angústia e preocupação. Quando nos referimos a crianças mais velhas/jovens apela-se ainda à prevenção de comportamentos de risco, mediante a sensibilização e o alerta para os perigos advindos do consumo de substâncias não só numa situação dita normativa como em períodos caracterizados por uma pandemia, uma vez que alguns deles podem não só colocar-lhes numa situação de maior vulnerabilidade como não se apresentam, de todo, como solução para lidar com o problema.
Organização e Planeamento são as palavras-chave
A situação de isolamento induz ainda, inevitavelmente, a uma reorganização do quotidiano familiar, e à necessidade de equilibrar os compromissos escolares das crianças, actividades de lazer e muitas vezes a actividade profissional dos pais (não só os que estão em teletrabalho como em regime de turnos ou rotatividade) e conjugá-los com os momentos em família e as actividades de foro doméstico. O desafio de conciliação de múltiplas tarefas é complexo, mas a implementação de rotinas poderá ser essencial e apresentar-se como uma grande ajuda e mais valia para as dinâmicas das mesmas. A elaboração de uma rotina familiar semanal poderá constituir-se, desde logo, uma actividade familiar que convida à colaboração e cooperação de pais e filhos na organização dos diferentes momentos do dia a dia, podendo deste modo, ilustrar-se no preenchimento de um plano ou horário contemplativo de períodos de tempo limitados, relativos a aulas online, ao estudo(que deverá integrar por si momentos de pausa), momentos de lazer, actividade física, actividade em família, refeições, actividades individuais, momentos de descanso, contactos com familiares e amigos, horas para deitar e acordar e outras actividades/tarefas que as famílias considerarem necessárias. Todos estes momentos poderão ser acordados com as crianças pelo que são passiveis de ser ajustados sempre que se considerar necessário. Os pais se assim o entenderem e dependendo das características da família, também podem incluir os seus tempos de trabalho. Para além disso, na demanda do cumprimento das rotinas é importante que os pais reservem um tempo diário para o autocuidado. Com esta actividade de planificação de rotinas pretende-se não só conferir maior segurança às crianças, na medida que pode ajudá-las a antecipar as suas tarefas diárias com a respectiva estruturação do seu dia, como tende a apresentar-se promotora do cumprimento do compromisso efectuado em família. É ainda aconselhável, se possível, a diferenciação/delimitação de espaços, nomeadamente o espaço de estudo/trabalho, do(s) espaço(s) de lazer.
Apoiar a aprendizagem à distancia através de parcerias
Ainda no que respeita ao processo de ensino-aprendizagem, importa realçar que ao desafio emergente da situação de isolamento vivida pelas crianças em idade escolar, acrescem períodos de adaptação a uma nova realidade patente ao ensino à distância que em muitos casos pode envolver a necessidade de pesquisa, treino e exploração de novas ferramentas e plataformas e incitar a momentos de ansiedade. Mais uma vez apela-se à compreensão, cooperação e empatia por parte de educadores naturais e profissionais. Perante a actualidade, o estabelecimento de parcerias entre pais, professores e técnicos especializados poderá apresentar benefícios para a promoção do processo de ensino-aprendizagem na medida em que para além de permitir um sentido de difusão de responsabilidades, confere a confluência de várias perspectivas sobre a educação, sendo ilustrativo dos papeis desempenhados pelos diferentes agentes educativos. Com o intuito da promoção do sucesso escolar das crianças e de acordo com as especificidades da idade, os pais podem impulsionar a promoção de métodos e técnicas de estudo, a gestão autónoma do próprio estudo, podendo implementar estratégias de monitorização/supervisão do mesmo, motivar para as aprendizagens e conferir suporte/apoio emocional.
Juntos na adversidade
A situação de isolamento coloca assim em evidência muitas dificuldades, enormes desafios pessoais e colectivos, podendo ilustrar-se em cenários onde concorrem uma multiplicidade de pensamentos e emoções, de cariz mais positivo ou negativo, contudo, importa lembrar que pode ainda ilustrar-se numa oportunidade de crescimento em conjunto. As famílias podem assim crescer na união e cooperação de todos os seus membros uma vez que são impelidas a desenvolver novas competências para lidar com a adversidade que tornarão indubitavelmente as suas relações mais fortalecidas. Ainda que sentimentos de angústia, medo e tristeza possam emergir nas crianças, lembre-se que a promoção da esperança, de acções positivas de responsabilidade social, como a elaboração e a oferta de um simples desenho a alguém, podem faz a diferença, a par da calma e da percepção de segurança. Vamos todos estar atentos não só às crianças como aos familiares, amigos, vizinhos que estão ao nosso redor, afinal a realidade actual não é de todo fácil e cada um pode manifestar reacções díspares à mesma situação, esteja atento, disponível para escutar e auscultar necessidades, ser solidário, colaborativo, responsável, cooperante e sempre que considerar necessário, não se iniba de solicitar ajuda. Afinal, estamos todos a remar no mesmo sentido, somos parte activa de uma inúmera equipa que se debate incessantemente pela procura de soluções para o bem-estar colectivo, para um bem maior. Importa aceitar que as nossas vidas mudaram, há que construir significado do que aconteceu na demanda de que a situação de isolamento apesar das suas vicissitudes é temporária, mas que o crescimento pessoal, e colectivo e as aprendizagens dai advindas apresentam-se vindouras, tendendo a perpetuar-se pelas nossas vidas.
Artigo publicado pelo Sei – Centro de Desenvolvimento e Aprendizagem.
O Centro SEI é um espaço dedicado ao desenvolvimento e à aprendizagem em todas as etapas da vida humana. Somos uma equipa multidisciplinar de especialistas em dificuldades de aprendizagem (dislexia, hiperatividade e outros desafios do desenvolvimento). Para mais informações: www.centrosei.pt